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Saúde é só o começo

Para incrementar a renda da população local, o Saúde e Alegria abriu linhas de microcrédito e investe na formação de jovens empreendedores, ensinando o que é preciso fazer para montar e manter um pequeno negócio.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h06 - Publicado em 31 Maio 2002, 22h00

Rodrigo Cavalcante, de Urucureá, PA

Depois da chegada do Projeto Saúde e Alegria, as comunidades ribeirinhas no Estado do Pará jamais seriam as mesmas. Com atenção à saúde das crianças, uma visão ambientalmente correta e a preocupação de gerar renda e formar pessoas, a ONG revolucionou os vilarejos da floresta

Até pouco tempo atrás, quase nada nem ninguém chegava ao vilarejo de Urucureá. Os poucos barcos que navegavam por esses ermos do rio Arapiuns, distante quatro horas de Santarém, no Pará, sequer imaginavam que numa de suas enseadas marchava uma revolução silenciosa, pequena, mas forte o bastante para mudar para sempre a vida das 52 famílias que habitam essa margem do rio.

A revolução, que também veio pelo rio de barco, chegou junto com o primeiro circo montado na comunidade. A maioria das crianças de Urucureá nunca tinha visto um palhaço na vida. E como boa parte delas também nunca vira um médico, não estranharam quando o Gran Circo Mocorongo (mocorongo é quem nasce em Santarém) trouxe dicas de saúde e higiene como uma de suas atrações, em 1992. As mães aprenderam a fazer o soro caseiro para combater a desidratação, ganharam cloro para colocar na água, pedra sanitária para tampar a fossa. Efeito imediato: passaram a morrer menos crianças. “Ver uma criança morrer de um mal incurável é triste, mas ver uma criança morrer de uma doença simples como uma diarréia é inaceitável”, diz o médico Eugênio Scannavino Neto, o fundador do Projeto Saúde e Alegria, melhor ONG na categoria Comunidades do Prêmio Super Ecologia e um dos trabalhos que disputaram o Grande Prêmio Super.

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Foi da experiência prática de Eugênio e de sua ex-mulher, a educadora Márcia Silveira Gama, que nasceu o projeto. Em 1984, o casal foi contratado pela prefeitura de Santarém para dar assistência médica na área rural do município, envolvendo 800 comunidades que não contavam com nenhum tipo de ação em saúde. Em 1987, o Saúde e Alegria começou a atuar em 16 comunidades ribeirinhas extrativistas dos rios Amazonas, Tapajós e Arapiuns, distantes entre duas e 20 horas de Santarém. A partir de 2000, o projeto ampliou suas atividades para mais 14 comunidades localizadas na Floresta Nacional do Tapajós e hoje cobre uma área onde vivem cerca de 20 000 habitantes.

“Logo no começo descobrimos que saúde deveria ser apenas uma das etapas do trabalho”, diz Eugênio. “Para que os avanços fossem consistentes, era preciso trabalhar em outras frentes.” Em Urucureá, por exemplo, começou o trabalho para que as famílias diversificassem o roçado e passassem a plantar frutas e verduras – até então a base da alimentação se restringia ao peixe com mandioca. Surgiram hábitos alimentares mais saudáveis e menos desnutrição infantil.

Engenheiros florestais cuidam para que a agricultura de subsistência cresça ordenadamente, reduzindo as queimadas. “A comunidade é orientada a se organizar, a eleger líderes locais, e assim consegue sair da obscuridade e ganhar força para reivindicar melhorias no município”, diz Caetano Scannavino, irmão do fundador da ONG e um dos coordenadores do projeto. Hoje, Urucureá tem uma escola modelo que recebe alunos de outras regiões e a eletricidade vem de geradores de energia solar, conseguidos com o apoio do projeto. “O que dá mais trabalho é manter todo mundo unido”, diz Jacirene Rodrigues, líder do conselho comunitário local. “Mas, com o apoio do projeto, a gente tem mudado as coisas por aqui.”

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A sete horas de barco dali, na margem do Tapajós, a vila quase homônima de Suruacá já passou por várias dessas mudanças. As transformações são tão grandes que a prefeitura chegou a desconfiar do relatório do agente comunitário de saúde. “Eles estranharam os baixos índices de mortalidade infantil, achavam que eu estava mentindo”, diz Djalma Moreira Lima, o agente de saúde local. “Só depois perceberam que os números eram resultado de anos de ação do Projeto Saúde e Alegria.”

Muitas dessas ações são discutidas na Rádio Japinha (pássaro comum na região), um sistema de som com alto-falantes que também leva música e entretenimento para a comunidade. A rádio faz parte do programa de comunicação popular do Saúde e Alegria que conta também com o jornal O Mocorongo e a Rede Mocorongo de Televisão. “Até o pessoal do projeto chegar por aqui, a gente vivia isolado”, diz José Carmo, um dos moradores de Suruacá. A vila tem também sistema de tratamento de água e geradores de energia solar. Mais recentemente, ganhou uma usina de beneficiamento de frutas. “A idéia é produzir doces com as frutas daqui, seguindo padrões de higiene e qualidade para que possamos exportar no futuro”, diz Valcléia Lima, moradora e uma das responsáveis pelo projeto.

Para incrementar a renda da população local, o Saúde e Alegria abriu linhas de microcrédito e investe na formação de jovens empreendedores, ensinando o que é preciso fazer para montar e manter um pequeno negócio. A confecção de cestas de palha de tucumã, atividade tradicional das mulheres da região, passou a ser valorizada e exposta em outros mercados. “Antes, vendíamos as cestas quase de graça para atravessadores em Santarém”, diz Rosangela Castro Tapajós, eleita pelas mulheres de Urucureá para ser uma espécie de gerente de vendas do artesanato local. Com o apoio da ONG, ela já expôs o trabalho em São Paulo, Brasília e até Nova York – numa feira no World Trade Center, em 1998. “Só há alguns dias soube que o prédio onde eu estava caiu”, diz Rosangela, em meio aos gritos dos macacos guaribas que vivem nas árvores na beira do rio.

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Os finalistas

Esta foi uma das categorias mais fortes do Prêmio Super Ecologia. Dois projetos muito bem avaliados ficaram atrás do Saúde e Alegria. Os dois são esforços de ONGs para gerar atividade rentável para comunidades tradicionais da Amazônia paraense, de maneira ambientalmente correta. Um deles, mantido pelo Instituto Socioambiental, está ensinando os índios xikrin como explorar a madeira sem destruir a floresta, afastando assim os madeireiros ilegais. O outro, criado pela Comissão Pró-Índio de São Paulo e pela Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do município de Oriximiná, está dando a um antigo quilombo uma fonte sustentável de renda: a castanha-do-pará.

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