Deve ter sido uma das maiores catástrofes do sistema solar: um corpo do tamanho de Marte (cerca de 6 800 quilômetros de diâmetro) choca-se contra a Terra e arranca um enorme pedaço da sua crosta, dando origem à Lua. Essa teoria, chamada de colisão planetária (veja 1), foi formulada em 1946 pelo geólogo Reginald Daly, da Universidade de Harvard, Estados Unidos, e até hoje é vista com muita antipatia, principalmente porque não explica a origem dos outros 54 satélites dos demais planetas.
Todo trabalho científico busca, em primeiro lugar, mecanismos universais que esclareçam a existência e o funcionamento de todos os corpos de uma mesma família. E este não é o caso da teoria da colisão planetária. Uma trombada assim deve ter sido extremamente rara, senão única, ao longo dos quase 5 bilhões de anos do sistema solar. Mas, gostemos ou não, é justamente a idéia que vem ganhando o apoio da maior parte dos estudiosos do sistema solar.
A credibilidade da teoria aumentou muito nos últimos anos, com a análise dos dados coletados pela missão Apolo. A quantidade de tório e urânio encontrada nas rochas lunares atesta que a Lua nasceu ao mesmo tempo que a Terra, há cerca de 4,5 bilhões de anos. Quer dizer, o que resta hoje na Lua desses materiais “corroídos” pela radioatividade corresponde ao que existe no nosso planeta.
Existem outras semelhanças: a proporção do chamado isótopo 18 do oxigênio nas rochas lunares é idêntica à existente nas rochas terrestres. (Isótopos são átomos com o mesmo número de prótons e diferente número de nêutrons.) Como a proporção de isótopos varia de ponto para ponto do sistema solar, isso elimina a hipótese de que a Lua tenha se originado em regiões muito distantes. Ou seja, está descartada a teoria de que a Lua teria sido capturada pela Terra
Outra teoria rejeitada e que vinha se mantendo com sucesso por quase um século é a da fissão, que afirma que a Lua é filha da Terra. Numa primeira análise, ela explicaria por que a Lua gira próxima à linha do equador da Terra, a densidade do satélite, que é muito parecida com a do manto terrestre (camada de rocha entre o núcleo e a crosta), e a igual proporção de isótopos de oxigênio 18.
Mas as semelhanças param por aí. O solo lunar é muito mais rico do que a Terra em materiais refratários, que se evaporam apenas em altíssimas temperaturas (alumínio, cálcio e tório) e muito mais pobre em elementos voláteis (potássio, sódio, bismuto e tantálio). Quer dizer: ao contrário da Terra, a Lua já nasceu seca, sem minerais que armazenam água.
O satélite poderia ter surgido também da condensação da nuvem de poeira que gerou todo o sistema solar e a Terra. É a teoria do duplo planeta. Mas como explicar as diferenças entre a composição do solo lunar e terrestre? E como a poeira conseguiu velocidade suficiente para se manter em órbita da Terra?
Assim, a teoria da colisão planetária vai ganhando pontos. O choque de um grande corpo no estágio final da formação da Terra não é impossível. Naquele tempo, circulavam entre os planetas alguns planetóides, do tamanho de Marte. Se um deles bateu de raspão com o planeta, na região do equador, deve ter colocado em órbita uma enorme quantidade de material. A alta temperatura gerada na trombada teria feito evaporar os materiais voláteis, deixando apenas os refratários para o satélite que surgia.
Estaria explicado também por que a Terra gira tão rápido: o choque no equador, no mesmo sentido da rotação do planeta, teria lhe dado um empurrão, fazendo com que ele completasse uma volta em torno de si mesmo em apenas 24 horas, enquanto Vênus, por exemplo, precisa de 243 dias.A teoria da trombada explica aparentemente tudo. Só não explica como surgiram as outras luas do sistema solar. Por isso, é antipática. Mas, até alguém ter idéia melhor, temos de nos curvar a seu sucesso.