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A recomendação dos “10 mil passos por dia” nasceu como uma estratégia de marketing

É claro que caminhar faz bem, mas você não precisa se desdobrar para atingir essa meta diária. O número surgiu como propaganda do primeiro pedômetro vendido comercialmente.

Por Maria Clara Rossini
12 nov 2021, 18h27

Tomar dois litros de água, comer cinco porções de frutas, dar 10 mil passos por dia. Você provavelmente já ouviu essas recomendações – mas dificilmente consegue seguir alguma delas. Mas saiba que você não precisa cumprí-las à risca. A recomendação dos 10.000 passos diários, por exemplo, provavelmente nasceu como uma estratégia de marketing do primeiro pedômetro disponível comercialmente.

Não que caminhar seja ruim, claro – a atividade só traz benefícios para a saúde. A questão aqui é o número “10.000”. Um estudo de 2019 mostrou que mulheres que davam 4.400 passos por dia apresentavam menores taxas de mortalidade em comparação com aquelas que andavam menos de 3.000. A taxa continuou caindo até atingir 7.500 passos. A partir daí, a pesquisa não constatou nenhuma queda significativa de mortalidade.

Mas não fazemos caminhada apenas para viver mais. Há também as melhores no bem-estar que acompanham a atividade física, que não foram avaliadas neste estudo. Talvez, a recomendação pudesse ser “quanto mais, melhor”, ao invés de cravar um número específico.

 

Então de onde vieram os 10 mil passos? Do Japão. Em 1965, a empresa Yamax lançou o “manpo-kei”, o primeiro dispositivo comercial que calcula o número de passos do usuário. A palavra “manpo” virou sinônimo de pedômetro no Japão, mas ela também pode ser usada para representar o número 10 mil. O ideograma (kanji) para o número 10.000, inclusive, se assemelha a uma pessoa andando: 万

A marca fez seu nome com o slogan “Saúde com 10.000 passos por dia”. A epidemiologista I-Min Lee, professora da Universidade de Harvard que investigou essa meta diária, diz que o número foi criado como uma estratégia de marketing para vender pedômetros. 

E deu certo. 10 mil é um número fácil de lembrar e de ser divulgado pela mídia. Hoje em dia, a maioria dos dispositivos e aplicativos de monitoramento de saúde já vem com a meta dos 10 mil passos configurada. 

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Se esforçar para manter a meta pode ser algo bom. Outro estudo, de 2018, mostrou benefícios na saúde mental e física de pessoas que se comprometeram a dar 10 mil passos por dia. Devido a estudos como esse, o número acabou pegando – e a recomendação, de fato, não está errada.

Um terceiro estudo da Universidade do Texas mostrou que andar menos de cinco mil passos por dia diminui a capacidade do corpo de metabolizar gordura no dia seguinte, o que aumenta as chances de desenvolver doenças cardiovasculares e diabetes.

A Organização Mundial da Saúde recomenda pelo menos 150 minutos de atividade moderada por semana – ou 75 minutos de atividade intensa. Mudanças simples como caminhar para o trabalho ou separar alguns minutos para fazer atividade física em casa podem ajudar a atingir esse objetivo. O importante é encontrar jeitos de se movimentar  – o que não significa necessariamente andar em círculos na sala de estar.

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