A Guerra do Paraguai foi uma das primeiras com armas biológicas?
Assunto é controverso
Há muita controvérsia entre os pesquisadores, mas quase todos que estudam a Guerra do Paraguai, ocorrida entre 1864 e 1870, negam que esse truque sujo tenha sido usado pelos exércitos envolvidos na disputa – Brasil, Argentina e Uruguai de um lado, contra o Paraguai do outro. Essa hipótese surgiu em 1979, com a publicação do livro Genocídio Americano – A Guerra do Paraguai , escrito pelo jornalista Júlio José Chiavenatto. “Os exércitos do Brasil e da Argentina jogavam cadáveres de soldados mortos pela cólera em rios e poços para contaminar o inimigo”, afirma Júlio José. A barbaridade teria sido relatada em cartas enviadas pelos comandantes brasileiros ao imperador Dom Pedro 2º. Esses documentos estariam guardados até hoje em uma biblioteca argentina.
Mas a versão é contestada por vários historiadores – e, claro, pelos militares brasileiros, que não gostam nem um pouco de ter sua imagem associada à carnificina em que o conflito se transformou, de uma forma ou de outra. “As tropas de ambos os lados não sabiam o que fazer com os seus mortos e, às vezes, jogavam corpos nos rios, mas a intenção não era contaminar o inimigo”, diz o historiador André Toral, autor do livro Adeus, Chamigo Brasileiro – Uma História da Guerra do Paraguai. Outro historiador, Francisco Doratioto, da Universidade Católica de Brasília e autor do livro O Conflito com o Paraguai – A Grande Guerra do Brasil, é mais enfático ao discordar de Chiavenatto: “É mentira. Não há como comprovar a origem dos documentos que sugerem a hipótese da guerra bacteriológica”.
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Mas isso não quer dizer que truques sujos, com resultados trágicos, não tenham sido usados nesse sangrento conflito entre vizinhos sul-americanos. O próprio Doratioto aponta fatos tão ou mais cruéis que o suposto despejo de cadáveres contaminados nos rios. Numa batalha já no fim da guerra, o comandante das forças paraguaias, Solano López, colocou crianças e adolescentes atrás de trincheiras, disfarçados com barbas, para confundir as tropas inimigas. “De longe, os aliados acharam que todos eram soldados e atacaram o local sem piedade”, diz Doratioto.