Jeanne Callegari
Essa foi a questão proposta pelo TED (Technology, Entertainment, Design), um evento anual que reúne os maiores pensadores do mundo – e, em novembro, teve sua primeira edição no Brasil: o TEDxSP. Os 34 palestrantes tentaram, cada um a seu modo, responder à pergunta acima. Confira as melhores ideias.
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Problemas
Denis Russo Burgierman, jornalista (e ex-Diretor de Redação da SUPER)
“O Brasil está cheio de problemas. E problemas são bons. Porque resolver problemas é o combustível da criatividade.”
Uma máquina de fazer água
Danilo Mendes, empresário
A escassez de água é um problema grave – e que tende a piorar nas próximas décadas. Mas e se houvesse uma maneira de fabricar água? Pode parecer uma ideia absurda, mas foi exatamente isso que a startup brasileira HNF Water fez: inventou uma máquina que gera sua própria água. Como? Ela condensa o vapor de água presente no ar. Simples e genial. A água gerada pela máquina, que parece um bebedouro comum, é potável e pode ser produzida em desertos ou em regiões secas – mesmo baixa, a umidade do ar nesses locais é suficiente para a condensação. O aparelho, que custa R$ 6 500, produz até 50 litros de água por dia. Ele já foi vendido para prefeituras da Bahia, que vão colocá-lo em escolas, e a empresa está negociando a tecnologia com a Arábia Saudita. A HNF Water também planeja fabricar uma máquina para uso doméstico, que faz 15 litros de água por dia, e uma para agricultores – que produz até 10 mil litros.
Um mar de números
Fernanda Viégas, designer de informação
As empresas, os governos, as instituicões e as pessoas geram cada vez mais dados, sobre tudo, a todo instante. Estamos vivendo na era da informação. Mas isso não é suficiente. É preciso dar sentido a esse oceano de números. É essa a tarefa da visualização de dados, que procura transformar as informações por meio de gráficos criativos e fáceis de entender. O site Many Eyes (www.many-eyes.com), criado pela brasileira Fernanda Viégas, é um exemplo disso. No site, é possível fazer o upload de dados para criar as próprias visualizações: gráficos bacanudos que deixam qualquer número fácil de entender.
A cura do câncer
Sandro José de Souza, biólogo
Os avanços da genética já estão revolucionando a medicina. A cada dia, fica mais barato mapear o genoma das pessoas, e isso vai significar diagnósticos mais precisos e tratamentos especializados para cada paciente. Isso você já sabe. O que você não sabe é que o Brasil hoje é uma referência em genética. Além de ser um dos únicos países a realizar seus próprios estudos sobre o genoma do câncer, é um dos líderes mundiais nisso – ultrapassando os EUA nos estudos genéticos sobre câncer de mama, estômago, cólon e próstata. Foi o que mostrou Sandro José de Souza, maior especialista do país em genômica do câncer.
A democracia via internet
Fernando Barreto, publicitário
Escolher um candidato já é difícil. E fiscalizar tudo o que ele faz depois de eleito, então… Mas o site Vote na Web, apresentado pelo mineiro Fernando Barreto, promete revolucionar as relações entre políticos e eleitores. No site (www.votenaweb.com.br), que já está no ar em fase beta, é possível acompanhar os projetos de lei apresentados pelos deputados e senadores, e ver como cada político votou em cada uma das propostas. O mais legal é que o eleitor pode votar em cada projeto, e assim comparar a sua opinião com as ações de cada político. Um mapa fácil de entender mostra a porcentagem de “sim” (quem concorda com o projeto) e “não” (quem discorda), tanto para cidadãos quanto para os legisladores. Dá para ver como votaram as pessoas por estado e também por sexo. Na prática, o site é um termômetro do que os cidadãos querem e uma forma fácil de acompanhar as votações na Câmara e no Senado. Sabendo com quais políticos a gente se identifica, fica mais fácil votar nas pessoas certas.
A cultura dos pobres
Regina Casé, atriz
Nossos governantes adoram a ideia de que é importante levar cultura até as classes mais baixas da população. E não estão sozinhos nisso: muita gente respeitável e bem-intencionada assina embaixo da proposta, que parece bastante razoável. O que toda essa gente não sabe é que não é preciso levar a cultura até a periferia; a periferia cria sua própria cultura (leia o texto ao lado, que fala sobre o tecnobrega, e você verá um ótimo exemplo disso). As políticas culturais só precisam incentivar o que já existe. Mas, então, o que impede que o governo e as entidades sociais incentivem a produção que fervilha nas favelas e morros? Para Regina Casé, uma das poucas pessoas a mostrar as manifestações culturais dos pobres na mídia de massa, a resposta é que esses gêneros não se encaixam em nenhum padrão estabelecido de bom gosto e bom senso. Ela deu exemplos de como a cultura do pobres é autossuficiente: diversos gêneros criados pelas classes baixas do Brasil, como o funk carioca, e de outros países, como o kuduru, em Angola, e o coupé decalé, na França. Esses movimentos são um produto genuíno e popular, que movimentam milhões. Mesmo sem apoio da mídia e dos governos, a arte e o entretenimento na periferia vão muito bem, obrigado.
Uma banana
Milena Boniolo, química
A química Milena Boniolo inventou um método revolucionário que elimina metais pesados da água – e, de quebra, dá alguma utilidade a parte do lixo que produzimos todos os dias. Milena percebeu que a casca de banana tem moléculas com carga elétrica negativa – que atraem os metais, cuja carga é positiva. Por isso, se você pegar cascas de banana no lixo, cortar, secar e triturar, obtém um pó que é um excelente descontaminante de rios: remove pelo menos 65% dos metais pesados da água. Além disso, o processo ajuda a resolver a questão do lixo, já que entre 20 e 40% da produção brasileira de bananas vai direto para os lixões.
O fim da pirataria
Ronaldo Lemos, advogado
Você já ouviu falar do tecnobrega? Esse gênero musical, que quase nunca aparece na mídia, é um dos mais populares do Brasil. Criado no Pará, ele é uma fusão das batidas eletrônicas com o brega. Mas seu grande diferencial é econômico: os artistas do tecnobrega não vendem seus discos em lojas – mandam direto para os camelôs, que podem pirateá-los livremente. E isso, por incrível que pareça, dá supercerto: os músicos ganham muito dinheiro com festas e shows. Como mostrou o advogado Ronaldo Lemos, diretor do projeto Creative Commons no Brasil, esse modelo pode ser uma saída para a crise da indústria fonográfica, que está sendo dizimada pela pirataria de música. Veja o exemplo do grupo baiano Fantasmão. Você provavelmente não o conhece, mas ele é um megahit: tem 810 comunidades no Orkut (6 vezes mais do que a cantora Mallu Magalhães, principal artista a ter surgido da web nos últimos anos), e seu clipe improvisado, que foi feito por fãs, 1 milhão de views no YouTube. Em vez de matar a música, a internet pode salvá-la.
Não sei
João Paulo Cavalcanti, pesquisador
Qual é o sonho do Brasil? Qual o propósito do nosso país? O que ele tem a oferecer? O pesquisador João Paulo Cavalcanti não sabe, mas decidiu descobrir: vai fazer um estudo com gente de todo o país e apresentar os resultados no TEDxSP de 2010. Segundo ele, responder a essa pergunta é uma questão urgente, pois o Brasil está no centro das atenções da comunidade internacional: Copa do Mundo, Olimpíada, reportagens de capa em revistas estrangeiras. Afinal, os outros países do Bric (termo que define os 4 maiores países emergentes do mundo) já acharam suas vocações. A Rússia é a pátria das ideologias, a Índia, dos recursos humanos, a China, da produção industrial. Resta descobrir a nossa. Um dos palpites de João Paulo é a curiosidade – uma característica natural do brasileiro. E você, o que acha?
Para saber mais
TED
https://www.ted.com
https://www.tedxsaopaulo.com.br