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De braços dados com o mar

Graças ao projeto da prefeitura de Florianópolis, pescadores e maricultores estão mudando a maneira de se relacionar com a natureza: no lugar de simplesmente tirar do mar, eles agora produzem com o mar.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h03 - Publicado em 30 jun 2003, 22h00

Mariana Lacerda, de Florianópolis, SC

Ademir Alves dos Santos, de 47 anos, tinha 11 quando, com seu pai, ali mesmo na região de Ribeirão da Ilha, baía sul de Florianópolis, começou a pescar. Vive para o mar, onde já viu de tudo, até mesmo a pior parte: o peixe rarear. Quando a Super visitou Ademir, ele repetia sem parar: “É um sonho”. Dizia isso ao levantar do mar as lanterninhas cheias de ostras que ele mesmo aprendeu a cultivar. Outro sonho de Ademir também se tornaria realidade dali a poucos dias. Ele sairia pela primeira vez de Florianópolis com destino à cidade de La Rochele, na França. Ademir, um autêntico manezinho da ilha (gente boa, no jargão dos florianopolitanos), foi o maricultor escolhido para representar a categoria num intercâmbio técnico entre as prefeituras de Florianópolis e de La Rochele, região historicamente beneficiada pelo cultivo de ostras. “Quero aprender como eles fazem, mas também ensinar o que fazemos aqui, pois sei que não estamos muito atrás”, diz.

Ele é um entre os quase 700 pescadores e maricultores de Florianópolis que participam do projeto Desenvolvimento Sustentável da Maricultura, mantido pela prefeitura da cidade, uma alternativa de renda para quem já não conseguia mais se sustentar com a pesca. “Mudamos o conceito da atividade. De extrativista, o pescador passou a ser um produtor do mar”, afirma o engenheiro agrônomo Domingos Sávio Zancanaro, coordenador do projeto.

No último ano, a produção de ostras na região foi de quase 1,3 milhão de dúzias. O suficiente para impulsionar o turismo e fazer surgir charmosos restaurantes em Ribeirão da Ilha e em Santo Antônio de Lisboa, baías da Ilha de Florianópolis e com raízes na cultura açoriana. Os resultados mostram que a união faz a força. A Universidade Federal de Santa Catarina direcionou esforços para a pesquisa em aqüicultura e tornou-se fornecedora das chamadas sementes de ostra. O governo municipal criou um eficiente fundo de financiamento e o governo de Santa Catarina prestou assessoria técnica e logística. Pescadores e maricultores retalharam espaços nas águas da baía para o cultivo e se organizaram em cooperativa: tornaram-se empreendedores. Mudaram de vida. O feito é comemorado anualmente durante o Festival Nacional da Ostra e da Cultura Açoriana que, em outubro, entra na sua quinta edição.

Todos os dias, Ademir sobe numa pequena balsa para observar o desenvolvimento das ostras, separar as pequenas, recolher aquelas que estão adultas, repor sementinhas. Ao levantar do mar uma dessas lanternas, como se vê na foto, ele aponta para pequenos bichos, caranguejos e camarõezinhos que pulam fora. Atraída pelo ecossistema formado pelas lanternas, essa fauna voltou freqüentar a baía. “É o alimento dos animais maiores e, se estão aqui, é porque o peixe também está por perto”, afirma ele, coberto de razão.

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