E se… não conseguíssemos enxergar as cores?
Se fôssemos completamente daltônicos, você estaria enxergando tudo em diferentes variações de cinza.

Olhe a sua volta. Imagine tudo isso sem cor. O site da Super, os móveis do seu quarto, a roupa que você está vestindo, o seu tom de pele! Se fôssemos completamente daltônicos, você estaria enxergando tudo em diferentes variações de cinza.
Se isso acontecesse do dia para a noite, como aconteceu em 1970 com Jonathan I., um pintor de 65 anos que bateu seu carro contra um caminhão e sofreu um derrame de conseqüências raras, a vida se tornaria difícil.
“Você pode pensar que a perda dessa capacidade não é tão importante, mas para mim pelo menos, foi horrível”, disse ele ao neurocientista Oliver Sacks (o relato está no livro Um antropólogo em Marte). Usamos cores para quase tudo: organizar a cidade, mostrar nossa personalidade e facilitar a leitura de informações.
Nossa visão está totamente adaptada a elas. Nossos olhos têm cerca de 130 milhões de receptores de luz e cor, divididos em dois grandes grupos: os bastonetes, que são responsáveis pela visão acromática (em preto-e-branco), e os cones, responsáveis pela sensibilidade dos olhos à cor.
Mas se todos nós nascêssemos sem os cones e, portanto, sem a capacidade de ver o verde, o amarelo ou o azul, criaríamos um mundo adaptado às nossas necessidades. “Objetos e construções teriam mais formas e texturas, e usaríamos os outros sentidos para interagir com o mundo e com as pessoas”, diz a designer gráfica Márcia Okida, membro da Associação Pró-Cor do Brasil, uma entidade que reúne pesquisadores e artistas interessados no estudo e na difusão de conhecimentos sobre a cor.
Preto no branco
Como seria um mundo sem cor alguma
NOVOS FORMATOS
“Sem cores, viveríamos num mundo cheio de formas geométricas”, diz Márcia Okida
Arquitetura e urbanismo
1. Para chamar a atenção dos clientes, lojas teriam fachadas bem ousadas
2. Para transmitir informações, como o trajeto dos ônibus em grandes cidades, precisaríamos recorrer a formatos distintos
Moda
3. Para que o mundo da moda não caísse na total monotonia, estilistas explorariam novas modelagens
4. Penteados e cortes de cabelo assimétricos seriam usados para nos diferenciarmos uns dos outros
Artes
5. A pintura não teria papel de destaque nas artes plásticas. Esculturas e instalações seriam nossa principal forma de manifestação artística
MAIS SENTIDOS
Hoje, a visão é nosso sentido mais estimulado. Sem as cores haveria menos apelo visual e passaríamos a usar os outros sentidos com mais freqüência
Na quitanda
6. Levaríamos mais tempo para realizar atividades simples, como escolher uma fruta. Um tomate maduro, por exemplo, teria de ser detectado pelo cheiro e consistência
Nas prateleiras
7. Sem o recurso multicolorido das embalagens e rótulos, publicitários teriam de se esforçar um bocado para vender esse ou aquele produto. “Imagino que alguns usariam recursos fônicos para atrair o comprador…”
8. “…Outros fariam embalagens que lembrassem o conteúdo do produto. Leite, por exemplo, poderia vir num pacote em forma de tetas de vaca”, diz Márcia Okida.
DE OLHO NA LUZ
Se só tivéssemos as células visuais conhecidas como bastonetes, seríamos melhor adaptados à escuridão. Isso porque elas são mais sensíveis à luz
Kit-sobrevivência
9. No mundo em preto-e-branco, todos usariam óculos escuros. Mais sensíveis à luz, seria preciso proteger os olhos em momentos de muita claridade
10. Lanternas também seriam úteis para driblar sombras que dificultam a visão. “Aprendi que uma mesma cor terá um diferente tom de cinza dependendo da iluminação”, diz o médico daltônico Knut Nordby que carrega sempre uma lanterna
Nas lojas
11. “Superfícies brilhantes produzem reflexos que tornam muito mais difícil ver o que está por trás delas”, diz Nordby. Para continuar atraindo quem passa pela rua, lojas teriam vitrines sem vidros