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Tartaruga fora da panela

As crianças que primeiro aprenderam sobre as tartarugas. Depois, ensinaram os adultos

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h03 - Publicado em 30 jun 2004, 22h00

João Paulo Gomes, de Formoso do Araguaia (TO)

A carne macia, um pouco avermelhada, tem um leve gosto de peixe e não demora muito para cozinhar em fogo alto. Os ovos têm casca mole e, antes de irem para a panela, precisam passar um dia inteiro no sol. Arroz e muita farinha completam a refeição.

Era assim, como comida, que os moradores das proximidades de Formoso do Araguaia, no Tocantins, pensavam nas tartarugas e tracajás – animais da ordem dos quelônios – que desovam todos os anos nas praias dos rios da região. O consumo era tão corriqueiro que avistar os animais tornou-se raro. Mas, desde 1998, um projeto está transformando a receita de destruição num hábito de preservação. Com isso, os quelônios, quem diria, voltaram.

O epicentro dessa mudança é uma escola – a Escola de Canuanã, da Fundação Bradesco, perto de Formoso. Situada às margens do rio Javaés, de frente para a ilha do Bananal, a escola possui uma posição privilegiada para as aulas práticas de educação ambiental. Foi em uma delas que o professor Lucrécio Filho e seus alunos encontraram um ninho de tracajás destruído em uma praia. Para responder às perguntas dos adolescentes curiosos, o professor começou a pesquisar o assunto. O interesse foi tanto que Lucrécio chamou técnicos do Ibama para irem à escola dar cursos e palestras. A partir daí se iniciou um projeto de proteção dos animais e de seus ninhos.

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O trabalho começa na sala de aula. Todo ano, 80 alunos do ensino médio passam o primeiro semestre aprendendo sobre os animais. No final de junho, os quelônios chegam pelo rio Araguaia para desovar. É aí que a teoria é colocada na prática. Os estudantes começam a limpar as praias duas vezes por semana e, segundo Lucrécio, só a presença deles já inibe os caçadores. Em setembro, com a desova concluída, os adolescentes cercam alguns ninhos para proteger os ovos de predadores. Quando chega a hora da coleta dos filhotes, em dezembro, um batalhão de estudantes e funcionários é mobilizado para recolhê-los e levá-los a um tanque na escola. “Gosto da hora da contagem, porque sempre tentamos superar o ano anterior”, diz Daiane dos Santos, xará da atleta e aluna da oitava série. As milhares de tartaruguinhas ficam no tanque por duas semanas, até perderem o pitiú, cheiro forte que atrai predadores.

Para Lucrécio, está na participação da molecada a maior força do projeto, mais até do que nas 130 mil tartarugas já soltas. O aluno Ernandes Pinheiro, de 8 anos, deu uma aula para o pai quando o viu capturar um tracajá numa pescaria. Convencido pelo menino, o adulto devolveu o bicho e prometeu não incomodá-los mais. “As pessoas começam a amar mais a natureza depois que passam a conhecê-la melhor. É difícil perceber o paraíso quando se está dentro dele”, diz o professor Lucrécio. A mudança às vezes chega em passos de tartaruga. Mas chega.

Como ajudar

A Escola de Canuanã procura parcerias para aquisição de um barco de 6 metros, binóculos e um sistema de rastreamento para monitorar os quelônios durante o ano. Para entrar em contato, ligue para (63) 339-1000.

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