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Caso Jerusalém: entenda o tamanho da onça que Trump cutucou

A decisão de reconhecer a cidade como capital de Israel joga gasolina sobre uma fogueira que queima há 70 anos.

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 6 dez 2017, 16h47 - Publicado em 6 dez 2017, 16h33

Trump decidiu reconhecer Jerusalém como capital de Israel. Se a sede do governo israelense fica lá, qual é o problema, então?

A resposta trespassa toda a história do conflito entre judeus e palestinos. Até maio de 1948, o território onde hoje ficam Israel e Palestina era uma colônia britânica – controlada pelo Reino Unido e habitada por judeus e árabes.

Desde o século 19 ensaiava-se a transformação de uma parte da colônia num Estado judaico à imagem e semelhança das fronteiras delimitadas pelo Velho Testamento. A proposta acabou ficou em banho-maria, já que os árabes da região também queriam a independência, só que para formar um país árabe ali.

Depois do Holocausto, a ideia de formar um Estado soberano para os judeus ganhou força. Em 1947, então, a ONU traçou um plano de partilha da colônia: os britânicos deveriam ir embora no ano seguinte, então um pedaço das terras vagas formaria Israel, e outra parte o Estado Palestino. Jerusalém, uma cidade sagrada para os dois grupos, não seria de ninguém. Ficaria sob “administração internacional” – habitado por judeus e palestinos, controlado pela ONU. Assim:

(Wikimedia Commons/Reprodução)

Mas faltou combinar com os russos. A rivalidade entre árabes e judeus já tinha deflagrado conflitos na região nas décadas anteriores. Logo que os ingleses começaram a arrumar as malas, começou uma guerra civil na colônia. E nada de o território virar dois Estados, muito menos a história de Jerusalém ficar nas mãos da ONU.

Em maio de 1948, os judeus deram um passo adiante: oficializaram a criação do Estado de Israel. O documento original de declaração de independência previa respeitar as fronteiras delimitadas pela ONU. Mas o líder dos judeus, David Ben Gurion, não via sentido prático nisso. “Nós aceitamos a resolução da ONU. Os árabes não.”, ele disse no ato da declaração. “Eles vão entrar em guerra conosco. Se nós vencermos, mais territórios irão fazer parte do Estado. Porque temos de aceitar fronteiras que os árabes já não aceitam de qualquer forma?”.

Dito e acontecido: os vizinhos árabes foram para a guerra. Israel venceu, e saiu do conflito com um território maior do que o da partilha original. Outros países, porém, assumiram o controle de parte dos territórios da ex-colônia britânica: a Faixa de Gaza acabou com o Egito e a atual Cisjordânia, com a Jordânia. E o mapa ficou assim:

(Wikimedia Commons/Reprodução)

Jerusalém, na borda da Cisjordânia, terminou dividida no final de 1948 – metade para os israelenses (“Jerusalém Ocidental”), metade para a Jordânia, (“Jerusalém Oriental”). Israel, então, decretou que sua parte de Jerusalém era a capital do país. O resto do mundo, para evitar atrito com os árabes, preferiu se manter fiel à resolução da ONU, e não reconhecer a posse de país nenhum sobre Jerusalém, pelo menos enquanto não houvesse um acordo definitivo entre os árabes e israelenses.

Em vez de acordo, porém, o que veio foi outro conflito: a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Israel venceu de novo. Tomou a Faixa de Gaza do Egito e tirou da Jordânia o controle sobre a faixa de Gaza e a outra metade de Jerusalém. Gaza e Cisjordânia não foram anexados oficialmente. Passariam a funcionar territórios semi-independentes, controlados pelas forças armadas de Israel e à espera da criação de um Estado palestino – o que nunca aconteceu. Jerusalém não: a cidade inteiro passou a fazer parte do Estado de Israel, e no papel de capital do país. A ONU e seus afiliados não concordaram: seguiram sem reconhecer a soberania israelense ali, pelo menos até que não houvesse um acordo definitivo com os árabes – o que nunca aconteceu.

Os países que têm relações diplomáticas com Israel sempre mantiveram suas embaixadas em outra cidade, Tel Aviv. É o caso do Brasil e, obviamente, dos EUA, mesmo com o país sendo o grande aliado histórico de Israel. Tão aliado que o congresso americano passou uma resolução, em 1995, dizendo que a embaixada americana deveria se mudar para Jerusalém. Todos os presidentes dos EUA desde então vetaram o projeto. Reconhecer oficialmente Jerusalém como capital de Israel era comprar briga com árabes de graça – e por um ato meramente simbólico, pois Israel já manda na cidade de um jeito ou de outro. Trump, porém, havia prometido para doadores de campanha pró-Israel que reconheceria Jerusalém. E cumpriu. A briga agora está comprada. E a esperança de uma solução para esse conflito de 70 anos, que já era pequena, agora diminui mais um tanto.

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