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Retrato Falado: Gilberto Valle, o canibal virtual

Gilberto Valle (1984-) compartilhava na Internet seu desejo de estuprar e devorar mulheres. Mas nunca cometeu o crime. Deve ser condenado?

Por Danilo Cezar Cabral
Atualizado em 11 mar 2024, 09h21 - Publicado em 16 fev 2016, 14h03
Gilberto-Valle

ILUSTRAÍcaro Yuji

Gilberto Valle(1984-) compartilhava na Internet seu desejo de estuprar e devorar mulheres. Mas nunca cometeu o crime. Deve ser condenado?

1. Com horários irregulares devido ao seu trabalho na polícia de Nova York,Gilberto Valle passou a dedicar horas da madrugada a navegar na internet, assistir TV e jogar games. Entre 2010 e 2012, foi gradativamente se distanciando da esposa, Kathleen, e dos amigos. Quando engravidou, em 2011, Kathleen notou que a frieza do marido piorou. Era hora de tomar uma atitude

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2. Triste e desconfiada, ela instalou um spyware (programa de espionagem) no computador de Valle. Assim descobriu os sites que ele visitava, as buscas que fazia e até a senha de e-mails que ela nem sabia existir. A revelação foi bombástica: seu marido discutia em chats e mensagens seu desejo de estuprar, assassinar, torturar e cozinhar mulheres

3. Em um dos e-mails secretos, Kathleen achou uma lista com mais de 100 mulheres. Algumas eram do trabalho, da antiga faculdade ou do círculo social do casal – e até ela era citada. O documento incluía peso e características físicas de cada uma e o marido mencionava sua intenção de raptar e assassinar algumas delas. Assustada, Kathleen avisou a polícia

4. As autoridades descobriram que a maioria dos acessos era no chat de um site sobre fetiches pesados, em que Valle falava abertamente sobre seus planos de sequestro, tortura e canibalismo. Seus três principais colegas no bate-papo eram um inglês com o nome falso de Moodyblues, um paquistanês com o codinome Alikhan e o norte-americano Michael van Hise

5. O policial chegou até a negociar com Moodyblues um suposto plano para raptar e torturar uma das garotas da lista. Dizia aos comparsas que tinha uma cabana em uma floresta numa área isolada e que, no porão, havia construído um forno enorme, com um sistema de roldanas em que a vítima seria pendurada, de modo a assar lentamente e por igual

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6. Comer pessoas parecia uma obsessão recorrente. Entre as imagens achadas no computador, havia a de mulheres em roletes sobre o fogo, dentro de fornos ou em chapas, além de fotos de amarração, mordaça e tortura. No Google, ele chegou a procurar “Como cozinhar um humano”

7. Não havia provas de que Valle tinha concretizado suas fantasias, mas pode ter chegado perto. Nos bate-papos, mencionava uma “lista de compras” para cometer um sequestro: clorofórmio, cordas, silver tape… Ele usou o banco de dados da polícia de Nova York para saber mais sobre as vítimas e chegou a visitar uma delas, sua ex-colega de faculdade Kimberly Sauer

8. Graças a essas evidências circunstanciais,Valle foi acusado de conspiração para cometer sequestro e acesso ilegal à base de dados policiais. Foi condenado em março de 2013 nas duas acusações, mas recorreu. Depois de 21 meses de prisão, o juiz responsável pelo caso fez uma nova análise e o libertou, considerando seu tempo atrás das grades como sentença cumprida

QUE FIM LEVOU? A promotoria voltou a tentar condenar Gilberto Valle diversas vezes. A batalha judicial segue até hoje, mas o ex-policial continua solto

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FONTES Sites The Guardian, Slate, New York Daily News e New York Times; e documentário Though Crimes: The Case of the Cannibal Cop

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