Lagos de plástico
O pesquisador que forrou o chãocom plástico e descobriu assim umnovo jeito de fazer lagos
Maria Fernanda Vomero, de Sete Lagoas (MG)
Sete Lagoas, cidade de 200 mil habitantes a 60 quilômetros de Belo Horizonte, não tem esse nome à toa. Está encravada numa região de lagos, os grandes atrativos turísticos do local ao lado das grutas naturais. Mas há um passeio extra para o viajante que vai à cidade, uma atração única, que não aparece nos cartões postais ou nos guias turísticos: uma horta orgânica bem no meio de uma grande avenida. O visual é surpreendente: de uma ponta a outra, entre subidas e descidas, fileiras de pés de alface, couve, repolho intercalam-se com pequenos reservatórios hídricos, interligados e dispostos em níveis diferentes para aproveitar a gravidade.
A horta, que emprega 122 famílias, só existe graças a uma idéia tão simples quanto brilhante: estendeu-se em cada ponta da avenida um pedaço imenso de lona plástica comum e, por cima da lona, subiram dois lagos artificiais, abastecidos por água encanada. Sem a lona, a água sumiria na terra porosa do lugar. A idéia foi do engenheiro agrônomo Luciano Cordoval, da Embrapa local, vencedor do Grande Prêmio Super em 2003 e um apaixonado por açudes, como ele mesmo se define. “Buscava uma solução para manter a água ao lado das lavouras em lugares de solo poroso”, afirma. No caso da avenida, seria impensável construir um grande reservatório de concreto por conta dos fios de alta tensão – e os custos seriam muito mais altos.
Usando uma tecnologia barata, os lagos são úteis para a irrigação, o abastecimento de comunidades rurais, a piscicultura e, principalmente, como estações de tratamento de água. Luciano já espalhou 80 deles por todo o estado de Minas Gerais. Um bom exemplo são os do Frigorífico Chaparral, na cidade mineira de Divinópolis, que tinha sido multado por lançar os dejetos da matança diária de suínos e bovinos no rio. Luciano, chamado para resolver o problema, propôs a construção de três lagos, ligados por caixas de decantação, em degraus de 30 centímetros. O primeiro, com bactérias anaeróbias, serve para tratar o esgoto. O segundo e o terceiro são usados para decantar resíduos sólidos, que vão parar no fundo. Só então a água segue para o rio. As análises clínicas, feitas mensalmente, comprovam a qualidade do tratamento. “O custo foi baixo e a solução, eficaz”, diz um dos sócios do frigorífico, Amado José Tavares. E mais um córrego foi salvo.
Como ajudar
Fazendo um lago desses. Se você precisa de soluções baratas para tratar água ou irrigar uma lavoura, escreva para cordoval@cnpms.embrapa.br.