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O senhor da floresta

Com duas reservas de desenvolvimento sustentável na Amazônia, José Márcio Ayres revolucionou o conceito de área protegida

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h03 - Publicado em 30 jun 2003, 22h00

Bruno Leuzinger

Belém é a porta de entrada da Amazônia. Por seu porto fluvial passa toda a navegação que se destina ao interior da floresta. Foi nessa cidade que nasceu e cresceu José Márcio Ayres. Biólogo, especializou-se em primatas, viveu embrenhado na selva e foi o idealizador de duas reservas de desenvolvimento sustentável, no coração da mata, hoje lar de 10 mil pessoas. A Amazônia era seu mundo. Mas o encontro que mudou seu destino aconteceu longe de casa, do outro lado do Atlântico.

Segundo dos três filhos de Manuel e Iza Ayres, José Márcio foi sempre muito curioso, qualidade essencial para quem se aventura no universo da ciência. Além de inteligente, tinha ótimo senso de humor. “Ele adorava contar piada, passar trote”, diz a prima Ana Rita Alves. Quando criança, José Márcio passava férias na casa de Ana Rita, em Santarém. A convivência duraria toda a vida. A prima foi a primeira a saber de sua doença.

Na Faculdade de Ciências Biológicas da USP de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, destacou-se na área de primatologia. Logo recebeu convite para dirigir o zoológico municipal. Foi nesse cargo que, aos 19 anos, José Márcio viajou para a Alemanha. No zoológico de Colônia, viu pela primeira vez o uacari-branco, macaco endêmico da região do Médio Solimões.

O encontro o marcou profundamente. Anos mais tarde, o uacari-branco foi tema de seu doutorado, em Cambridge, Inglaterra. Para estudá-lo, José Márcio ficou dois anos isolado na Amazônia. Começou a surgir assim a idéia de uma área de proteção permanente para o animal. Ele fez contato com políticos, circulou por Brasília, e, em 1990, o estado do Amazonas criou a Estação Ecológica Mamirauá (EEM). O uacari-branco estava salvo.

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Mas havia um problema. A condição de estação ecológica não permitia a permanência das comunidades locais. Foi aí que veio a grande sacada. José Márcio sugeriu novo modelo de área protegida, em que a população ajudasse na conservação, usando os recursos naturais de forma controlada. A legislação foi alterada e, em 1996, a EEM tornou-se Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Dois anos mais tarde, foi criada uma reserva ainda maior chamada Amanã, que liga Mamirauá ao Parque Nacional do Jaú, formando o maior corredor de floresta tropical protegida do mundo, com 5,7 milhões de hectares.

“Marcinho era um visionário. Enquanto se discutiam problemas do presente, ele já olhava para o futuro”, diz Carolina Diniz, sua terceira mulher. Com a esposa anterior, Deborah Lima, teve dois filhos, Daniel e Lucas. Deborah o ajudou a criar Mamirauá, assim como Ana Rita, hoje diretora do instituto que administra as duas reservas.

Quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso visitou Mamirauá, em 1999, José Márcio conseguiu quebrar o protocolo com seu jeito brincalhão. Em pouco tempo, os dois riam juntos como velhos amigos. Pessoa simples, tratava da mesma maneira autoridades e gente do povo. Seu uniforme básico era camiseta, bermuda e sandálias. Era assim que se sentia feliz em sua floresta.

José Márcio passou o último ano e meio de vida em tratamento no hospital Mount Sinai, em Nova York. Nesse tempo, deixou os Estados Unidos apenas duas vezes. Uma para receber em Tóquio o Prêmio Rolex, um reconhecimento por seu trabalho inovador. A outra, quando voltou pela última vez a Mamirauá. Foram 15 dias no paraíso. A maior alegria foi ver que seu trabalho estava bem encaminhado. Em 7 de março de 2003, aos 49 anos, o cientista foi derrotado pelo câncer.

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