A cura de doenças como a leucemia pode estar na cabeça do próprio paciente. Não é nenhum poder paranormal, mas um transplante inédito de células do cérebro para dentro dos ossos. Aí, pasmem, leitores, elas viram células sanguíneas. A demonstração foi dada por uma equipe capitaneada pelos neurobiologistas Angelo Vescovi, italiano, do Instituto Nacional Carlo Besta, em Roma, e Christopher Bjornson, canadense, da Universidade de Washington, em Seattle. Do organismo de ratos eles extraíram neurônios novos, ainda em estágio de formação (veja ao lado). Depois, os colocaram na medula óssea de outros bichos. É no miolo dos ossos que se produz o sangue (lá existem microartérias pelas quais ele entra na circulação). Cinco meses depois da transferência, os cientistas perceberam que, dentro do esqueleto, os candidatos a células cerebrais tinham se transformado em personagens do sangue, que são os glóbulos vermelhos, os glóbulos brancos e as plaquetas. “Imagino que o corpo dos animais tenha enviado sinais químicos capazes de provocar a metamorfose”, explicou Bjornson à SUPER.
Mudança de especialização
Veja como células que deveriam virar neurônios aprenderam a se transformar em sangue.
1. Os cientistas retiraram porções da medula óssea de um grupo de camundongos e deixaram um espaço vago ali.
2. Depois, de outros camundongos, extraíram células recém-formadas no cérebro. Jovens, elas deveriam virar neurônios.
3. Nestes filhotes, os pesquisadores grudaram uma substância marcadora, que seria fácil identificar em um exame posterior. O passo seguinte foi injetar as células marcadas no espaço aberto dentro dos ossos daquele primeiro grupo de ratos.
4. Cinco meses depois, amostras tiradas das artérias desse grupo revelaram células sanguíneas assinaladas. Conclusão: os neurônios-bebês tinham virado sangue.