Futebol , o jogo da vida
Mesmo quem não liga para futebol lembra onde estava no dia em que perdemos aquela Copa, no dia em que ganhamos aquela outra.
André Fontenelle, editor
Copa do Mundo para nós, brasileiros, é muito mais que Copa do Mundo: é um marco assentado em nossas vidas de quatro em quatro anos. Mesmo quem não liga para futebol lembra onde estava no dia em que perdemos aquela Copa, no dia em que ganhamos aquela outra. (Estou empregando a primeira pessoa do plural porque, evidentemente, se ganhamos ou perdemos é por nosso mérito ou culpa coletivos. Aqueles 11 caras dentro do campo são meros representantes de nossos sonhos e frustrações.)
A jovem equipe responsável por este especial da Super, Todos os Segredos da Copa do Mundo, por exemplo, pertence à geração que perdeu aquele jogo no Sarriá, na tarde de 5 de julho de 1982. Celso Unzelte, um dos jornalistas desta edição, havia acabado de acordar em seu lar paulistano. “Já pensou se o Brasil perde hoje, pai?”, perguntou. “Imagina, meu filho, não tem como!” Outro repórter destas páginas, Fabio Volpe, quase ficou sem ver o jogo: os pais se atrasaram para um churrasco em Atibaia, SP. Antes tivessem chegado tarde mesmo: Volpe nem tocou na carne depois.
Adriano Silva, diretor de redação da Super, também perdeu a fome naquele dia em que a Itália nos tirou da Copa. Era um guri de 11 anos e morava em Santa Maria, RS. “Ninguém jantou, ninguém disse uma palavra, ninguém assistiu novela naquele fim de dia.” Valmir Storti, que assina duas reportagens nesta edição, jogou no lixo a camisa da Seleção, comprada num camelô de São Bernardo, SP, na qual ele pintara à mão o número 11 – de Éder. E a mim coube chorar a cada gol de Paolo Rossi num apartamento de Copacabana. A culpa por aquela injustiça, afinal, era de todos nós (está certo que o Gentile, ao agarrar o Zico pelo pescoço ao longo de todo o jogo, também teve sua parcela).
Claro, outras gerações que também participaram da realização de Todos os Segredos da Copa do Mundo têm a sorte de não carregar esse peso. Caso dos designers Guilherme Oliveira e Diana Helman, que tinham respectivamente 7 e 1 ano em 1982 e não sofreram na carne aquela derrota. Talvez esteja por vir a lembrança futebolística que marque a vida dos dois. Que ela seja alegre. E que ocorra, quem sabe, este mês, no Japão.
Por tudo isso, caro leitor, se futebol e Copa do Mundo são um tema tão vasto e fascinante a ponto de merecer esta edição especial da Super, é porque, de certa forma, ao falar dele é de nossas próprias vidas que estamos falando. Boa leitura.