Lusa Silvestre *
Se vem um americano daqueles róseos e gorduchos, fã de beisebol e de basquete, e escuta o que se comenta do Ricardo Teixeira, nossa mãe: vai achar que o cara é um pária, um bandoleiro, um fracassado, e que – por conseqüência – o futebol nacional por ele comandado está gangrenado e fétido, com moscas ao redor. Não é bem assim: Ricardo Teixeira tem lá os seus defeitos, mas também não é esse bandido todo que pintam. Pelo contrário.
Começando pelos fatos. Ricardo Teixeira entrou na CBF (Confederação Brasileira de Futebol) em 1989, substituindo Otávio Pinto Guimarães. Logo no ano seguinte, jogamos a Copa da Itália. Era a primeira Copa da gestão e tudo ali foi errado. Começando pela escolha do técnico: Sebastião Lazaroni, que de bom só fez um comercial para a Fiat. Os jogadores entraram em rota de colisão com a CBF por causa de bichos, o camisa 10 era o Ricardo Rocha ou o Silas – quem lembra? –, uma bola fora atrás da outra. Ali, Ricardo Teixeira errou e o castigo veio a Caniggia: perdemos. Agora, nas outras, ele acertou: ganhamos as Copas de 1994 e 2002 e fomos vice em 1998. Percebe a grandiosidade disso? Somos penta mundiais. Entre a gente e as segundas colocadas – as tricampeãs Itália e Alemanha – tem uma Argentina de diferença. Futebol é resultado, e o homem comandou o Brasil em duas vitórias e um vice, além do bronze olímpico com a masculina e da prata com a feminina. Faltou o ouro – culpa dos garotos do time, que pediram emprestado o salto alto da seleção feminina.
Os ranzinzas também acusam Ricardo Teixeira de ter se eternizado no poder, de ser reeleito quatro vezes fazendo alianças espúrias, blá, blá, blá. Tudo muito ingênuo. Política se faz assim, com alianças espúrias. FHC foi eleito de braço dado com o PFL, Lula entrou no Planalto aos beijos com o PL e dia desses jantava com o Antônio Carlos Magalhães. Sem isso não se elege, não se governa. Nem vou falar que o próprio Pelé tem uns sócios duvidosos porque não quero ser excomungado aqui. Quem acusa não entende de política e de futebol. Futebol é momento; em time que está ganhando não se mexe. Se o Ricardo Teixeira continua pondo taças na prateleira, fica. Simples.
Outra coisa: Ricardo Teixeira é acusado de não ser lá muito íntegro. Em suma, dizem que rouba. Certo. Cadê prova? Cadê o comprovante de depósito nos paraísos fiscais? Investigam a vida do cara de cima a baixo e ainda não apareceu substância para nenhuma condenação. Ok, tem a tal choperia que ele montou no Rio com equipamentos trazidos no vôo do tetra em 1994, mas não foi apenas ele que exagerou, quase todo mundo burlou a alfândega (como se ninguém fizesse isso). O lateral Branco, por exemplo, trouxe uma geladeira. Por mim, depois daquele gol de falta contra a Holanda, geladeira é pouco. Branco podia ter trazido junto toda a produção da Budweiser que tudo bem.
Falam também que os clubes estão falidos. Sério, isso é culpa da CBF? Já viram o nível dos nossos cartolas? Tem gente ali que não acerta uma concordância verbal desde a estréia de Leônidas. Quer maior prova de má administração do que dever para o governo, atrasar salário do elenco e ainda assim importar jogador da Europa por uma fortuna? Não tem como funcionar.
E há mais provas da injustiça inercial contra o Ricardo Teixeira. Não queriam campeonato de pontos corridos? Temos. Aliás, um bem sem graça. Não queriam calendário unificado com a Europa? Está prometido para o ano que vem. Não queriam uma Copa do Mundo? A de 2014 está garantida, e olha que isso foi conseguido no muque, já que os estádios daqui nem privada têm. Nossa seleção parou uma guerra no Haiti. O centroavante do time vai casar com a Daniella Cicarelli. Ganhamos a Copa América com o time reserva (e da Argentina!). Certo, ele ainda tem muito que fazer pelo futebol. Essa palhaçada de perder jogador para a Ucrânia ou para a Turquia no meio do campeonato tem que acabar, urgente. Da nossa parte, também urgente, temos que arranjar outro para pegar no pé. O Galvão Bueno está aí para isso mesmo.
*Lusa Silvestre é publicitário