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Entrevistamos Gal Gadot e o elenco de Mulher-Maravilha

Trio de protagonistas fala do humor do filme, da importância da empatia para vencer o cinismo e de passar frio em Londres

Por Da Redação
Atualizado em 22 fev 2024, 10h13 - Publicado em 5 jun 2017, 16h27

MUNDO ESTRANHO foi a Los Angeles conversar com o elenco de um dos principais filmes do ano, Mulher-Maravilha. Confira o que rolou.

Vocês acompanhavam HQs quando eram crianças?

Gal Gadot: Eu não era fã de HQs quando criança e eu era muito jovem quando a série da Lynda Carter passava. Mas eu sempre soube quem era a Mulher-Maravilha. É um nome famoso, é como saber sobre Batman e Superman. Mas eu nunca soube qual era sua história, seu contexto, quem exatamente ela era.

Connie Nielsen: Como uma mórmon dinamarquesa eu não tinha acesso a esse tipo de coisa [risos]. Quando eu fiquei adolescente eu me rebelei contra tudo aquilo e comecei a ler muitos quadrinhos. Mas era mais fã dos franceses, como Goscinny, esse mundo de fantasia mas também de mito. Eu era muito interessada em mitos quando adolescente. Esse lance da Mulher-Maravilha tem sido um processo de descoberta pra mim. Eu posso honestamente dizer que, para mim, Gal é minha Mulher-Maravilha.

Patty Jenkins, a diretora, disse que costumava brincar como Mulher Maravilha quando criança. Ela trouxe um pouco disso ao personagem, a visão de uma fã criança?

Gal: Patty sabia exatamente o que queria fazer. Ela tinha uma visão muito clara sobre a Mulher-Maravilha que queria mostrar. Eu sei que, depois que Charlize Theron ganhou o Oscar por Monster, todos os estúdios foram atrás de Patty e perguntaram qual era seu próximo projeto. Ela disse à WB que queria fazer Mulher-Maravilha. E isso foi anos atrás. Trabalhar com Patty foi uma experiência ótima. Ela é tão talentosa e ela literalmente mergulhou com a gente em cada cena. Fosse uma emocional ou engraçada, o que quer que fosse, ela estava lá com a gente. Ela não desistia até ter o melhor e mais perfeito take. E para mim, para nós, atores, fez com que a gente quisesse dar o nosso melhor.

Você diria que, por ter uma protagonista mulher e uma diretora mulher, esse filme é uma celebração de mulheres?

Gal Gadot: Sim, definitivamente. Connie estava dizendo que é a primeira vez que estávamos no set com 75 mulheres fortes, lindas e maravilhosas. Então é uma celebração de mulheres e, ao mesmo tempo, eu sinto que a história de Diana é muito universal. Como mulher, é fácil para mim me identificar e acho que mesmo para um homem é fácil se identificar porque a mensagem é tão universal e linda.

Connie: Eu acho que a feminilidade de Gal traz uma maneira particular de nos filmar e de nos representar e eu diria que essa é a diferença entre explorar e celebrar. Porque eu acho que agora muita gente está dizendo “elas estão sendo objetificadas porque você pode ver as pernas”. E eu nem reconheço essa crítica porque as mulheres estão sendo celebradas. O corpo é celebrado em todos os filmes de super-heróis, mas se não fosse pela perspectiva feminina, ele seria celebrado de uma maneira diferente [neste filme] e talvez de um jeito mais explorativo. Mas nós não tivemos nenhum risco e nenhum medo disso porque Patty simplesmente celebra o corpo de uma maneira muito positiva.

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O elenco reunido para a premiere (Divulgação/Twitter)
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Falando nisso, quando Batman vs. Superman saiu, houve uma polêmica porque é a mulher que salva os homens. Como isso se reflete nesse filme e o que você acha?

Connie: Nós salvamos caras todos os dias [risos].

Gal: Acho que o fato de você ter que fazer essa pergunta é o problema. Como pode ser que os homens sempre salvam a garota?

Connie: Não é como se os homens saíssem salvando as mulheres todo dia. É um mito. Há um lado oposto a isso. Nós podemos parar com essa história de “poder sobre o outro” ou de reversão de poder. Até porque francamente eu estou começando a ficar entediada com isso.

Gal: O filme não é sobre quem está salvando quem. Todo personagem está em pé de igualdade e nenhum deles é totalmente forte ou totalmente confiante. Seria chato se fosse. E na vida real nunca é. Eu sei que é encantador para mim quando eu vejo filmes ou quando atuo mostrar as frações de imperfeição. É mais fácil pra mim como público ver um personagem que não é perfeito e que está passando por suas dificuldades e inseguranças. Steve e Diana estão em pé de igualdade. Ele traz sua agenda e sua experiência para a mesa e Diana traz sua perspectiva e sua inocência. Eu acho que quando eles passam por essa jornada juntos, eles aprendem um com o outro. Esse é o processo interessante para o personagem.

Connie: Uma das coisas que você pode ver nas redes sociais é que, para muitos homens, Mulher-Maravilha é só uma super-heroína [e não uma “mulher super-heroína”]. E eu não acho que ela exista para emascular ninguém. Acho que, entre os fãs da Mulher-Maravilha, você pode ver muitos homens, tanto quanto mulheres.

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Chris, qual seu ponto de vista e sua abordagem para o personagem nesse tipo de “mundo de mulheres”?

Chris: Obviamente há uma narrativa a ser contada, é um filme de mulheres, é dirigido por uma mulher, eu entendo, é o hot topic. [Pra mim] é simplesmente uma ótima história, ok? E o personagem que eu interpreto é um humano, não tem poderes, que cai numa ilha de super-heroínas, é bem mágico, há essas mulheres lindas que podem fazer várias coisas malucas. Então eu meio que interpreto a realidade disso. Eu sou um cara cínico que gosta de fazer piadas e faz seu melhor para ser um bom humano. Enquanto eu entendo que mulheres possam interpretar essa narrativa em termos de “homens versus mulheres” ou o que for… o nome do meu personagem é Steve Trevor, ele é um piloto e um espião, ela tem poderes, eu me apaixono por ela e fujo com ela. E isso não é porque eu queira criar minha própria narrativa a respeito [risos]. Dito isso, você se acostuma facilmente, ela tem peitos [risos] e cabelo longo e eu me diverti com ela. Mas ela é definitivamente bem mais durona que eu.

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Gal Gadot e Chris Pine gravam na Itália sob o comando de Patty Jenkins (Divulgação/Daily Mail)

É o seu personagem, Steve Trevor, que quer salvar o mundo e convence ela a fazer o mesmo. Você acha que o mundo poderia usar mais alguns Steve Trevors nesse momento?

Chris: Não, eu acho que temos muitos Steves, acho que o que realmente poderíamos usar é ela. Porque o personagem que eu faço é humano e não há muito que eu possa fazer.

Mas ele tem a vontade de fazer o mundo melhor

Chris: Acho que muitas pessoas têm essa vontade, mas é que nós estamos contra aparentemente instrumentais forças de babaquice [risos]. Todos nós ainda nos odiamos, estamos à beira de uma guerra nuclear, estamos em uma guerra religiosa desde a Sétima Cruzada… O que a Mulher-Maravilha apresenta é o conceito de que não apenas você pode ser muito durão e ir atrás dos caras maus, mas quando você lida com eles, você tem uma escolha, e a escolha é como você os encara. Você pode olhá-los nos olhos e dizer “foda-se” e atirar na cabeça ou você pode abrir seu coração e pensar “como eu encaro esse outro humano falível? Com compaixão e empatia?”.

Connie: Acho que Chris interpretar um personagem que é tão cínico no começo e Gal interpretar alguém que é tão inocente e guiada por ideais… Empatia é o antídoto para o cinismo. E o que é muito fácil de acontecer quando somos confrontados com esse mundo cheio de coisas assustadoras é que existe o risco de nos tornarmos cínicos. E cinismo nunca nos ajudou a melhorar como sociedade. De certo modo, a inocência é a renovação de nós mesmos o tempo todo. E eu acho que essa é uma das coisas muito pertinentes das quais o nosso filme está falando.

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A diretora Patty Jenkins, Gal Gadot e Chris Pine (Divulgação/Twitter)

De certa forma, esse filme retrata não só o amadurecimento de Diana, como também sua descoberta de que o mundo é um lugar ruim?

Gal Gadot: É exatamente do que estávamos falando agora. Diana começa sua jornada como uma pessoa muito pura e inocente. E ela acha que entende o mundo e pra ela tudo é branco e preto, os bons são bons, os maus são maus e ela pode deter o mau com uma coisa muito específica que eu não posso revelar porque seria spoiler [risos]. Mas quando ela conhece Steve, que é um homem do mundo, com experiência, que viu muitas coisas ruins que os homens podem fazer uns contra os outros… ele é a realidade, ele é a janela para a realidade. E uma vez que eles começam sua jornada juntos, ela percebe que o mundo não é tão preto e branco, que ele é mais complicado e que os seres humanos são mais complicados. E o que eu acho que ele pega dela é que esperança… ela quer tanto que o mundo seja um lugar melhor para todo mundo e eu acho que ela o contagia com isso de “vamos fazer o bem pelo mundo, nós podemos salvar o mundo juntos”.

Por que a 1ª Guerra Mundial em vez da segunda?

Chris: Eu acho que a 1ª Guerra Mundial foi escolhida simplesmente porque a gente já viu tanto da segunda. Ela provia uma opção estética diferente. Nós já vimos nazistas como vilões varias vezes, então simplesmente escolhemos alemães de outra época [risos]. Patty sabia desde o começo o que ela queria e como ela iria conseguir e que esse filme não era para ser sombrio.

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Gadot na preparação dos moldes das botas de Diana (Divulgação/Twitter)

Gal, você disse no Twitter que a cena mais difícil que teve que gravar foi em Londres na chuva e você teve hipotermia. Poderia falar sobre isso?

Gal: Nós estávamos filmando à noite em Londres, na Inglaterra, no inverno, e tudo que eu vestia era o uniforme. Era uma noite muito fria e havia três enormes máquinas de vento. E era num campo aéreo, onde já venta muito normalmente. Estava chovendo e eu estava molhada ainda por cima. Nós estávamos filmando uma cena e felizmente eu não tinha que dizer muito porque eu não conseguia falar [risos]. Eu estava assim [finge tremer] e Chris estava me abraçando e tentando falar comigo enquanto eu não conseguia ouvir nada…

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Chris: Eu estava confessando meu amor eterno [risos]. Eram 6 da manhã, ela mal conseguia funcionar… não era a melhor das circunstâncias.

Gal: Eu estava que nem um picolé. Não há muito a comentar.

Mas depois você foi para a Itália, onde faz sol…

Gal: Exatamente. Itália foi a melhor locação. Primeiro de tudo, a comida. Nós todos chamávamos de “Eataly” porque não conseguíamos parar de comer.

Connie: Mas nós todos ficamos em uma pequena vila. Era quase como um acampamento de escoteiros.

Gal: Havia algo meio surreal a respeito porque quando filmamos na Itália nós filmamos todas as cenas de batalha em Temiscira. Então todas as mulheres estavam trabalhando. E as mulheres vieram de todo o mundo e muitas são mães então trouxeram os filhos e os maridos. E nós estávamos todos trabalhando na praia… sabe, uma praia linda e serena cheia de mulheres com roupas lindas fazendo coisas malucas… e aí você via os homens atrás das cenas com as crianças, andando por aí, andando de cavalo, andando de barco… era tão diferente!

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Connie: Mas também, no começo, a produção tentou assegurar que as crianças não fossem para a praia e nós ficamos tipo “é, esqueça isso, não vai acontecer” [risos]. Todos nós levamos as crianças para a praia e foi muito divertido.

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Diana em Temiscira (Divulgação/Warner)

Como foi a parte física?

Gal: Eu realmente gostei. Eu fui uma dançarina por muitos anos. Eu sempre usei meu corpo como uma ferramenta para me expressar. É claro que é duro, e às vezes você não tem vontade de treinar ou você não quer aprender a nova coreografia, mas no fim do dia quando eu subo no palco e eu performo, é divertido e eu gosto de parecer forte e durona fazendo coisas malucas que eu nunca pensei que faria. E eu realmente gostei muito. Mas eu preciso dizer que não foi tudo eu, eu tinha uma dublê. Eu fiz a maior parte das cenas de ação, mas algumas das cenas mais malucas, que o seguro não cobria, eu não fiz.

O trailer tem muitos momentos engraçados. Queria que você falasse do quanto o humor está na história, considerando que os últimos filmes da DC foram criticados por serem sombrios demais

Gal: O nosso filme não foi afetado de nenhuma forma pelas críticas a Batman vs. Superman porque nós já havíamos quase terminado de filmar quando saiu. Mas eu tenho que dizer que há algo muito charmoso… não é apenas cínico.

Connie: O roteiro foi escrito propositalmente para ser engraçado e eu acho que toda a história é engraçada. A premissa é engraçada: você pega alguém que nunca viu o mundo e a coloca no meio de um momento depravado da história do mundo.

Gal: Mas o filme lembra filmes clássicos, sabe? Não são piadas espertinhas e ousadas, são piadas charmosas, bonitas e puras que nos levam de volta a o quê? 30, 40 anos atrás? E eu acho que há algo tão mágico sobre isso, porque dá ao filme um gosto diferente.

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