Texto Eduardo Szklarz
HIV
1. Por que alguns portadores do vírus da aids não desenvolvem a doença?
Até hoje, quase 30 anos depois de registrados os primeiros casos da doença, ninguém encontrou a resposta. Os sintomas iniciais da aids costumam aparecer entre 8 e 10 anos após a infecção pelo vírus HIV. Algumas pessoas, contudo, podem ficar décadas sem desenvolvê-los, ainda que não tomem remédio. São os “sobreviventes de longo prazo” (SLP), que representam 5% do total de infectados. O americano Kai Brothers, por exemplo, acredita ter contraído o vírus em 1981. Tinha 18 anos. Hoje, aos 47, continua sem apresentar o menor sinal da doença. Segundo o virologista Jay Levy, professor da Universidade da Califórnia (Ucla) e um dos pioneiros na identificação o HIV, a chave para o enigma provavelmente está nas células de defesa do organismo chamadas linfócitos T CD8. Elas funcionam como “soldados”, atuando na linha de frente contra vírus, bactérias e outros invasores. Mas dependem de ordens enviadas pelas células CD4 (os “generais”), sem as quais não conseguem desempenhar esse papel. É justamente nelas, as CD4, que o vírus da aids se instala para se multiplicar. Como o trabalho das CD8 é combater células infectadas, o resultado é uma espécie de curto-circuito no exército de defesa. Chega um momento em que o número de células CD4 presentes no sangue é tão baixo, em decorrência do ataque das CD8, que o sistema imunológico fica vulnerável a infecções oportunistas. É quando os sintomas da aids começam a se manifestar. “Os sobreviventes de longo prazo, porém, conseguem manter a defesa natural contra o vírus durante muitos e muitos anos”, diz Levy. “Nessas pessoas, as células CD8 produzem um fator antiviral capaz de bloquear a replicação do HIV sem matar as CD4 infectadas.” Para o virologista, é do estudo desse fator que poderá sair uma vacina efetiva contra a aids nos próximos anos. “Antes, acreditava-se que o vírus destruía o sistema imunológico de todos os portadores. Agora sabe-se que uma parcela deles pode sobreviver por décadas sem os sintomas. É por isso que estimulamos as companhias farmacêuticas a pesquisarem também o sistema imune, e não apenas o vírus.” Enquanto Levy aposta nas CD8, outros cientistas acreditam que a resposta está no CCR-5 – um receptor que atua como mensageiro entre as células. Por causa de um “defeito” genético, as células dos sobreviventes de longo prazo não têm esse receptor. E, sem ele, o HIV não consegue invadi-las. O problema dessa teoria, no entanto, é que ela explica apenas uma parte da história. “A falta do CCR-5 pode proteger as pessoas da infecção pelo tipo R5 do vírus”, afirma o pesquisador da Ucla. “Mas, quando elas são infectadas pelo tipo X4 [que usa o receptor CXCR-4r para se espalhar], a progressão da doença ocorre normalmente.” Uma terceira hipótese está relacionada às células dentríticas plasmacitoides (PDC). Elas produzem a proteína IFN-a, que também seria capaz de bloquear o vírus. Uma proteína desse tipo pode ser a explicação para o misterioso caso das “prostitutas de Nairóbi”. Nos anos 80, centenas de quenianas ficaram conhecidas assim porque mantinham relações com homens infectados pelo HIV, sem camisinha, mas não desenvolviam aids.
Pandemia de Aids
Infectados – 36,1 milhões.
Mortes desde 1981 – 25 milhões.
Sobrevida média – 20 anos (com tratamento); 10 anos (sem tratamento).
Países mais afetados – África do Sul, Botsuana, Lesoto, Moçambique, Suazilândia, Zâmbia, Zimbábue, Índia e Tailândia.
Fontes: Unaids e Avert.
Birita
2. O alcoolismo é incurável?
Para a maioria dos médicos, sim, o alcoolismo é incurável. Trata-se de uma doença complexa, que envolveria múltiplas causas de fundo hereditário, psicológico e social. O cardiologista francês Olivier Ameisen, no entanto, garante ter livrado a si próprio da dependência – embora sua suposta façanha seja vista com desconfiança pela maior parte da comunidade científica. Dono de uma carreira brilhante nos EUA, Ameisen foi professor da prestigiosa Universidade de Cornell, em Nova York, e sempre teve seu consultório frequentado por celebridades. Mesmo assim, sofria de ansiedade e baixa autoestima. Acabou encontrando no álcool um alívio. E pouco tempo depois já era um dependente. Nos anos 90, o cardiologista diz ter tentado de tudo para para se livrar do vício. Não conseguiu. Fechou sua clínica e retornou a Paris. Mas sempre teve a convicção de que a causa da doença era biológica – e que haveria, portanto, uma cura possível. Como sofria de espasmos nos músculos, começou a tomar 5 miligramas diários do relaxante muscular baclofeno. Então, veio a surpresa: “Comecei a dormir como um bebê e o impulso de beber diminuiu”. A partir daí, Ameisen se interessou por pesquisas que avaliavam o efeito do medicamento em animais. Em 2000, deparou-se com um estudo sobre ratos que, depois de ser levados à dependência de cocaína, libertaram-se do vício graças ao relaxante. Logo encontrou outros trabalhos que indicavam os mesmos resultados com camundongos viciados em heroína, anfetaminas e… álcool! Será que a substância funcionaria em humanos? “Decidi ser a cobaia”, lembra o cardiologista, que chegou a tomar 270 miligramas de baclofeno por dia. “Em poucas semanas, parei completamente de beber.” De acordo com Ameisen, o remédio age no cérebro por meio dos receptores GABA-B, relacionados com o controle da ansiedade. É ali que o álcool atua, relaxando a pessoa. O baclofeno entra nesses canais e produz o mesmo efeito. A diferença, segundo o cardiologista, é que não provoca dependência. Ele afirma que um experimento com 60 pacientes monstrou eficácia de 88%. Mas reconhece: será difícil convencer os colegas de que encontrou a cura para o alcoolismo. Sua suposta descoberta foi respaldada por Jean Dausset, Prêmio Nobel de Medicina. Mesmo assim, Ameisen continua enfrentando resistência. Segundo os críticos, tudo pode não ter passado de efeito placebo (leia mais na pág. 56).
Drogas
3. Algumas pessoas se viciam e outras não. Por quê?
Ninguém sabe ao certo por que certos indivíduos desenvolvem dependência química e outros não, apesar de consumirem as mesmas drogas, na mesma quantidade e pelo mesmo período. Mas há evidências cada vez mais concretas de que o vício seja uma doença do cérebro. Algumas pessoas apresentariam alterações em uma área chamada “sistema de recompensa”, responsável por receber estímulos de prazer e transmiti-los ao resto do corpo. É nessa área que as drogas atuam, gerando uma ilusão temporária que leva essas pessoas a consumi-las de forma compulsiva – não só para ter prazer mas para evitar o extremo mal-estar que a abstinência produz. “Nesses consumidores, alguns componentes do sistema de recompensa estariam desregulados. Portanto, a droga ajudaria a consertar um desajuste específico, impedindo a pessoa de interromper o vício sem ajuda”, diz Carl Erickson, diretor do Centro de Pesquisas sobre Dependência da Universidade do Texas, nos EUA. Ou seja: os entorpecentes, por si sós, não causariam dependência. A pessoa com predisposição – talvez genética – é que desenvolveria a doença ao ser exposta a uma droga. Isso explicaria por que alguns podem fumar maconha ou cheirar cocaína sem ficar viciados, enquanto outros jamais seriam capazes de conter a fissura.
QUANTOS USUÁRIOS VIRAM DEPENDENTES?*
Heroína- Acima de 30%
Crack – 17 a 20%
Cocaína – 16%
Álcool – 10 a 12%
Metanfetamina – 11%
Maconha – 8%
Fonte: Centro de Pesquisas sobre Dependência da Universidade do Texas.
* Dados não conclusivos.
Di-di-diga lá
4. O que provoca a gagueira?
Quase 2 milhões de brasileiros (aproximadamente 1% da população) apresentam alguma forma desse distúrbio. Uns repetem sons e sílabas (“E-e-era uma vez” ou “Era uma ve-vez”). Outros prolongam os sons (“Era uma vvvvez”). E há também os que sofrem bloqueios na hora de pronunciar as palavras (“Era uma… ….vez”). Ao contrário do que diz a sabedoria popular, gagueira não é contagiosa nem é fruto de nervosismo – embora muitos gagos fiquem ansiosos em função de sua dificuldade. De acordo com o Instituto Brasileiro de Fluência (IBF), ela provavelmente é causada pelo mau funcionamento de áreas do cérebro responsáveis pela automatização da fala. São os chamados “núcleos de base”, que não conseguem ajustar bem o tempo de duração dos sons e das sílabas. De acordo com o especialista britânico David Ward, diretor do Laboratório de Ciências da Linguagem da Universidade de Reading, na Inglaterra, crianças com parentes de 1o grau que sejam gagos têm 3 vezes mais risco de gaguejar também. Essa concentração em famílias indica, segundo Ward, que a gagueira pode ter um componente genético em sua origem. No entanto, mesmo quem tem predisposição só desenvolve o distúrbio ao interagir com o ambiente. Outras causas estariam ligadas a lesões na estrutura do cérebro durante a gestação – falta de oxigênio, prematuridade ou traumatismos, por exemplo.
Ronda noturna5. Qual seria a causa do sonambulismo?Em crianças, ninguém sabe ao certo. Cansaço, poucas horas dormidas e ansiedade são apenas candidatos a explicar por que cerca de 30% delas apresentam essa desordem do sono. Os especialistas também suspeitam de um fator hereditário. Os episódios começam uma ou duas horas depois que a criança dorme, geralmente antes da fase REM (a do movimento rápido dos olhos, período no qual é mais comum a manifestação dos sonhos). As funções motoras despertam, enquanto a consciência continua dormindo. Assim, o sonâmbulo pode sentar na cama, ficar de pé, fazer movimentos repetitivos e até perambular pela casa, mas não sabe o que está acontecendo. Os eventos podem durar de poucos segundos a vários minutos, e se repetir durante a noite. À medida que a criança cresce, o sonambulismo tende a desaparecer sem deixar vestígios. Por isso, é considerado um distúrbio benigno. Já nos adultos, a prevalência é bem menor (4%) e pode estar relacionada a transtornos mentais, reações a drogas ou álcool, estresse, problemas de respiração no sono, refluxos gástricos ou esquizofrenia, entre outros fatores não totalmente conhecidos.
Hic! Hic! Hic!
6. Por que soluçamos?
O soluço geralmente é provocado pela irritação do nervo frênico, que controla o diafragma – principal músculo envolvido na respiração. Quando sensibilizado, o nervo ordena que ele se contraia junto com os músculos intercostais (entre as costelas), fazendo você inalar o ar subitamente. A contração vem acompanhada do fechamento da glote, uma abertura na entrada da laringe, localizada justamente entre as cordas vocais. O resultado é a vibração das cordas, gerando aquele barulhinho embaraçoso: hic, hic, hic. Os médicos listam uma enorme quantidade de causas prováveis para o fenômeno. Difícil é saber qual delas está por trás de cada um dos milhares de soluços que damos durante a vida. Comer demais e se encher de refrigerantes, por exemplo, podem fazer o estômago se distender a ponto de incomodar o nervo frênico. Tabagismo, consumo de álcool, estresse e ansiedade também contribuem para o espasmo involuntário. Outro fator é a mudança abrupta de temperatura – tomar sopa quente e beber água gelada em seguida, ou entrar na ducha fria logo depois da sauna, e por aí vai. Até mesmo um feto no 3o mês de gestação pode soluçar, indicando que as causas estariam presentes já nos primeiros estágios do desenvolvimento. Também não há consenso sobre o que fazer para espantar o soluço. Prender a respiração, tomar água com o nariz tampado e levar um susto são artimanhas que podem ter lá sua ciência. O mais garantido, porém, é simplesmente esperar alguns minutos até que o soluço simplesmente vá embora.
UM TREMENDO PROBLEMA*
O americano Charles Osborne detém o recorde mundial da mais longa crise de soluços: o problema durou 68 anos, de 1922 a 1990. ‘ Outro caso impressionante foi o do músico britânico Chris Sands. Estima-se que ele tenha soluçado mais de 20 milhões de vezes durante uma crise que o acometeu durante 3 anos seguidos, entre 2006 e 2009. ‘ Numa crise rotineira, costumamos soluçar de 5 a 25 vezes por minuto.
* Fontes: Guinness Book, The Sun e Super Biologia.
Fora da real
7. O que provoca a esquizofrenia?
Esquizofrenia é um problema sério, que atinge 1% da população mundial (2 milhões de pessoas apenas no Brasil). Durante as crises, os doentes costumam perder o contato com a realidade: têm alucinações, escutam vozes, deliram. Já no dia a dia, podem apresentar déficit de memória, ansiedade acima do normal e depressão. Embora permaneça sem cura, já se sabe muita coisa sobre a doença. Mas sua origem continua sendo mistério. Estudos indicam que ela tem um componente genético e neurodesenvolvimental – ou seja: ainda no útero, o feto começa a sofrer uma alteração em seu sistema nervoso. Esse quadro vai progredindo na infância e na adolescência, até aparecerem os sintomas. A maioria dos especialistas acredita que os surtos acontecem justamente por causa desse desenvolvimento cerebral anormal. Ele geraria um desequilíbrio na produção de substâncias que regulam a troca de informações entre os neurônios, como a dopamina e o glutamato. “Acreditamos que ocorra um excesso dessas substâncias em certas regiões do cérebro, e uma diminuição em outras”, diz o psiquiatra Jaime Hallak, professor da Faculdade de Medicina da USP. Mas o que provoca esse desequilíbrio? Ninguém arrisca cravar uma resposta. Parte do mistério pode ser elucidada com uma explicação genética. Quando o pai é esquizofrênico, o risco de seu filho também ser chega a 10%. Já quando pai e mãe sofrem da doença, essa probabilidade salta para 25%. O problema é que a matemática dos genes ainda não resolve a equação por completo. “Mesmo conhecendo o padrão genético, não sabemos quais genes atuam na esquizofrenia”, afirma o psiquiatra. Pesquisas recentes sugerem que fatores ambientais também estão ligados ao desenvolvimento da doença. Mudanças drásticas na vida de uma pessoa podem resultar num estado de estresse incomum, levando-a a um penoso processo de reorganização. Nessa fase de adaptação, a esquizofrenia tenderia a se manifestar entre os que apresentam propensão genética. Segundo os defensores dessa tese, perder uma pessoa amada ou ir morar no exterior elevaria o risco de 1% para 3%. E quem fumou muita maconha na adolescência estaria 10 vezes mais sujeito a virar esquizofrênico na fase adulta – desde que também apresente predisposição.
Mundo à parte
8. Qual é a origem do autismo?
Eis uma das perguntas que mais desafiam a medicina. E não é a única envolvendo essa doença. Pergunte a qualquer médico: por que o autismo é 4 vezes mais comum em meninos que em meninas? Ele não será capaz de responder. São tantos os mistérios relacionados à disfunção que, para muitos especialistas, ela não é apenas uma, mas várias doenças. A Sociedade Americana de Autismo, por exemplo, define-a como um conjunto de transtornos que afetam suas vítimas – sempre até os 3 anos de idade – com diferentes graus de intensidade. Estudos de gêmeos idênticos indicam que a desordem pode ser, pelo menos em parte, de natureza genética – quando ocorre em um dos irmãos, tende a ocorrer no outro também. Mas há evidências, por outro lado, de que a origem do autismo esteja associada a infecções virais, como a rubéola congênita. As especulações não param por aí. Alguns pesquisadores acreditam que o desenvolvimento do autismo pode estar ligado também à fenilcetonúria – uma doença herdada, que decorre da falta ou ausência total de uma enzima chamada fenilalanina hidroxilase. E certos trabalhos científicos sugerem ainda uma relação entre o autismo e a síndrome do X frágil (assim chamada por ser resultado de uma alteração no cromossomo X). Certo mesmo é que os autistas geralmente apresentam uma tremenda dificuldade para interagir e se comunicar com o mundo ao seu redor. É por isso que, no passado, acreditava-se que o transtorno tivesse origem psicológica. Hoje, não se cogita mais essa hipótese.
Casca grossa
9. Qual é a doença do homem-árvore?
Olhe bem para Dede Koswara, o pescador indonésio da foto ao lado. Seu corpo foi tomado por verrugas gigantes, que parecem troncos de árvore. O fenômeno começou aos 15 anos, quando Dede caiu e cortou o joelho. As “raízes” começaram a crescer sobre os pés e as mãos, impedindo-o de estudar e trabalhar. Alvo de zombaria dos vizinhos, ele foi deixado pela mulher. E precisou se virar para cuidar dos dois filhos: ganha uns trocados como atração de um de show de bizarrices em Jacarta, capital da Indonésia.Os médicos indonésios nunca foram capazes de identificar a doença do “homem-árvore”. Como seu sangue tem poucos glóbulos brancos (células de defesa), muitos pensaram que ele havia contraído aids, mas os testes descartaram essa hipótese. Em 2007, o dermatologista americano Anthony Gaspari anunciou ter elucidado o mistério: as “raízes” seriam provocadas pelo vírus papiloma humano (HPV). Dede teria nascido com uma mutação genética que impede seu sistema imune de combater as verrugas. Segundo Gaspari, o vírus “sequestrou” a maquinaria celular de sua pele, ordenando-a a produzir formações epiteliais conhecidas como “chifres cutâneos”. Professor da Universidade de Maryland, nos EUA, o dermatologista soube do caso ao ver o homem-árvore num documentário de TV. Pouco tempo depois, viajou para a Indonésia e começou a tratar o pescador com altas doses de vitamina A. “Os galhos não vão desaparecer, mas diminuirão a ponto de ele poder usar as mãos de novo”, afirma o médico. Dede também se submeteu a uma cirurgia que cortou quase 2 quilos de “troncos”. Assim, finalmente pôde ver seus dedos novamente, depois de 10 anos. Há poucos meses, o pescador já conseguia calçar chinelo, comer sozinho e até mandar mensagens pelo celular. O tratamento vai bem, embora a hipótese do HPV não tenha sido 100% confirmada. Hoje, aos 37 anos, o homem-árvore sonha com uma vida nova. “O que mais quero é um emprego”, ele diz. “E, quem sabe, me casar novamente.”
Gu gu, dá dá
10. Como uma jovem de 17 anos pode parecer um bebê?
Como outras adolescentes americanas, Brooke Greenberg adora passear no shopping. O problema é que ela precisa ir de fralda e acomodada num carrinho de bebê. Aos 17 anos, Brooke tem a aparência de um neném de apenas 10 meses: mede 76 centímetros e pesa 7,5 quilos. “Ela é adorável. Parou de envelhecer na idade certa”, diz o pai, Howard Greenberg. Sem saber qual é o mal que acomete a garota, os médicos apelidaram-no de “síndrome X”. Para o pesquisador Richard Walker, da University of South Florida, nos EUA, Brooke teria sofrido uma mutação em um ou mais genes que controlam o desenvolvimento. Assim, ao contrário do que parece, o corpo dela não está congelado no tempo – apenas não funciona como um organismo unificado. Cada parte envelhece numa velocidade diferente. Os ossos são de uma menina de 10 anos, por exemplo. Já os dentes são de uma garota de 6. Seu cérebro tem menos de 1 ano: ela reconhece os pais e as 3 irmãs, mas não consegue falar nem andar. Unhas e cabelo, por outro lado, crescem normalmente. Para a pequena Brooke, não há esperança de cura. Já para a ciência, sua condição pode ser chave para o desenvolvimento de uma droga capaz de frear o envelhecimento.
On the rocks
11. Por que este homem não sente frio?
E bota frio nisso! Aos 51 anos, o holandês Wim Hof coleciona 9 recordes no Guinness por suas façanhas. Uma delas foi ficar com o corpo submerso no gelo, de sunga, durante 1 hora e 13 minutos. O “homem-gelo”, como ficou conhecido, também mergulhou no Polo Norte e disputou uma meia maratona descalço na Finlândia, a 25 graus Celsius negativos, usando apenas um shortinho. Nessas condições, o sistema cardiovascular de qualquer pessoa entraria em colapso. Mas Hof não se abala: em vez de entrar em hipotermia (uma queda de temperatura que pode levar à morte), seu corpo se estabiliza em torno dos 35 graus, o que lhe garante um metabolismo normal. “Consigo controlar meu termostato”, ele brinca. O médico americano Kenneth Kamler, autor do livro Surviving the Extremes (“Sobrevivendo aos Extremos”, inédito no Brasil), acredita que a resistência de Hof venha das conexões de seu cérebro. “O mesmo controle mental que utilizamos para regular o coração quando temos medo poderia ser usado para controlar outros órgãos.” Pode ser também que Hof pratique a técnica de meditação Tumo, usada por monges do Tibete para tolerar o frio. Se for isso, Hof seria a única pessoa a dominar essa técnica sem ser monge.
Em algum lugar do passado
12. Por que a gente não se lembra da 1a infância?
Tente buscar lá no fundo da memória a lembrança de algo que tenha ocorrido com você antes dos 3 anos de idade. Difícil, não? A maioria de nós só consegue resgatar flashes daquela época, às vezes nem isso. A ciência ainda não desvendou o segredo desse fenômeno, conhecido como amnésia infantil. Mas as primeiras peças do quebra-cabeça já começam a ser encaixadas. Para alguns cientistas, a explicação está numa parte do cérebro chamada hipocampo. O psicólogo Lynn Nadel, da Universidade do Arizona, nos EUA, diz que temos dois tipos de memória: uma para episódios e eventos, outra para habilidades e hábitos. A primeira está ligada ao hipocampo. Usando imagens de ressonância magnética, Nadel observou, em 7 pessoas idosas, que o hipocampo se iluminava quando elas acessavam memórias específicas do passado recente (um diálogo, por exemplo) e do passado distante (aprender a dirigir). Já a memória implícita – habilidades e hábitos que adquirimos com o tempo – envolve outras partes do cérebro, como a amígdala. De acordo com o psicólogo, o sistema da amígdala já está plenamente desenvolvido quando nascemos, enquanto o hipocampo só amadurece depois. Seria por isso, segundo Nadel, que os eventos da nossa 1a infância podem deixar um registro emocional e influenciar hábitos e conhecimentos implícitos, sem deixar nenhum traço dos episódios no hipocampo. Já a psicóloga Alexandra Horowitz, da Universidade de Colúmbia, também nos EUA, aposta em outra teoria: não guardamos lembranças daquilo que ocorre antes dos 3 anos porque, até essa idade, ainda não temos pleno domínio da linguagem – ou seja, não somos capazes de ponderar, categorizar e armazenar nossas experiências. “Podemos, é claro, guardar recordações físicas de eventos, pessoas e até pensamentos”, diz Alexandra, “mas o que chamamos de lembrança talvez seja algo facilitado apenas com o advento da competência linguística”. A terceira hipótese é a da autoconsciência. De acordo com essa tese, as memórias estão ligadas ao senso que cada um tem de si mesmo. Como a criança só passa a ter autoconsciência em torno dos 2 anos de idade (consegue se reconhecer numa foto, por exemplo), não recordamos dos fatos anteriores a essa etapa. As recordações podem até estar armazenadas no cérebro, mas não conseguimos entendê-las.
Vida moderna
13. Por que os casos de asma se multiplicaram nos últimos anos?
No Reino Unido, um dos lugares que mais sofrem com a asma, os casos da doença aumentaram 5 vezes nos últimos 25 anos. O avanço da enfermidade varia de um país para outro, mas os especialistas alertam: já estamos diante de uma pandemia. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), neste momento ela afeta cerca de 300 milhões de pessoas ao redor do planeta. Asma é uma inflamação crônica das vias respiratórias. Nas crises, a reatividade dos brônquios aumenta ainda mais, causando chiado no peito, tosses e falta de ar. Sabe-se que a doença envolve fatores genéticos e ambientais. Muita gente tem predisposição genética e nunca a desenvolve, enquanto outros manifestam os sintomas ao serem expostos a poeira, fumaça de cigarro e produtos químicos, entre outros “gatilhos”. Mas a explicação para o aumento de casos verificado nos últimos anos é motivo de polêmica. De acordo com a Sociedade Portuguesa de Pneumologia, uma das causas pode ser o estilo de vida ocidental. As pessoas estão mais expostas aos malefícios do tabaco, à poluição e às infecções, além de viverem em contato frequente com substâncias químicas (como produtos de limpeza). A alimentação também pode estar por trás do aumento, e não apenas pelo excesso de aditivos e conservantes. Um estudo do Royal Children´s Hospital, na Austrália, indica que uma dieta rica em gorduras poli-insaturadas (presente em margarinas e óleos vegetais) pode dobrar o risco de asma em crianças. Automedicação é outro provável gatilho. Um estudo do Instituto de Pesquisas Médicas da Nova Zelândia concluiu que o analgésico paracetamol – largamente usado no mundo todo para baixar a febre – aumentou em 46% o risco de asma em crianças de 31 países. E o estresse, um dos males mais típicos da vida moderna, também é apontado como possível vilão. Um levantamento feito pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA mostrou que milhares de americanos expostos aos atentados do 11 de Setembro desenvolveram asma nos 6 anos posteriores. Boa parte deles inspirou a poeira levantada pelo desabamento das Torres Gêmeas. E nada menos que 36% também apresentaram sintomas de estresse pós-traumático depois do atentado.
A asma no Brasil
8ºLUGAR – Nossa posição no ranking dos países com maior número de asmáticos.
2,2 MILHÕES – Número aproximado de visitas ao pediatra todo ano motivadas pela asma.
250 MIL – Internações hospitalares anuais em decorrência da asma e suas complicações.
2,2 MIL – Mortes provocadas pela asma a cada ano durante a hospitalização.
Fonte: Ministério da Saúde (2009).
Anatomia I
14. Por que pessoas nascem sem digitais?
Esse mistério tirou o sono dos médicos durante décadas. Eles sabiam que a ausência das papilas dérmicas (digitais) era comum aos portadores de duas doenças congênitas: a síndrome de Nagali e a dermatopatia pigmentosa reticularis (DPR). A primeira atinge uma pessoa em cada grupo de 3 milhões – ou 2 500 indivíduos no mundo todo. A outra é ainda mais rara e tem sintomas parecidos. Além da falta de digitais, as vítimas das duas enfermidades apresentam unhas quebradiças, dentes frágeis e manchas escuras no corpo. A palma das mãos e a sola dos pés são tão grossas que impedem a transpiração. Os médicos tinham todas essas pistas, mas faltava desvendar a origem das doenças – e, de quebra, o enigma das digitais. O enigma parece ter chegado ao fim em 2006. Naquele ano, pesquisadores do Instituto de Tecnologia Technion, em Israel, anunciaram a descoberta de um gene mutante que provoca a síndrome de Nagali e a DPR. Segundo eles, a mutação ocorre no gene que codifica uma proteína chamada queratina 14 (KRT14). Esse defeito aciona um mecanismo de morte celular programada (apoptose) na pele durante a gestação. Assim, em vez de nascerem com os desenhos das papilas dérmicas, essas pessoas vêm ao mundo com a superfície dos dedos completamente lisa. Como até hoje o estudo dos israelenses não foi contestado, tudo leva a crer que a mutação do KRT14 seja mesmo a causa das doenças – aliás, da doença. “As duas desordens são causadas por mutações no mesmo domínio [o gene KRT14]. Por isso, agora acreditamos que sejam, na verdade, uma só”, afirma Jennie Lugassy, líder da equipe, em artigo publicado no The American Journal of Human Genetics.
Anatomia II
15. Para que serve o apêndice?
Muita gente tem a resposta na ponta da língua: serve só para inflamar. Tanto que sua retirada não compromete a saúde de ninguém. Até pouco tempo atrás, os cientistas achavam que esse pequeno tubo ligado ao intestino grosso era um órgão vestigial – ou seja, um resquício da evolução. Sua função original teria se perdido com algum de nossos antepassados. Em 2007, contudo, houve uma reviravolta. Cientistas da Universidade Duke, nos EUA, publicaram um estudo sugerindo que o apêndice serve de abrigo para bactérias que ajudam na digestão. A estrutura promoveria a proliferação da flora intestinal (o playground dos micro-organismos “do bem” que vivem em nosso aparelho digestivo), ajudando, assim, a repor os desfalques causados por uma eventual infecção. Outra teoria sugere que o apêndice contribui para as defesas do corpo, já que nele se aglomeram células linfoides, produtoras de anticorpos. Essa seria sua principal função num passado remoto. Hoje, no entanto, o que esse órgão realmente promove é a apendicite. Ela atinge 0,25% da população e pode até matar. É por isso que, em caso de inflamação, o melhor mesmo é remover o dito-cujo.
Anatomia III
16. Como é possível alguém nascer com os órgãos invertidos?
Cerca de 0,01% das pessoas possui os órgãos internos posicionados do lado contrário, como se estivessem diante do espelho. A medicina tem um nome para isso: situs inversus. Na maioria dos casos, a transposição não afeta a qualidade de vida desses indivíduos. Muitos, aliás, só descobrem sua condição ao fazer uma cirurgia. Foi o caso do indiano Ashok Shivnani, provavelmente o sujeito com a disposição de órgãos mais estranha do mundo. Ele estava a ponto de ser operado para a retirada de um tumor no abdome quando os médicos descobriram tudo “fora de lugar”: o coração ficava do lado direito e, claro, as veias e artérias estavam invertidas. Em vez de um fígado grande, Ashok tem dois pequenos. Ele não possui intestino delgado, e o intestino grosso é bem menor do que o normal. A causa do situs inversus ainda não foi inteiramente esclarecida. No entanto, especialistas já identificaram pelo menos um gene que atuaria no processo. Diversos outros fatores, ainda desconhecidos, também estariam por trás da inversão. A única certeza é a de que 25% das pessoas com esse quadro também apresentam discinesia ciliar primária (DCP) – uma doença genética que prejudica o transporte de secreções pelas vias respiratórias, favorecendo a proliferação de bactérias.
Mal feminino
17. Por que o câncer de mama atinge cada vez mais mulheres?
A incidência de câncer de mama no mundo ocidental cresceu 30% no último quarto de século, segundo a Sociedade Americana de Câncer (ACS). E nada indica que a situação vá mudar. Só no Brasil, estima-se que 49 mil novos casos da doença serão diagnosticados em 2010. Qual seria a explicação para estatísticas tão dramáticas? Parte da resposta é óbvia: o número de ocorrências está aumentando porque as mulheres estão indo mais ao médico. Mas isso não esclarece todo o mistério. Há várias hipóteses, e uma delas diz respeito ao estilo de vida da mulher moderna – cujo impacto sobre os padrões reprodutivos já está comprovado. No início do século 20, a primeira menstruação acontecia por volta dos 17 anos. As mulheres casavam cedo, engravidavam em seguida e ficavam sem menstruar até o fim da amamentação. Logo depois, tornavam a engravidar. E esse ciclo tendia a se repetir até a menopausa, por volta dos 40 anos de idade. Resultado: ao longo da vida, a mulher menstruava só algumas dezenas de vezes. “Isso significa que o tecido mamário era menos exposto à ação do estrógeno, pois a produção desse hormônio diminui durante a gravidez e o aleitamento”, diz a cancerologista Raquel Andrade Ribeiro. “E sabemos que ele estimula o crescimento de grande parte das neoplasias [alterações celulares] da mama.” Passados 100 anos, a fisiologia feminina mudou. Hoje, as mulheres começam a menstruar mais jovens, com 11 ou 12 anos. Também ficam grávidas mais tarde, têm menos filhos e entram na menopausa só depois dos 50. “Portanto, os ciclos menstruais e as alterações dos níveis de estrógeno se repetem exaustivamente”, afirma Raquel. “Daí o maior risco.” Outros comportamentos típicos da vida moderna parecem estar colaborando para o aumento dos casos de câncer de mama. Entre eles, destacam-se o sedentarismo e as dietas alimentares muito ricas em gordura. Mas as investigações científicas que tentam associá-los à maior incidência do câncer ainda não são conclusivas. Quanto ao consumo diário de bebidas alcoólicas e ao uso de anticoncepcionais, não há dúvidas: eles aumentam o risco – só não se sabe em que medida. Seja como for, boa parte dos casos nada tem a ver com esses fatores. Estima-se que uma em cada 10 mulheres que desenvolvem a doença tenha herdado algum tipo de anormalidade genética que a tornou mais suscetível.
Um mal galopante
Câncer de mama é o 2o tipo de câncer mais frequente no mundo, e o mais comum entre as mulheres.
Trata-se da maior causa de morte entre as brasileiras, principalmente dos 40 aos 69 anos (mais de 11 mil óbitos anuais).
No mundo todo, cerca de 1 milhão de mulheres recebem o diagnóstico da doença anualmente.
Para cada 100 mulheres diagnosticadas com câncer de mama, apenas um homem desenvolve a doença.
Fonte: Instituto Nacional do Câncer e Sociedade Beneficente Israelita Brasileira.
Loteria
18. Por que apenas metade das fertilizações in vitro resulta em gravidez?
Meses atrás, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a classificar infertilidade como doença. Não é para menos: de cada 100 casais em idade reprodutiva, 15 não conseguem ter filhos. No caso de mulheres acima de 36 anos, a incidência é ainda maior por causa do envelhecimento dos óvulos – as células sexuais femininas. Para solucionar o problema, muita gente recorre à fertilização in vitro (FIV). O tratamento funciona assim: primeiro, o médico estimula a ovulação múltipla controlada na mulher (em vez de liberar um óvulo no mês, ela vai liberar vários); em seguida, ele induz o amadurecimento dessas células, colhe as melhores e injeta nelas o sêmen do marido; depois, verifica quantos óvulos foram fertilizados e acompanha o desenvolvimento dos embriões em laboratório (daí o nome in vitro); por último, o médico transfere para o útero alguns desses embriões (no máximo 4). E toda a família faz figa. É justamente aí que começa o mistério. “A taxa de gravidez com a FIV não passa de 50%”, afirma o especialista em fertilidade Selmo Geber, professor da UFMG e diretor da Rede Latino-Americana de Reprodução Assistida. Segundo Geber, o grande enigma é a implantação – o momento em que os embriões “grudam” no útero. Ela só ocorre em metade das mulheres, quando o esperado, por se tratar de um processo controlado, seria ocorrer em todas. Para uma mulher de até 35 anos que tenta engravidar normalmente, por meio de uma relação sexual, a chance de sucesso não passa de 20%. O motivo é simples: a concepção natural está sujeita a muitas variáveis. Pode ser que a mulher não tenha ovulado naquele mês ou que o folículo (bolsa que guarda o óvulo) esteja vazio. Pode acontecer também de o espermatozoide não chegar a tempo até o óvulo, ou chegar e não fecundá-lo. Mesmo que a fecundação ocorra, é possível ainda que não se forme um embrião. E, por último, existe a possibilidade de o embrião, apesar de formado, acabar não “grudando” no útero. “Já na fertilização in vitro, só existe essa última variável”, diz Geber. Mesmo assim, a gravidez só ocorre em metade dos casos. E olha que são transferidos até 4 embriões para o útero! Por que isso acontece? Ninguém faz a mínima ideia. Certeza, só há uma: é preciso insistir quando a primeira tentativa de engravidar com FIV não dá certo. Segundo o especialista, 85% das mulheres engravidam após 3 tentativas.
Imaginação
19. Como funciona o efeito placebo?
Se você fosse um pesquisador que desejasse testar a eficácia de um medicamento, uma boa forma seria dividir os pacientes em dois grupos. Um deles tomaria pílulas da droga. O outro receberia pílulas idênticas, mas que conteriam farinha, açúcar ou qualquer outra substância sem efeito farmacológico. Pode apostar: no final, pelo menos 30% dos pacientes do segundo grupo relatariam alívio dos sintomas. Sim, embora tivessem tomado um remédio de mentirinha, diriam que a ansiedade diminuiu, a dor passou, a depressão sumiu… Tudo porque estariam crentes de que o medicamento era de verdade. No jargão médico, isso é o efeito placebo. O nome vem do latim – placere, “agradar”. Trata-se de um fenômeno que já deu origem a milhares de artigos científicos, mas ninguém conseguiu descobriu até agora qual é a lógica de seu mecanismo. “A única certeza é a de que não são os placebos que causam o efeito placebo”, afirmam os pesquisadores Daniel E. Moerman, da Universidade de Michigan, e Wayne B. Jonas, da Universidade de Bethesda, em um artigo escrito a quatro mãos. “Placebos são inertes. Portanto, não causam nada.” Se o efeito placebo não é causado pela ação da substância, de onde ele vem? Moerman e Wayne apresentam uma hipótese: a resposta dos pacientes pode ser devida ao significado que eles atribuem ao placebo. Em 1972, estudantes de medicina nos EUA participaram de um estudo sobre duas novas drogas: um tranquilizante e um estimulante. Todos receberam comprimidos azuis ou vermelhos – ambos inertes. Eis as respostas dos estudantes: 1) Os comprimidos vermelhos agiam como estimulantes e os azuis, como tranquilizantes; 2) Dois comprimidos faziam mais efeito que apenas um. Segundo os cientistas, foi tudo fruto do significado que os voluntários deram à pílulas e às cores (“vermelho é quente, azul é frio”). O mesmo aconteceria com os doentes. Outra hipótese: o efeito placebo teria origem em um reflexo condicionado involuntário do corpo a algum estímulo do ambiente. Lembra-se da experiência do russo Ivan Pavlov com cães? Ao escutar um sino, eles começavam a salivar. Da mesma forma, é possível que haja uma conexão entre um fator externo (placebo) e uma função orgânica dos seres humanos. Nesse caso, não importariam as propriedades da substância, mas a mente das pessoas. Uma terceira teoria sugere que qualquer atenção por parte de médicos e familiares já produz reações positivas no corpo do doente. Essa atenção pode ser uma palavra de apoio ou até uma cirurgia de mentira. Foi o que aconteceu com o veterano de guerra americano Sylvester Colligan, que sofria de um problema no joelho. Levado à sala de cirurgia, Colligan foi anestesiado e acordou com 3 incisões na perna. Em poucos dias, voltou a andar normalmente. Só depois de dois anos ele soube que a operação havia sido simulada.
Otimismo
20. Pensamento positivo: ele é capaz de curar?
Para o nadador holandês Maarten van der Weijden, que se livrou de um câncer recentemente, pensamento positivo não cura doença alguma. “Acho até perigosa essa ideia. Ela sugere que você vai perder se não pensar positivamente. Foram os médicos que me salvaram, sou apenas um sujeito sortudo”, afirma o campeão de natação. Diversos estudos, no entanto, indicam que ver o copo “meio cheio” ajuda mais que vê-lo “meio vazio”. Um deles, produzido por pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos EUA, acompanhou 100 mil mulheres acima dos 50 durante 8 anos. E concluiu que as otimistas tinham risco 9% menor de ter problemas cardíacos e 14% menor de morrer por qualquer causa relacionada à idade (câncer e ataque cardíaco, por exemplo). Segundo outra pesquisa, desta vez levada a cabo na Universidade Ben Gurion, em Israel, mulheres que passam por situações muito difíceis, como a perda de familiares ou um divórcio, têm mais risco de desenvolver câncer de mama. O estudo israelense verificou que essas mulheres tendem a relatar problemas de depressão e ansiedade antes do diagnóstico. “Esses dados sugerem que o otimismo é protetor e que o pessimismo é prejudicial quando se fala em desenvolvimento de várias doenças, especialmente as do coração”, diz a médica americana Laura Kubzansky, da Universidade Harvard. “Mas ainda falta descobrir muita coisa sobre os mecanismos envolvidos nessa proteção.”
Fé na ciência
21. Estamos longe da cura?
AIDS
Debilita o sistema imune de sua vítima, deixando-a vulnerável a uma série de infecções oportunistas.
1981 – A doença é descrita pela primeira vez. No ano seguinte, seriam confirmados os primeiros casos no Brasil.
1984 – Cientistas descobrem o retrovírus considerado agente causador da doença – mais tarde batizado de HIV.
1986 – Os EUA aprovam o uso do medicamento AZT, primeiro a dar resultados positivos no tratamento da aids.
2009 – O número de contaminados pelo HIV chega a 33,4 milhões no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.
PESQUISAS MAIS PROMISRAS – Duas investigam as células CD-8 e o receptor celular CCR-5 nos sobreviventes de longo prazo (leia mais na pág. 41). Uma terceira se concentra nas células dentríticas plasmacitoides, que produzem uma proteína – a IFN-a – capaz de bloquear o vírus.
ALZHEIMER
Doença degenerativa do cérebro que afeta a memória, compromete o raciocínio e acaba levando à morte.
1906 – A origem da doença (acúmulos de proteína no córtex cerebral) é descrita pelo neurologista alemão Alois Alzheimer.
Anos 60 – Os cientistas reconhecem que Alzheimer é uma doença. Até então, achavam que era parte do envelhecimento.
1993 – Identificado um gene mutante da apolipoproteína, que responderia por até 25% dos casos de Alzheimer
2009 – Mais 4 genes ligados ao Alzheimer são identificados, ampliando as possibilidades de combate à doença.
PESQUISAS MAIS PROMISRAS – Cientistas japoneses estudam a proteína “humanina”, produzida no cérebro. No futuro, ela poderá ser usada para frear a morte de células nervosas nos doentes. Outra esperança vem de pesquisadores suecos, que testam drogas capazes de estimular células-tronco a substituir os neurônios destruídos pela doença.
PARKINN
Também ataca o sistema nervoso – comprometendo movimentos, mas sem afetar a capacidade intelectual.
1817 – O cientista britânico James Parkinson descreve a desordem neurológica pela primeira vez.
1961 – A substância Levodopa começa a ser usada em doentes de Parkinson. Ela não cura, mas alivia os sintomas.
1984 – Mohamed Ali anuncia que sofre da doença. Especula-se que os golpes recebidos durante a carreira sejam a causa.
2006 – Pesquisadores de Harvard, nos EUA, sugerem que longa exposição a pesticidas aumenta o risco de Parkinson.
PESQUISAS MAIS PROMISRAS – Cientistas da Universidade do Colorado, nos EUA, descobriram que o gene DJ-1 pode evitar a morte das células nervosas atacadas pela doença, e trabalham no desenvolvimento de uma droga que estimule seu bom funcionamento. Tratamentos neuroprotetores também são pesquisados por outras instituições.
CÂNCER
Mais de 100 doenças caracterizadas pelo desenvolvimento de células tumorais.
1873 – O inglês Campbell de Morgan descobre que o câncer surge localmente e se espalha pelo corpo (metástase).
1910-1920 – A polonesa Marie Curie coordena os primeiros estudos para tratamento de tumores usando radioatividade.
1991 – Mutações do gene p53 são associadas a vários tipos de câncer (hoje, sabe-se que ele está ligado a 50% dos casos).
1993 – Estudo feito nos EUA prova que fumaça de cigarro causa câncer e põe fim à controvérsia sobre fumantes passivos.
PESQUISAS MAIS PROMISRAS – Depois de descobrir que o bloqueio de um gene causador da doença – o Skp2 – força células tumorais a envelhecer e morrer, pesquisadores de Harvard desenvolveram uma droga que já está na fase de testes. A partir dela, acredita-se ser possível criar medicamentos capazes de extirpar células cancerígenas.