5 razões para você, de qualquer ideologia, se revoltar por Marielle
Vereadora assassinada no Rio tinha forte militância por minorias, sim, mas não é só a esquerda que sai perdendo com sua morte
Marielle Franco, 38 anos, vereadora da cidade do Rio de Janeiro pelo PSOL, foi assassinada com quatro tiros na cabeça na última quarta-feira, 14 de março de 2018. A investigação, até o momento, aponta para uma execução. Marielle, que foi a quinta candidata mais votada no pleito de 2016, incomodou alguém.
Qualquer um que tenha acompanhado as notícias sabe que Marielle, que era mulher, negra, lésbica, feminista e nascida na favela, militava pelos direitos de minorias. Por causa disso, nesse momento de polarização política pelo qual passa o Brasil, uma parcela da sociedade tem tido dificuldade em demonstrar empatia a ela em sua morte.
Este post não tem o objetivo de mudar a visão política de ninguém. Mas, mesmo que você seja crítico às causas sociais que Marielle defendia, é importante entender que, não, ela não “defendia bandido”. Muito pelo contrário. Veja abaixo como Marielle defendia pautas importantes para todos.
1) Ela tentou melhorar a educação
Marielle criou o projeto de lei 515/2017, que buscava implementar um “Programa de efetivação das medidas socioeducativas” para crianças que cometeram crimes. As leis que instituem essas medidas já existem. O que Marielle queria era criar um modo de assegurar que elas fossem executadas.
O objetivo do projeto de lei era que os menores infratores de 14 a 21 anos, em regime de semiliberdade ou liberdade assistida, recebessem educação adequada para que não voltassem a cometer crimes, incluindo não só acompanhamento social, mas também reforço escolar. Também sugeria a criação de oportunidades para o ingresso desses jovens no mercado de trabalho.
Em um recente evento em Nova York, representantes da ONU voltaram a defender a educação como base para uma sociedade funcional. O tema está na pauta de todos os candidatos a presidente. O projeto de Marielle apenas assegurava que a educação chegasse a uma parcela da sociedade que já tem direito a ela, mas não recebe devido à omissão do poder público.
2) Ela defendeu que os salários dos servidores públicos deveriam ter prioridade de pagamento
Marielle foi uma das signatárias do projeto de lei 493/2017. Esse projeto determina que, em um caso de crise, os funcionários públicos ativos, inativos e pensionistas devem ter prioridade de pagamento, no lugar do prefeito, do vice-prefeito, dos secretários e dos subsecretários. Ou seja, se o Rio de Janeiro ficasse sem dinheiro, os motoristas de ônibus iriam receber seu salário antes de Marcelo Crivella.
O autor do projeto é David Miranda, do PSOL. Mas ele foi assinado, além de Marielle, por um monte de candidatos da direita: Cesar Maia (DEM), Carlos Bolsonaro (PSC), Felipe Michel (PSDB), Célio Lupparelli (DEM), Thiago K. Ribeiro (PMDB), Willian Coelho (PMDB) e vários outros. Dá para conferir a lista completa no site da Câmara.
3) Ela lutou contra o aumento da tarifa de ônibus
O transporte público não é exclusivo de nenhuma ideologia – se você não usa, com certeza conhece alguém que usa, seja de esquerda, direita ou centro. Sem transporte público, as cidades não funcionam.
Em setembro de 2010, o então prefeito do Rio, Eduardo Paes, diminuiu de 2% para 0,01% o valor do ISS (Imposto Sobre Serviços) cobrado das empresas de ônibus. A ideia de Paes era que, com as empresas pagando menos imposto, a tarifa de ônibus pudesse diminuir de valor. Além disso, as empresas de ônibus passavam a ser obrigadas por lei a instalar ar-condicionado e GPS em todos os ônibus.
Essa medida fez com que o município deixasse de arrecadar mais de R$ 400 milhões em impostos. E, adivinha só, a tarifa não baixou e muitos ônibus ainda não têm refrigeração e nem GPS.
O projeto de lei 101/2017 propõe revogar, portanto, a diminuição do imposto, uma vez que ele não surtiu o efeito desejado e que a cidade se encontra numa grave crise financeira. Marielle foi uma dos seis membros da Câmara que assinaram, todos vereadores pelo PSOL.
Esse projeto é de março de 2017. Desde então, a tarifa de ônibus no Rio subiu de R$ 3,40 para R$ 3,60.
4) Ela denunciou um Batalhão da PM suspeito de matar mais de 500 pessoas (e não eram só bandidos)
Segundo cálculo feito pelo jornal Folha de S.Paulo, o 41º Batalhão da Polícia Militar matou 567 pessoas desde 2011 em supostos confrontos com a polícia. Por se tratar da PM, muitas pessoas podem achar que os mortos eram todos bandidos. Mas não é bem assim.
As vítimas incluem a menina Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, morta enquanto participava de uma aula na escola; duas pessoas contra as quais um sargento abriu fogo por achar que o macaco hidráulico que carregavam na moto era uma arma e cinco jovens voltando de um show, fuzilados em um carro sem qualquer tipo de abordagem prévia.
Marielle usava suas redes sociais para criticar a PM por esses e outros atos, como pode ser visto abaixo. Ela não era contra a polícia, mas sim contra a ideia de que todo morador de periferia é bandido.
5) Ela não simpatizava muito com Lula
Em post de janeiro no Facebook, Marielle disse o seguinte: “Sou dessas que é oposição aos governos petistas desde 2003”. Ela avança para dizer que “Só derrotaremos o lulismo nas lutas sociais e na construção de um programa de superação do capitalismo e de toda política de conciliação de classe. Um programa radical, feminista, antirracista, anti-lgbtfóbico, ecossocialista e horizontalizante é a força capaz de superar Lula e derrotar as elites desse país.”
O post serve para que Marielle se posicione a favor da possibilidade de Lula ser candidato, mas mantendo um distanciamento crítico a ele. No final, Marielle declara que “Hoje, defender a democracia é defender o direito à candidatura de Lula. É submeter seu projeto político não ao escrutínio de 3 desembargadores, mas de 200 milhões de brasileiras e brasileiros”.