Um espetáculo de vida e morte
As focas-da-groenlândia animam o frio e a solidão dos mares do Ártico. E, junto aos caçadores, participam de um dos mais aterradores encontros entre homem e animal
Rafael Kenski
Debaixo do cobertor
A foca do extremo norte do planeta passa seus primeiros 12 dias de vida assim: cheia de pêlos e descansando sobre o gelo. Ela ainda não consegue nadar e a única preocupação é tomar leite materno até triplicar o peso. Só então perde o pêlo e ganha uma capa de gordura
Dedicação exclusiva
Entre uma pesca e outra, as mães focas dão as caras no berçário para ver se está tudo tranqüilo com seus filhotes, que elas identificam pelo cheiro. Quem não for seu descendente é ignorado
Vida errante
Quando as focas não estão nadando, elas descansam em placas de gelo como essa, a 250 quilômetros da costa do Canadá. O gelo muda junto com as estações e algumas delas chegam a nadar até 2 500 quilômetros em busca de um local ideal para o repouso
Alerta na paz
Existem entre entre 2,5 e 6 milhões de focas-da-groenlândia no mundo. Elas se aproximam dos visitantes, mas não costumam atacar. Os predadores naturais são poucos e elas não estão ameaçadas. Ou melhor, não estavam
Mar sangrento
A foca-da-groenlândia é um dos mamíferos marinhos mais caçados do mundo. O Canadá está entre os poucos países que permitem a matança e onde o governo fornece subsídios e estabelece uma cota para a caça. Em 2003, o número foi recorde – 350 mil animais – mas, segundo os ambientalistas, as mortes vão muito além. Várias focas atingidas escapam para morrer logo depois e os filhotes órfãos não conseguem sobreviver
Em três anos, mais de 1 milhão de focas serão mortas no Canadá
Golpe sem misericórdia
O método tradicional para o ataque é bem pouco sofisticado: uma paulada no crânio. Ele mantém intacta a pele do animal mas, por ser considerado cruel, foi proibido pelas autoridades e substituído por tiros. Como se vê, nem sempre a lei é cumprida
Esfoladas vivas
A pancada, na maioria das vezes, não mata o animal. Por isso, muitos deles chegam ainda vivos ao estágio seguinte: a retirada da pele. Não raro, as focas ficam se debatendo em carne viva até morrer de frio
Violência lucrativa
O motivo de tanta crueldade, mesmo com protestos furiosos de ambientalistas, é que o comércio de pele de foca é uma indústria milionária. Também são aproveitados a gordura, a carne e o pênis do animal, considerado um afrodisíaco valiosíssimo em países do Oriente