Não. Apesar de tudo o que se discutiu nos últimos 36 anos sobre esse lance que decidiu a Copa do Mundo daquele ano em favor do time da casa, é preciso ter muito boa vontade para achar que aquela bola entrou. Aos 9 minutos do primeiro tempo da prorrogação, quando o jogo estava 2 x 2, Hurst apanhou um cruzamento da direita e virou para o gol, caindo. A bola cobriu o goleiro Tilkowski e bateu no travessão. Caiu perto ou sobre a linha e voltou para a pequena área, de onde o zagueiro alemão Weber a afastou para escanteio.
Ora, pelas leis da física uma bola que se choca com o travessão, cai no chão e volta, provavelmente caiu fora do gol. Para cair dentro do gol e voltar para fora dele, seria preciso que: a) o chute tivesse um efeito tal que produzisse essa trajetória inusitada; b) a bola tivesse uma imperfeição que a fizesse quicar daquela forma; ou c) uma falha do terreno tivesse impulsionado a bola para trás quando ela bateu no chão. Ainda que nenhuma das três hipóteses possa ser descartada (lance assim aconteceu no jogo Brasil 1 x 0 Espanha, em 1986, numa bola chutada pelo espanhol Michel), é pouco provável.
Infelizmente, nenhuma imagem, em foto ou filme, captou o momento exato em que a bola toca o chão. Mesmo os fotogramas dos filmes mostram a bola um momento antes ou um momento depois da queda. Mas, uma foto da agência Hulton Getty, mostra a bola a poucos centímetros de chegar ao solo. Pela posição da sombra, é possível determinar que, no instante em que a bola cai, sua sombra estaria sobre a linha. Como para o gol ser consignado é preciso que ela ultrapasse inteiramente a “linha fatal”, pode-se afirmar com segurança que a bola não entrou.
Apesar da frase que até hoje o autor do gol não se cansa de repetir: “Ela entrou por um metro”. OK, Hurst, OK.