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Devemos usar menos exames para prevenir o câncer?

Os EUA estão desaconselhando a realização de mamografias e outros testes. Mas o que eles adotam como rotina não deve ser assumido automaticamente por outros países.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 jan 2023, 21h19 - Publicado em 25 jan 2012, 22h00

Nise Yamaguchi

Todo médico deve pensar duas vezes antes de indicar um exame. Especialmente em se tratando de testes relacionados à prevenção do câncer, que causa tanto temor na população. Exames inadequados podem levar a procedimentos desnecessários, provocar dor e tensão. Um exemplo é a detecção de P.S.A. no sangue, usado para identificar câncer de próstata. Alterações no teste eventualmente conduzem a biópsias e à extração da próstata. A partir de uma idade avançada, porém, há pacientes que não vão desenvolver a doença e, em tumores bastante precoces, os riscos da remoção não compensam: pode haver dor, incontinência urinária e impotência. A solução cirúrgica deve ser muito bem avaliada.

A partir de questões como essas e de novas pesquisas, o órgão do governo dos EUA que define políticas de prevenção recomendou em outubro que homens saudáveis não sejam mais submetidos ao P.S.A. De acordo com o órgão, o teste não salva vidas – não é capaz de demonstrar a diferença entre os tipos de tumor e, portanto, pode levar a eventuais procedimentos desnecessários. Recomendação parecida foi feita há dois anos com relação à mamografia e ao papanicolau, usados no diagnóstico de câncer de seio e colo de útero. Em vez da rotina anual para mulheres acima de 40 anos, a mamografia passou a ser indicada apenas para acima dos 50 e a cada 2 anos. Já o papanicolau seria indicado a cada 3 e não 1 vez por ano. Antes que esse tipo de conduta seja considerado pela classe médica internacional, porém, é bom deixar algumas coisas claras, sem desmerecer meus colegas.

A decisão dos EUA é baseada em novas pesquisas que questionam a eficiência desses exames, mas também ocorre num contexto de pressão para financiar seu novo programa de saúde. O país conhece suas necessidades. Lá, o índice de contaminação por HPV é muito baixo se comparado ao brasileiro. E o papanicolau é um valioso mecanismo para identificar casos iniciais. O mesmo vale para a mamografia. Ocorre que, no Brasil, ainda há um grande número de mulheres que não tem acesso aos exames diagnósticos ou não os procuram por questões socioculturais.

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Nem todo câncer precisa ser manipulado, retirado ou tratado, mas todo paciente tem o direito de conhecer as contraindicações e de ter acesso aos melhores tratamentos. Se isso vale para as necessidades de cada um, vale também para o conjunto dos países. E cada população tem características distintas.

Antes de recomendar menos exames, o Brasil precisa tratar adequadamente a todos. E reconhecemos que se esforça muito nesse sentido. As nações devem identificar suas necessidades, trocar informações e estar atualizadas com as pesquisas de ponta. Só assim podem definir a melhor política para garantir a saúde de seus cidadãos.

* Nise Yamaguchi é assessora do Gabinete do Ministro da Saúde em São Paulo, diretora da Sociedade Brasileira de Mulheres Médicas e professora da Faculdade de Medicina da USP. Os artigos aqui publicados não representam necessariamente a opinião da SUPER.

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