O Brasil das boas notícias
A segunda edição do prêmio avalia os projetos dos 49 finalistas que trabalham pela conservação do meio ambiente e pela inclusão social.
Maria Fernanda Vomero
Como é bom oferecer a você, caro leitor, 22 páginas repletas de boas notícias. E também partilhar a imensa satisfação que eu e os outros cinco jurados do Prêmio Super Ecologia 2003 tivemos ao constatar que existe, sim, um Brasil que funciona, que propõe e que resolve. Esse Brasil é movido por milhares de pessoas ligadas a organizações não-governamentais, universidades, empresas e órgãos do governo, que estão dispostas a trabalhar pela conservação do meio ambiente e pela inclusão social. Não importa se, a princípio, parecem solitários “percevejos heróicos” – como diria o poeta Carlos Drummond de Andrade – batalhando por causas aparentemente perdidas. Essas pessoas mobilizam outras, envolvem as comunidades locais e usam soluções criativas e eficientes para salvar um ecossistema, uma espécie animal, um rio ou a terra dos pequenos proprietários rurais do interior do país. Tais iniciativas merecem ser não só reconhecidas como divulgadas. É por isso que Super criou, ano passado, o Prêmio Super Ecologia.
Nesta segunda edição, recebemos 256 inscrições vindas de todas as partes do país. Mais uma vez, tivemos um árduo trabalho para selecionar os 49 finalistas com base em critérios rigorosos e demoradas reflexões sobre a importância de cada trabalho em seu contexto específico e em âmbito nacional. Apesar de difícil, a tarefa foi prazerosa. Ao lado de projetos grandes e bem estruturados, havia outros menores, fundamentados basicamente no idealismo e na perseverança, mas tão importantes e cativantes quanto os demais. Infelizmente, tivemos de cancelar uma categoria, AR-ONG, porque os poucos projetos inscritos não alcançaram os requisitos necessários para credenciá-los como finalistas.
Na segunda fase, a comissão julgadora entrou em cena (veja na página ao lado) para avaliar os 49 projetos, considerando a relevância, os resultados, a sustentabilidade e a inovação. Houve categorias em que a disputa foi acirradíssima, chegando a ocorrer votação em segundo turno entre os jurados para desempatar finalistas. Antes de confirmar os vencedores, seis repórteres viajaram pelo Brasil, acompanhados de inspirados fotógrafos, para visitar os projetos, checar todas as informações e ver se as boas idéias do papel estavam funcionando mesmo na prática. O melhor dessas viagens foi conhecer personagens de realidades tão diferentes quanto um agricultor do sul da Bahia e um maricultor de Florianópolis, um artesão do sertão potiguar ou um autêntico descendente de quilombolas, ouvir suas histórias e constatar como eles estão satisfeitos com os projetos que os alcançaram, lá no seu pedaço de terra ou no seu trecho de praia.
Foi-se o tempo em que proteger o meio ambiente significava passar uma tranca em torno de florestas e matas, como se estivessem numa redoma, e manter, a todo custo, o ser humano distante delas. Hoje, a proposta de desenvolvimento sustentável vem provar que o homem pode ser o principal agente de preservação da natureza e que a integração da comunidade com seu meio pode transformar positivamente uma área, salvar uma espécie, fazer brotar água do chão seco. Um dos grandes defensores dessa idéia era o ambientalista José Márcio Ayres, criador de duas reservas de desenvolvimento sustentável no estado do Amazonas. Ele seria o sétimo membro de nossa comissão julgadora, se o câncer não o tivesse levado. Pelo seu empenho e dedicação em prol de uma realidade socialmente justa e ambientalmente correta, a comissão julgadora decidiu conceder a ele o Prêmio Especial.
Por fim, o Grande Prêmio Super mais uma vez vai para um projeto da categoria ÁGUA. Como no ano passado, trata-se de uma proposta simples, criativa e eficiente para ajudar o Brasil a corrigir uma das maiores distorções que enfrenta: o país, que é a potência em recursos hídricos do planeta, ainda sofre com a seca e com a má distribuição da água. Boa leitura e, quem sabe, sua iniciativa esteja entre as boas notícias do ano que vem.