Perda do olfato pode ser sintoma de infecção pelo novo coronavírus
Estima-se que ao menos 30% dos infectados por Covid-19 deixem de sentir cheiros. Um estudo de cientistas de Harvard entendeu como o vírus causa o problema.
Dor de garganta, febre, tosse seca prolongada e falta de ar são os principais itens da lista de sintomas da Covid-19. Mas um estudo feito por pesquisadores da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, indica que um outro efeito da infecção pelo novo coronavírus pode estar ganhando menos atenção do que deveria: a perda do olfato.
As conclusões iniciais sobre como o Sars-CoV-2 pode causar anosmia – ou perda da habilidade de sentir cheiros – em pacientes da doença viraram um estudo científico ainda não publicado, mas que você pode consultar neste link.
O estudo analisou genes de humanos e camundongos para medir o impacto do novo coronavírus no sistema olfatório. A suspeita inicial dos pesquisadores é que as células nervosas responsáveis pelo olfato é que seriam afetadas pela ação do vírus. Mas a análise molecular mostrou que não é isso que acontece.
Segundo os pesquisadores, existem células do epitélio da parte posterior do nariz que são portadoras de um gene específico. Esse gene expressa uma molécula que facilita a entrada do Sars-CoV-2 – o que as torna alvo do vírus. Após adentrarem tais células, o coronavírus as destrói de dentro para fora. Assim, consegue usá-las para se reproduzir em grandes quantidades.
O dano principal causado pelo invasor é fazer as células nasais perderem estruturas parecidas com cílios que elas têm nas extremidades. Esses pelinhos são essenciais à tarefa de capturar moléculas de cheiros que entram pelo nariz. Com menos células do tipo funcionando, o olfato do paciente acaba prejudicado.
Um levantamento feito pelo King’s College, Universidade do Reino Unido apontou para a mesma conclusão. O estudo analisou respostas de 579 pessoas diagnosticadas com Covid-19 em um aplicativo. 59% desse pacientes declarou ter perdido em algum grau sua capacidade de sentir odores.
Vale ressaltar que os resultados de ambos os estudos ainda são preliminares. Ou seja, ainda é preciso novos estudos antes de cravar a perda da habilidade de cheirar como sintoma da Covid-19. Ainda assim, há dados suficientes para se afirmar que é bem provável que esse link exista.
Sabe-se por exemplo que, na Alemanha, 2 em cada 3 casos de pacientes de Covid-19 relataram o mesmo problema. Na Coreia do Sul, país onde a população foi massivamente testada para a doença, 3 em cada 10 casos positivos também sentiram prejuízos no olfato.
Um comunicado da Sociedade Britânica de Otorrinolaringologia (ENT) destaca que outros tipos de coronavírus também tem como característica deixar o paciente com dificuldade em sentir cheiros. Essa também é uma característica de outros vírus que afetam as vias respiratórias do organismo (como a boca, nariz e garganta) – como o influenza, por exemplo, vetor da gripe comum.
Isso acontece porque, diferentemente da infecção por coronavírus, o excesso de muco é que obstrui a passagem do ar. “Portanto, talvez não seja surpresa se o novo vírus COVID-19 também causar anosmia em pacientes infectados”, conclui o documento. Ainda segundo o órgão, a dificuldade de sentir cheiros apareceu sobretudo em casos que não apresentam outros sintomas. O efeito é temporário: o olfato costuma voltar ao normal em até duas semanas.
Até agora, há relatos de pacientes de Covid-19 que enfrentaram perda de olfato na China, no Irã, na Itália, na França e, inclusive, no Brasil. Em nota, órgãos de saúde nacionais como a Academia Brasileira de Rinologia (ABR) e a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), ressaltaram a importância de que médicos e enfermeiros considerem a anosmia como um possível sinal da Covid-19. Isso vale principalmente se o sintoma aparecer de uma hora para a outra, quando o nariz do paciente sequer está congestionado – a fase inicial da doença.