A história é científica, mas poderia servir de enredo para um filme de espionagem. Foi assim: no início de dezembro, os russos anunciaram um antídoto para o ebola, o vírus que há anos destroça populações africanas com a rapidez do fogo em palha seca. Para os russos, o vírus podia ser controlado pela imunoglobulina G, uma das substâncias de defesa do corpo. A imunoglobulina, tirada de cavalos na experiência russa, teria curado 100% dos pacientes tratados. Estranho é que a fonte original da notícia, o doutor Viktor Mikhailov (pronuncia-se mirrailóv), não é conhecido co-mo pesquisador médico, mas sim como físico e Ministro da Indústria e da Energia Nuclear da Rússia (até 1992). Ainda mais interessante: a imunoglobulina aparentemente estava sendo pesquisada num laboratório secreto para desenvolver armas biológicas. Os pesquisadores americanos que estão testando a imunoglubulina acham que o laboratório teria condições de produzir o vírus do ebola em massa, para ser usado como arma em caso de guerra biológica. A substância seria, então, um antídoto para proteger os próprios soldados russos que utilizassem a arma. Os americanos ainda não conseguiram repetir a imunização que os rus-sos alegam ter obtido. Os ratos testados acabam sempre derrubados pela doença. Mas resistem durante um bom tempo, o que já é um sinal positivo. “Não há dúvida de que a imunoglobulina retarda a ação do vírus”, explicou Peter Jahrling, do Instituto de Doenças Infecciosas do Exército dos Estados Unidos. Essa boa notícia não é surpresa para você, leitor: na matéria “No encalço dos microassassinos”, a editora Lúcia Helena de Oliveira adiantou que não seria difícil achar a cura do ebola (veja em SUPER, ano 9, número 7). Realmente, não levou mais do que três meses para surgir a primeira pista. E na opinião de Jahrling trata-se de uma boa pista.