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Pesquisadores descobrem como transformar sangues A e B em O

A novidade pode ajudar bancos de sangue ao redor do planeta, e salvar milhões de vidas

Por Felipe Germano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 23 ago 2018, 15h54 - Publicado em 22 ago 2018, 19h29

Ninguém sabe ao certo como morreu o Papa Inocêncio VIII, no século 15. Uma lenda recorrente diz que, oito anos antes dos portugueses pisarem no Brasil, a Igreja estava tão desesperada para salvar o pontífice moribundo que cometeu uma loucura: pediu para três crianças, de 10 anos, trocarem parte de seu sangue por um pedaço de terra. O médico do líder católico ainda teria determinado que o sangue deveria ser bebido, via oral. Não deu certo. O Papa teria morrido logo depois.

Essa história é, provavelmente, mentira – a Universidade de Toronto até chegou a buscar provas em 1999, mas não encontrou. A lenda, porém, se consagrou como “o primeiro transplante sanguíneo da história”.

De lá pra cá, a lenda se tornou fato – e a medicina evoluiu muito quando o assunto é sangue. Em 1818, o obstetra inglês James Blundell realizou a primeira transfusão devidamente registrada, e em 1901 o austríaco Karl Landsteiner descobriu os tipos sanguíneos (A, B, AB e O), e como eles interagem entre si.

Agora, um século depois, a maior revolução do tipo pode estar prestes a ser confirmada: um grupo de pesquisadores da Universidade de British Columbia, no Canadá, alega que consegue transformar sangue tipo A, B ou AB em sangue tipo O.

Caso você não lembre das aulas do colégio, aqui vai um resumo rápido da importância disso. Todo mundo tem um tipo sanguíneo. Você mesmo é ou A, ou B, ou AB, ou O. Isso é importante porque a transfusão entre tipos de sangue diferentes pode matar – se você colocar sangue A em uma pessoa cujo tipo sanguíneo é B, o próprio organismo vai reagir e atacar esse novo malote de sangue. O contrário também ocorre. Sangue tipo A só doa para tipo A ou AB. Tipo B só doa para tipo B ou AB. AB é o menos flexível e só doa para o tipo AB.

Por isso, tipo sanguíneo mais valioso é o tipo O. Ao contrário dos demais, ele não promove reações defensivas no organismo de pessoas com nenhum tipo sanguíneo. Conhecido como doador Universal, o sangue O pode ser transferido pra qualquer pessoa. É por isso, é claro, que os Bancos de Sangue estão sempre procurando por doadores tipo O.

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Com a descoberta da universidade canadense, porém, os Bancos de Sangue podem ter ganhado na loteria. Qualquer sangue pode ir pra qualquer pessoa, uma revolução que tem o potencial de salvar milhões de vidas.

Para conseguir o feito, o pesquisador Stephen Withers analisou a característica que difere entre cada tipo sanguíneo: são os chamados “açúcares antígenos”. 

O sangue tipo A carrega um determinado antígeno junto às suas células, quem tem sangue B possui outro, quem tem AB possui os dois. O sangue da tranfusão só é aceito quando o corpo não detecta nenhum antígeno diferente do seu próprio.

Só que quem tem sangue O não possui antígeno nenhum. Ee passa despercebido pelos sistemas de defesa. A ideia, então, foi tentar destruir esses açúcares das células de sangue – assim, em teoria, qualquer fluido sanguíneo ficada igual ao tipo O.

A saída para o extermínio adocicado se deu por meio de enzimas. Os pesquisadores procuraram substâncias que conseguissem quebrar as moléculas açucaradas (sem danificar o restante do material). O estudo procurou o elemento em mosquitos e sanguessugas, mas encontrou a solução em um local muito mais próximo: no nosso próprio intestino.

Withers percebeu que alguns dos açúcares que consumimos são estruturalmente muito parecidos com os antígenos. Eles observaram que algumas bactérias presentes na flora intestinal auxiliam no processamento desses açúcares da alimentação – e decidiram entender como elas reagiriam em contato com as células sanguíneas.

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Foi tiro e queda: elas fizeram a “digestão” dos antígenos  – e o que restou era sangue tipo O.

Não é a primeira vez que uma ideia do tipo é estudada, mas o desfecho foi muito mais efetivo: os pesquisadores conseguiram resultados 30 vezes mais eficientes do que em experimentos feitos com outras enzimas.

A equipe de pesquisa ainda produziu uma animação, que explica o processo de forma simples, você pode vê-lo abaixo:

“Estou otimista de que temos um candidato bem interessante para transformar o sangue doado em universal”, afirmou Wither em comunicado. “Claro que ainda temos que passar por vários testes clínicos, para garantir que não vai haver nenhum tipo de consequência adversa, mas tudo isso parece bem promissor”, completa.

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