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Pizzagate: o escândalo de fake news que abalou a campanha de Hillary

A senadora e candidata à presidência dos EUA foi apontada como líder de uma rede de prostituição e tráfico infantil em 2016

Por Carolina Canossa
Atualizado em 22 fev 2024, 10h05 - Publicado em 13 abr 2018, 17h58
(Gustavo Rodrigues/Mundo Estranho)

1. Em março de 2016, o WikiLeaks, famoso por vazar documentos secretos do governo norte-americano, revelou e-mails particulares de John Podesta, chefe da campanha de Hillary Clinton nas eleições presidenciais daquele ano, realizadas em novembro. A princípio, as mensagens não tinham nada de errado, mas a repetição de palavras como “pizza” e “cheese” (queijo) chamou a atenção de usuários em fóruns de discussão anônimos, como o 4Chan e o Reddit

2. Os membros dos fóruns decidiram conduzir uma investigação independente e descobriram que o termo “cheese pizza” (pizza de queijo) era um código para “child pornography” (pornografia infantil) por causa da coincidência de iniciais entre as quatro palavras. A análise dos e-mails também deixaria claro que a palavra pizza, quando usada sozinha, se referia a “menina”, enquanto o código para “menino” era hot-dog. Já “sauce” (molho) significava orgia

(Gustavo Rodrigues/Mundo Estranho)

3. Os abusos aconteceriam no porão da pizzaria Comet Ping Pong, em Washington. Conhecido lobista na capital norte-americana, Tony Podesta, irmão do coordenador da campanha de Hillary, era cliente do local e apresentou o dono do estabelecimento, James Alefantis, aos caciques democratas. E-mails hackeados mostram que Alefantis e John Podesta organizaram juntos um jantar de arrecadação de fundos para a campanha de Hillary em abril de 2016

(Gustavo Rodrigues/Mundo Estranho)

4. O Comet Ping Pong teria vários sinais de que não era apenas um inocente restaurante. Além de um logo com referências satânicas, a pizzaria tinha em uma das paredes uma pintura com pessoas segurando cabeças, inclusive de crianças – a obra é de autoria de Arrington de Dionyso, artista plástico cujo trabalho frequentemente mostra pessoas nuas, sexo e violência. O cardápio ainda vinha com um símbolo parecido com o usado por pedófilos para mostrar suas preferências sexuais na deep web sem chamar a atenção

(Gustavo Rodrigues/Mundo Estranho)

5. Alefantis também tinha um Instagram peculiar, com diversas fotos de crianças em situações incomuns, como com os braços presos a uma mesa, dentro de uma cesta, segurando dinheiro… outras imagens suspeitas: uma imagem de uma boneca à venda e um desenho de um casal transando em cima de um pedaço de pizza. E pior: o empresário publicou uma foto na qual aparece usando uma camiseta onde se lê “J¿ <3 L¿Enfants” (“amo as crianças”, em francês)

(Gustavo Rodrigues/Mundo Estranho)

6. Uma imagem do Instagram chamou especialmente a atenção dos investigadores virtuais, pois mostrava um túnel com paredes de chapas de ferro e chão manchado com uma substância parecida com sangue. Ao fundo, havia uma porta do mesmo material. Na legenda, o empresário comentou: “Oh, yeah, isso parece divertido”. Já seus seguidores escreveram coisas como “#killroom”, “Apenas limpe depois que terminar”. Seria nesse local que ocorreriam os abusos contra os menores de idade

(Gustavo Rodrigues/Mundo Estranho)

7. Sites como Infowars, Planet Free Will e The Vigilant Citizen passaram a reportar a história, que também ganhou impulso graças às redes sociais. Até Michael Flynn, general reformado indicado a conselheiro de segurança nacional do presidente Donald Trump, ajudou a propagar o que aconteceria na Comet Ping Pong em seu Twitter

(Gustavo Rodrigues/Mundo Estranho)

8. Em 21 de novembro de 2016, o rapper Kanye West teria ameaçado expor o Pizzagate ao ser socorrido durante um colapso nervoso, mas teria sido imediatamente apagado por paramédicos com uma anestesia, segundo testemunhas. A mulher dele, Kim Kardashian, é amiga de Marina Abramovich, uma artista plástica cujos e-mails trocados com Podesta falavam sobre um ritual chamado “Spirit Cooking”. Quando executou essa performance em 1996, ela pintou a estátua de uma criança com sangue de porco

Por outro lado…

Não há qualquer evidência de um calabouço pedófilo sob a pizzaria

  • O Pizzagate tomou tamanha proporção nos EUA que foi investigado pela polícia do Distrito de Colúmbia, onde fica a capital, Washington, mas nenhuma das alegações foi provada. Já o FBI sequer chegou a entrar no caso por falta de evidências concretas
  • A alegação de que estupros de menores aconteceriam no porão da pizzaria é falsa: um repórter do jornal The New York Times foi ao local e verificou que não há qualquer quarto subterrâneo no imóvel
  • O caso, aliás, é atualmente visto lá como um exemplo do perigo que teorias da conspiração da internet podem trazer para o mundo real. É que, em 4 de dezembro de 2016, um homem chamado Edgar Welch foi com três armas ao Comet Ping Pong disposto a investigar por conta própria a rede de exploração sexual. Ele chegou a disparar três tiros que, por sorte, não atingiram ninguém, antes de se dar conta de que não havia nada errado ali. Welch foi preso
  • Descobriu-se ainda que os rumores do Pizzagate foram espalhados por sites de extrema-direita e apoiadores de Donald Trump, dispostos a tudo para prejudicar Hillary Clinton em uma das eleições mais apertadas da história norte-americana – vale ressaltar, porém, que nunca ficou comprovado qualquer envolvimento direto do atual presidente no caso
  • A foto da sinistra porta de ferro é, segundo Alefantis, apenas uma piada com um frigorífico de um restaurante no qual ele cogitou entrar como sócio
  • Não existe nada que prove que Kanye West realmente ameaçou revelar o Pizzagate ao mundo. O rapper nunca mencionou o caso publicamente
  • Michael Flynn apagou os tuítes que faziam qualquer menção ao Pizzagate. Seu filho, que insistiu na veracidade do caso, acabou demitido da equipe de transição do governo Trump

FONTES Folha de S.Paulo, Time, The New York Times, canal Alltime Conspiracies, do YouTube, Washington Post, VEJA, Vice, Medium.com, Reddit, 4Chan, forum.antinovaordemmundial.com

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