Assine SUPER por R$2,00/semana
Continua após publicidade

5 vezes em que Stephen Hawking, ateu, se aproximou da Igreja

Muita gente se apressou em dizer que Hawking iria "para o inferno" e não parou para ver que ele era próximo da Santa Sé

Por Victor Bianchin
Atualizado em 12 mar 2024, 09h06 - Publicado em 15 mar 2018, 13h38

Com a morte de Stephen Hawking ontem, muita gente na internet se apressou a apontar que Hawking era ateu e, portanto, não ia para o céu. Muitos, inclusive, disseram que ele iria pro inferno. Talvez o momento fosse inapropriado, mas o fato é que o falecimento do físico britânico reacendeu uma rixa bem estranha entre ciência e religião.

Mas o pessoal que acha que Hawking está nas profundezas sendo espetado por demônios com tridentes está se esquecendo de duas coisas. Primeiro, o próprio Papa já andou revendo o que é o tal do inferno. Segundo, Hawking nunca foi um extremista antiteísta. Pelo contrário: em vida, ele se esforçou para mostrar que uma coisa não anulava a outra, e se esforçou para estabelecer o diálogo com os fiéis. Veja a seguir 5 ocasiões em que isso aconteceu.

1) Ele era membro da Pontifícia Academia das Ciências

(The Pontifical Academy of Sciences/Reprodução)

A Academia é uma instituição científica criada pelo Papa Pio 11 em 1936 e com base no Vaticano. Suas origens remontam a Roma, quando, no século 17, foi fundada a Accademia dei Lincei (Academia dos Linces), a qual tinha Galileu Galilei como presidente. A instituição foi dissolvida algum tempo depois e restabelecida em 1847 como Accademia Pontificia dei Nuovi Lincei (Academia Pontifícia dos Novos Linces). Em 1936, ganhou o nome atual.

Continua após a publicidade

A Academia tem o objetivo de realizar pesquisas científicas e procurar soluções para problemas epistemológicos (epistemologia é o ramo da filosofia que estuda o conhecimento humano). Apesar disso, ela é independente da Santa Sé e não está presa a nenhum tipo de credo. Seu corpo é composto de 80 cientistas de várias etnias e religiões. Atualmente, há dois brasileiros entre eles: Vanderlei Bagnato, físico e professor da USP, e Miguel Nicolelis, médico, pesquisador na área de neurociência e, veja só, ateu.

Stephen Hawking se tornou membro da Academia em 1986, durante o papado de João Paulo 2º. Ontem, por ocasião da morte de Hawking, a Academia publicou em seu Twitter: “Estamos profundamente entristecidos com a morte de nosso renomado acadêmico Stephen #Hawking, que era tão fiel à nossa Academia”.

Continua após a publicidade

2) Ele encontrou pessoalmente quatro papas

Em vida, devido aos seus compromissos junto à Academia, Hawking visitou o Vaticano algumas vezes e conheceu quatro papas: Paulo VI em 9 de abril de 1975, João Paulo II em 3 de outubro de 1981, Bento 16 em 31 de outubro 2008 e Francisco em 28 de novembro de 2016. Em todas elas, foi recebido com respeito e carinho pelos pontífices.

Na visita de 2016, Hawking participou de uma conferência de cinco dias intitulada Ciência e Sustentabilidade: Impactos do Conhecimento Científico e da Tecnologia na Sociedade Humana e seu Meio Ambiente. Nesse evento, o físico britânico fez uma palestra de 20 minutos defendendo sua “proposta sem fronteiras”, uma hipótese de que não existe o “antes” do Big Bang porque, no momento em que o Universo começou a se expandir, as leis da física ainda não existiam. Essa era uma ideia particularmente corajosa de defender em meio a religiosos, uma vez que elimina a necessidade de haver um Deus para criar o começo do Universo.

Continua após a publicidade

3) João Paulo 2º se ajoelhou para ele

(Reprodução/Instagram (@CasaPioIV))

Em 1981, Hawking foi ao Vaticano com a então esposa, Jane, para participar de uma conferência de cosmologia organizada pela Academia (um ato considerado ousado, uma vez que vinha de instituição ligada à Igreja Católica, que atribui a origem do Universo à criação de Deus).

Após o evento, os físicos participantes foram convidados à residência papal para encontrar o pontífice privadamente. Nesse encontro, um por vez, todos os físicos subiram a um palanque e se ajoelharam perante o papa. Hawking, é claro, não podia repetir o ato devido à sua condição física. Quando foi sua vez de subir ao palanque, aconteceu algo que surpreendeu a todos: João Paulo 2º se ajoelhou perante ele. Os dois então conversaram por mais tempo do que todos os outros.

Continua após a publicidade
  • Relacionadas

4) Ele foi homenageado pela Santa Sé

(Reprodução/Instagram (@CasaPioIV))

A primeira vez em que Hawking foi ao Vaticano, em 1975, aos 33 anos, foi para receber uma homenagem. O papa Paulo VI concedeu a ele a medalha “Pius XI” devido a seus estudos com buracos negros. Hawking foi votado unanimemente pela Academia para receber a láurea, que reconhecia seu trabalho excepcional e a “importante contribuição de sua pesquisa para o progresso científico”.

Continua após a publicidade

5) Ele nunca ofendeu a religião e até citou Deus em seus textos

(Lwp Kommunikáció / Flickr/Mundo Estranho)

Hawking não falava muito sobre religião. Ele só admitiu com todas as letras que era ateu em 2014, numa entrevista para um jornal espanhol. Ele declarou: “Antes de entendermos a ciência, é natural acreditar que Deus criou o universo. Mas agora a ciência oferece uma explicação mais convincente. O que eu quis dizer por ‘nós conheceríamos a mente de Deus’ é que nós saberíamos tudo que Deus saberia se Deus existisse, mas não existe. Sou ateu.”

Hawking estava se referindo a uma passagem de seu livro Uma Breve História do Tempo, de 1988, no qual disse: “se os físicos pudessem achar uma ‘teoria de tudo’ – ou seja, uma explicação coesa sobre como o Universo funciona – eles teriam uma noção do que é ‘a mente de Deus’”.

Não foi a única vez que ele citou Deus em seu trabalho. Há um texto muito popular em seu site no qual Hawking cita Deus várias vezes e até conta uma anedota: certa vez, em uma conferência de cosmologia no Vaticano, João Paulo 2º disse aos cientistas que tudo bem estudar o Universo depois que ele começou, mas que não se devia questionar o começo em si, porque era o momento da Criação, o trabalho de Deus.

O ponto é que Stephen Hawking nunca se posicionou contra o cristianismo ou outras religiões. Sempre que falou de Deus, o fez com elegância, mantendo distanciamento e respeito. Ele conduzia suas pesquisas sem ofender os religiosos, deixando que seus trabalhos falassem por si.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.