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Essa flor não morre mais

A coleta predatória quase extinguiu a sempre-viva, flor endêmica de Mucugê. Graças ao esforço de pesquisadores, da prefeitura e da comunidade, a espécie símbolo do município baiano aos poucos volta a ocupar as áreas originais

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h03 - Publicado em 30 jun 2003, 22h00

Maria Fernanda Vomero, de Mucugê, BA

Houve um tempo em que Mucugê, na Bahia, ficou conhecida como a cidade da sempre-viva, uma florzinha pequena, de uso ornamental, que pode durar décadas depois de seca. Os platôs da Chapada Diamantina, na região do município, eram repletos de tufos de flores. Nos meses de maio a julho, época em que a sempre-viva atinge o ápice do florescência, havia uma febre na cidade. Muita gente montava acampamento nas serras para coletar quilos e quilos da flor. A venda de sempre-vivas complementava a renda da população, que sofria com a decadência do garimpo e era facilmente seduzida pela abordagem dos compradores de buquês. A coleta predatória, no entanto, colocou a sempre-viva à beira da extinção. E a espécie, endêmica de Mucugê, nem sequer havia sido descrita pela ciência.

O caso chamou a atenção da botânica Ana Maria Giulietti, pesquisadora da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Foi ela quem fez a descrição daquele tipo de sempre-viva pela primeira vez, em 1996, e alertou para os riscos de a espécie desaparecer. A coleta já estava proibida desde 1985, com a criação do Parque Nacional da Chapada Diamantina, nas proximidades do município, mas continuava de forma clandestina. Para envolver a comunidade na conservação da flor e definir um plano de manejo sustentável, a prefeitura de Mucugê elaborou o Projeto Sempre Viva, com apoio de recursos federais e estaduais.

A primeira medida foi delimitar a criação de um parque municipal, em 1999, que resguardasse as áreas remanescentes da flor, além de preservar outros recursos naturais. Jovens ex-coletores foram convidados a trabalhar no projeto e participaram do mapeamento das áreas de ocorrência da espécie e da implantação de um moderno sistema de informação geográfica. Hoje, são responsáveis pela manutenção do parque, aberto a visitantes, e por atividades de educação ambiental e ecoturismo. Além disso, pesquisas pioneiras de dois biólogos da UEFS tentam entender o ciclo da sempre-viva a fim de produzir mudas em laboratório e plantá-las no local de origem.

Atuais coordenadores do projeto, Euvaldo Ribeiro Júnior e Oremildes Alves Oliveira coletavam sempre-viva desde a infância. A experiência com a flor transformou-os em eficientes agentes de preservação. Da casinha que funciona como sede do projeto, na entrada do parque, olham com orgulho as trilhas ecológicas recuperadas e a arquitetura do local, que resgata a história dos antigos garimpeiros. “Aos poucos, vamos transformando a cultura extrativista numa cultura sustentável”, diz Oremildes. “Meu sonho é ver essa área repovoada de sempre-vivas.” Euvaldo também comemora a volta gradativa das florezinhas tanto quanto o envolvimento da comunidade com a causa ambiental, que agora traz novos frutos. “Mucugê é o primeiro município da região que tem coleta seletiva de lixo e uma usina de compostagem”, afirma. A sempre-viva voltou a ser símbolo – desta vez, do desenvolvimento sustentável.

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