Os próximos passos na recuperação dos meninos resgatados na Tailândia
Foram dias vivendo em temperatura baixa, sem alimentação, pouco oxigênio e expostos a todo tipo de bactéria
Após 17 dias presos em uma caverna inundada na Tailândia, os 12 garotos de um time de futebol amador e seu técnico finalmente foram resgatados, em uma operação delicada com três dias de duração. Mas nove dias sem comer em um ambiente inóspito não são para qualquer um – isso, sem contar as consequências psicológicas da experiência.
A maioria dos rapazes não está em estado de saúde grave, os médicos garantem. No entanto, uma autoridade do departamento de saúde da Tailândia, Thongchai Lertwilairattanapong, disse que não haverá “abraços ou toques” até que exames de sangue provem que os meninos estão livres de infecções. Eles foram colocados em quarentena e estão sob observação enquanto realizam uma bateria de exames de todos os tipos.
Mas quais são, de fato, os riscos que os rapazes correm? Em entrevista ao jornal Los Angeles Times, Roger Mortimer, coordenador da região ocidental da National Cave Rescue Commision disse que a primeira preocupação da equipe que atende os meninos seria, provavelmente, com a leptospirose.
A doença vive em roedores e pode ser transmitida pelo contato físico com a sua urina, através da água. A doença pode ser fatal e é muito comum no sudeste da Ásia, onde ocorreu o resgate.
Além disso, as temperaturas baixas a que os rapazes foram expostos podem facilitar a vulnerabilidade à pneumonia, além de provocar hipotermia. O primeiro rapaz a ser resgatado apresentou sinais de ambos os quadros. Todos os demais estava com temperaturas corporais muito abaixo do normal quando chegaram ao hospital.
Mas não basta tratar esses males relativamente esperados após o resgate. Os meninos ainda precisam ser reintroduzidos, tanto física quanto psicologicamente, à vida normal após o resgate.
Readequação à vida normal
Boa parte dos garotos perdeu a noção de tempo durante o incidente – quando resgatados, alguns deles perguntaram quanto tempo passou desde o desabamento. A culpa disso é a exposição prolongada ao escuro.
O reajuste à claridade, portanto, está sendo feito aos poucos. Para isso, os meninos estão usando óculos escuros em tempo integral.
Infelizmente, eles também não puderam matar a fome do jeito que gostariam. Depois de 9 dias sem comer, os seus pedidos para um jantar tradicional Tailandês não pôde ser atendido. Por mais difícil que seja negar um desejo tão simples, realizá-lo poderia ser perigoso.
Uma refeição normal poderia causar complicações depois de tanto tempo de jejum forçado. Em vez disso, a alimentação está sendo reintroduzida aos poucos, com mingau, pães e uma dieta rica em fibras.
Já as questões psicológicas precisarão ser analisadas à longo prazo – como mostram exemplos do passado. Alguns dos mineiros chilenos que ficaram presos em 2010 ainda sofrem com problemas de saúde mental relacionados à experiência, com dificuldades até de conseguir trabalhar.
Segundo Sarita Robinson, professora de psicologia da Universidade Central de Lacanshire, no Reino Unido, dá para ter esperanças de um destino melhor para os meninos.
De acordo com seu artigo publicado no The Conversation, ela afirma que o fato deles estarem confinados em grupo (e ainda serem amigos) pode ter promovido mais resiliência emocional e ajudado os rapazes a manter o equilíbrio necessário na situação.
Ainda assim, eles poderão sofrer com ansiedade, ataques de pânico, fobias e outros sintomas do estresse pós-traumático. Nas gravações, sorriam e brincavam entre si, o que é um ótimo sinal, mas só um acompanhamento constante pode dizer se haverá alguma sequela.
Apesar das dificuldades pela frente, dá para dizer que não aconteceu o pior que poderia acontecer. Agora os meninos só precisam esperar um pouco mais pelo banquete.