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A vacina BCG pode diminuir os casos de coronavírus?

As evidências ainda são inconclusivas, mas uma pesquisa mostra que os países que aplicam essa vacina tendem a apresentar menos casos e mortes por Covid-19

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 13 mar 2024, 10h01 - Publicado em 8 abr 2020, 18h31

Sabe aquela marquinha que você tem no braço direito desde criança? Ela significa que você tomou a vacina BCG, que protege contra a tuberculose. Se a vacina não deixou a marquinha em você, não precisa se desesperar – às vezes a cicatriz acaba sumindo com o tempo, mas a BCG é obrigatória no Brasil, e por isso há enormes chances de que você a tenha recebido quando era bebê. 

Essa não é a realidade de todos os países. Muitos deles não incluem a BCG como vacina obrigatória para a população e ela acaba sendo usada apenas em casos específicos. É o que acontece nos Estados Unidos, na Itália e na Espanha, países que concentram o maior número de casos e mortes por coronavírus no mundo.

Ainda não se sabe se a vacina contra a tuberculose tem algum impacto no SARS-CoV-2, mas pesquisadores de Nova York encontraram uma possível correlação entre o surto e os países em que a vacina é obrigatória. Uma prévia do estudo foi publicada na medRxiv, mas ele ainda não passou por revisão por pares.

A pesquisa analisou o avanço e a mortalidade do coronavírus entre 9 e 24 de março em 178 países. As nações que apresentam um programa universal de vacinação (o que inclui a vacina BCG), têm até 10 vezes menos casos e mortes por Covid-19 a cada milhão de habitantes.

Claro que é importante levar em consideração outros fatores ao analisar o impacto da pandemia em cada país: há quantos dias o vírus está circulando, nível de isolamento social, políticas públicas, quantidade de testes feitos, dentre outros. No entanto, a presença ou não de uma política de vacinação universal também pode ser relevante.

A BCG costuma ser empregada em locais endêmicos ou mais expostos à tuberculose, como países em desenvolvimento. O mapa abaixo mostra a política adotada por cada país em relação ao uso da vacina. Os países em amarelo possuem um programa de vacinação universal que inclui a BCG. Os em roxo costumavam recomendar o uso da BCG no passado, mas abandonaram o programa. E os em laranja nunca adotaram a política de vacinação.

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(The BCG World Atlas: A Database of Global BCG Vaccination Policies and Practices/Superinteressante)

A diferença é mais visível entre Portugal e Espanha. Apesar de serem países vizinhos, Portugal contabiliza 380 mortos pela Covid-19, enquanto a Espanha já soma mais de 14 mil óbitos. O país lusófono possui um programa de vacinação universal que inclui a BCG (assim como o Brasil), enquanto o outro não adota mais a mesma política.

Outro caso citado pelos autores é o do Japão e Irã. O Japão adota a política de vacinação da BCG desde 1947, enquanto o Irã só aderiu em 1984. Esse atraso pode ser uma das explicações para a diferença nas taxas de mortalidade dos países. O Japão teve 93 mortes até agora, enquanto o Irã está perto de atingir 4 mil. Como a política foi implementada antes no Japão, mais pessoas, inclusive idosos, estariam imunizados.

Mas é bom lembrar que a correlação estatística não implica necessariamente em um fator de consequência. Um comunicado da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia ressalta que o estudo (que ainda não foi revisado) não pode ser usado como recomendação clínica. “Não é possível recomendar a vacinação com o BCG fora da rotina do Programa Nacional de Imunizações. Ressaltamos que há contraindicação da BCG em muitas formas de imunodeficiência primaria e secundária, com risco de graves efeitos adversos”, diz a nota.

O que já se sabe é que, apesar de a vacina ter como objetivo proteger contra a tuberculose, ela também reforça o sistema imune em crianças, diminuindo as chances de outras infecções por vírus e bactérias. Um estudo feito ao longo de 25 anos em 150 mil crianças mostrou uma redução de 40% de infeções respiratórias em pessoas que haviam recebido a vacina BCG na infância. Outro estudo também relaciona a vacina com a redução de infecções respiratórias em idosos.

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Uma revisão publicada pela Organização Mundial da Saúde em 2017 concluiu que a BCG apresenta benefícios que vão além da proteção contra a tuberculose, e recomendou que fossem feitas mais pesquisas sobre ela.

Uma equipe de cientistas começou a fazer testes com a vacina na Austrália para verificar sua eficácia contra o novo coronavírus. 4 mil profissionais da saúde que estão na linha de frente no combate ao SARS-CoV-2 vão passar pelo teste e receber doses da vacina BCG ou de um placebo, para verificar se ela possui impacto em diminuir os sintomas da Covid-19.

Esse é apenas um de diversos testes que estão sendo feitos com a vacina BCG. O mesmo vem ocorrendo nos Países Baixos, Grécia, Reino Unido e cientistas de Boston também pretendem começar testes em breve. O intuito não é substituir o desenvolvimento de uma vacina específica ao coronavírus, mas sim analisar uma alternativa já existente que possa minimizar o impacto da pandemia, principalmente em profissionais da saúde, que estão mais expostos.

Os resultados dos testes devem sair em alguns meses. É importante que a vacina não seja usada de forma indiscriminada, pois muitas crianças, principalmente em países subdesenvolvidos, dependem da vacina para se protegerem contra a tuberculose. Felizmente, boa parte dos brasileiros já é imunizada.

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A BCG existe há mais de 100 anos. Ela começou a ser desenvolvida em 1908 e foi testada em humanos em 1921. No Brasil, ela começou a ser usada em 1927 e passou a ser obrigatória em crianças a partir de 1976. No entanto, a cobertura vacinal do Brasil vem caindo nos últimos anos, o que levou, por exemplo, à volta dos casos de sarampo, que já havia sido erradicado no país.

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