É verdade que divulgar suicídios causa mais suicídios?
Falar sobre o tema, mesmo na cultura pop, não é necessariamente um problema. Mas é preciso ser da maneira certa
Tudo depende do jeito como é divulgado. Para o psiquiatra Fernando Fernandes, do Programa de Transtornos Afetivos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, a divulgação espetaculosa do suicídio, como aquela que o retrata de forma romântica, pode ser um fator precipitante para quem já tem uma vulnerabilidade. Essa é a mesma opinião de Eliane Soares, coordenadora da Comissão Nacional de Divulgação do Centro de Valorização à Vida (CVV). Dependendo da forma com que o suicídio for divulgado, pode ocorrer repetição por outras pessoas que já estejam em desequilíbrio emocional. Esse processo de “inspiração” é chamado de Efeito Werther. O termo vem do livro Os Sofrimentos do Jovem Werther, do alemão Goethe, em que um jovem rapaz se suicida. Logo após sua publicação, começaram a surgir na Alemanha relatos de jovens usando o mesmo método que ele para tirar a própria vida.
MAIS QUE 13 RAZÕES
O suicídio acontece por uma conjunção de muitos fatores, explica o dr. Fernando Fernandes. Alguns deles são sociais, psicológicos, orgânicos e genéticos. Mas os motivos mais predominantes são transtornos psiquiátricos, sendo o mais comum a depressão (mas também há o transtorno bipolar, a esquizofrenia e o abuso de drogas). Um fator psiquiátrico é identificado em 90% dos casos de pacientes que tentam ou cometem suicídio
COMO FALAR SOBRE SUICÍDIO?
Falar sobre o tema, mesmo na cultura pop, não é necessariamente um problema. Pelo contrário, é preciso, mas de maneira responsável. O psiquiatra do Hospital das Clínicas explica que a conversa é a chave para falar com alguém que tenha (ou aparente ter) pensamentos suicidas. É preciso deixar a pessoa falar sobre o sofrimento, e, havendo abertura, falar diretamente sobre o suicídio
HANNAH: BOA OU MÁ INFLUÊNCIA?
Segundo Fernandes, a série 13 Reasons Why, que bombou na Netflix, não é recomendada para quem tem pensamentos suicidas. Para ele, pode ser prejudicial mostrar pessoas se matando e cartas (ou fitas, no caso) suicidas. Eliane, do CVV, faz a mesma ressalva, mas acredita que a série acendeu um debate importante e, por isso, aumentou a busca por ajuda e abriu os olhos de amigos e parentes de possíveis pacientes
E NO JORNALISMO?
Notícias sobre suicídio também podem desencadear casos. Mas tudo vai depender da maneira. Explicar métodos, mostrar cenas, recitar cartas suicidas e também transformar a história em um espetáculo (principalmente quando se trata de uma celebridade) é a maneira ruim de divulgar o tema. Porém mostrar como essa pessoa estava se sentindo antes e o motivo pelo qual ela fez isso pode ajudar outros na mesma situação a buscar ajuda
TdF Sugeriu – João Paulo Marques
CONSULTORIA Eliane Soares, voluntária e coordenadora da Comissão Nacional de Divulgação do CVV, Fernando Fernandes, médico psiquiatra e pesquisador do Programa de Transtornos Afetivos do Instituto de Psiquiatria da USP e Vinícius Mota, secretário de redação da Folha de S.Paulo