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E se Silvio Santos tivesse vencido a eleição de 1989?

Mundo Estranho conversou com especialistas em política e televisão para imaginar um cenário em que o Homem do Baú teria virado o Homem do Planalto

Por José Eduardo Coutelle
Atualizado em 22 fev 2024, 10h32 - Publicado em 1 dez 2015, 15h05

ILUSTRA Marcelo Costa

PERGUNTA Mateus Conte Camargo, Botucatu, SP

Quase foi!

Silvio Santos entrou nas eleições presidenciais de 1989 (a primeira por voto direto em 29 anos) meio que de supetão: a menos de um mês do pleito. Sua popularidade quase garantiu uma vaga no segundo turno, mas a candidatura foi impugnada, porque sua legenda, o minúsculo Partido Municipalista Brasileiro, não estava devidamente regularizado com a lei eleitoral

Aviãozinho de dinheiro

Durante a candidatura, suas propostas eram vagas.Se vencesse, ele provavelmente defenderia o setor empresarial, protegendo a reserva de mercado e mantendo barreiras comerciais. Para compensar políticas austeras anti-inflação, pouco populares, ele recorreria a ações populistaseassistencialistas, algumas bem ao estilo “Quem quer dinheiro?”

Chefe… ou subordinado?

Eleito por um partido nanico e sem base política sólida,Silvio teria que fazer várias alianças no Congresso. Partidos de centro-direita, como PFL, PTB egrande parte do PMDB, iriam aderir ao governo, ocupando ministérios eoutros cargos públicos. Dificilmente Silvio conseguiria implantar seus projetos e correria o risco de se tornar uma marionete das forças aliadas

Como domar seu dragão

Sua principal meta seria conter a inflação, que bombava naquela época. Provavelmente adotaria uma política neoliberal, tal qual Fernando Henrique Cardoso em 1995, buscando apoio de economistas mais conservadores enomeando um banqueiro como ministro da Fazenda.Se o “Plano Santos” desse certo,Silvio poderia até propor a reeleição ao Congresso, também como FHC

Barra limpa

Sem o apoio das forças que o colocaram no poder e com um partido pequeno, Fernando Collor não disputaria a presidência novamente. Voltaria para Alagoas, seu berço eleitoral,e miraria no Legislativo. Provavelmente, usaria sua influência para negociar apoio ao governo federal. Não teríamos um presidente derrubado por impeachment nem o trágico Plano Collor, que confiscou poupanças.

Vermelhou!

O PMDB continuaria forte e governista. O PT se consolidaria na oposição, já largando com uma fatia de 30% do eleitorado. Lulase manteria como a principal liderança da esquerda e faria dura oposição ao governo Silvio Santos. Mas é possível que o cenário acelerasse sua carreira. Sem a queda de Collor, não haveria o governo Itamar Franco e o Plano Real, que levou FHC à presidência. Talvez Lula chegasse ao poder já em 1994. Ironicamente, uma coligação com FHC como vice-presidente não seria improvável…

Balançando no Ibope

Silvio teria que nomear um novo chefão no SBT. Suas filhas eram jovens, então o mais provável é que a administração caberia a profissionais de mercado, com supervisão de algum parente. O estilo centralizador de Silvioe o baixo nível de profissionalização da emissora na época dificultariam ainda mais a transição. O SBT “patinaria” por algum tempo até sereestabilizar

De rivais a parceiros

Silvio não usaria o poder para sabotar sua principal concorrente, a Rede Globo. As necessidades de ambos falariam mais alto: a emissora da família Marinho continuaria com fácil acesso a financiamentos de bancos públicos e, em troca, não faria campanha aberta contra o novo presidente. O mero afastamento de Silvio da direção do SBT talvez já acalmasse a rivalidade

Atenção dividida

Seu pupilo, Gugu Liberato, teria assumido a programação do domingo e se tornaria uma das maiores forças culturais do Brasil. Mas a carreira como apresentador não seria totalmente interrompida. Ele poderia usar a TV para divulgar ações do governo e falar diretamente com o povo (o SBT até já tinha um esquete fixo, a Semana do Presidente). Mas suas empresas enfrentariam dificuldades com sua ausência.É possível que a fraude contábil que derrubou o Banco Panamericano em 2011 e quase faliu Silvio ocorresse antes

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CONSULTORIA Pedro José Floriano Ribeiro, professor de pós-graduação em ciência política da Ufscar, Rodrigo Stumpf González, professor de pós-graduação em ciência política da UFRGS,e Benedito Tadeu César, professor aposentado de pós-graduação em ciência política da UFRGS

FONTES Livro A Fantástica História de Silvio Santos, de Arlindo Silva

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