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Preguiça despatriada

A bióloga que resolveu salvar a preguiça-de-coleira da extinção, em meio à destruição de sua casa, a mata Atlântica

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h03 - Publicado em 30 jun 2004, 22h00

Mariana Lacerda, de Ilhéus (BA)

Todos os dias, a bióloga Vera Lúcia de Oliveira, a Verinha, recebe pelo menos um telefonema de alguém que ela não conhece. A população de Ilhéus e das cidades vizinhas sabe quem na região acolhe animais desgarrados, vítimas da caça, do comércio ilegal, do desmatamento. Quando aparece um bicho, ligam para Verinha. Na maioria das vezes, é para passar informações sobre alguma preguiça, já que Verinha está à frente do Projeto de Preservação do Bicho-Preguiça, mantido pela Comissão Executiva da Lavoura Cacaueira (Ceplac), vinculada ao Ministério da Agricultura. Ligam, por exemplo, porque há um filhote desgarrado da mãe, que foi morta ou vendida. Ou apenas para avisar que uma preguiça subiu na árvore. Ou, ainda, que desceu. Invariavelmente, Verinha, incansável, esperneia para conseguir um disputado carro do Ceplac que a leve até a origem da ligação. “Eu fico louca”, diz ela.

Foi exatamente o que aconteceu em 18 de maio, quando fui conhecer seu trabalho. Após seis horas de estrada, localizamos o roceiro Fernando Cardoso. A preguiça, que segundo Fernando sangrava no pescoço, não estava mais lá. Vera voltou desalentada e, excepcionalmente, em silêncio.

Ela estava preocupada por não ter conseguido tirar do perigo mais uma preguiça-de-coleira – espécie à beira da extinção que vive apenas no restinho de mata Atlântica entre a Bahia e o Espírito Santo. O silêncio no carro contrastou com o escarcéu que Verinha faz todo o tempo sobre a destruição da natureza do sul da Bahia, tido como o pedaço de maior diversidade por metro quadrado de toda a mata Atlântica, talvez do mundo. Essa riqueza vem sendo substituída pela desolação das plantações de eucalipto para fazer papel. As preguiças-de-coleira que chegam aos seus braços são um símbolo: mais uma espécie perdendo o lar. O mutum-do-nordeste, por exemplo já se extinguiu da mesma região antes que alguém pudesse, como Verinha, alardear que algo de muito errado estava acontecendo. Ela, portanto, tem mesmo razão para sentir-se louca.

Ainda assim, o esforço dá resultado: “Já passaram por aqui 226 preguiças e conseguimos devolver 122 à natureza”, diz Verinha. Mas, para que a charmosa preguiça-de-coleira tenha chance de se salvar, é preciso manter viva, mais que tudo, sua casa, sua pátria, a mata Atlântica.

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Como ajudar

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Para quem está no sul da Bahia, qualquer informação sobre a presença de um bicho-preguiça, em perigo ou não, é importante. Ligue para (73) 214-3228. Trocas de informações e experiências são bem-vindas pelo e-mail verinha@ceplac.gov.br.

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