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Por que temos apenas 5 dedos e 4 membros?

Não seria ótimo ter dois pares de braços e uns 12 dedos nas mãos? Seria, se não fosse pelos peixes nossos bisavós

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h32 - Publicado em 31 Maio 2008, 22h00

Texto Reinaldo José Lopes

Olhe para os 5 dedos da sua mão. Esse número é a “condição ancestral” dos vertebrados terrestres – ou seja, o padrão original de todos os bichos com vértebras que colonizaram a terra firme. (Todos têm 5 ou menos dedos, nunca mais.) Invenção pra lá de antiga. E o mesmo vale para os dois braços e as duas pernas dos humanos. É por causa do “número mágico” de 4 membros que os dragões são bichos impossíveis: afinal, até hoje, nenhum vertebrado se dignou a criar um par extra de membros que pudesse se transformar em asas.

O engraçado é que, ao menos em relação aos dedos, a coisa nem sempre foi assim. Os primeiros ancestrais dos vertebrados terrestres (ou tetrápodes) eram chegados num exagero de dígitos. O Acanthostega, criatura que viveu há uns 360 milhões de anos, tinha 8 dedinhos em suas patas. Outros tipos de tetrápodes primitivos têm 6 dígitos, ou 7 dígitos. Como os “números mágicos” se tornaram os preferidos da nossa linhagem?

Nadadeiras

“O porquê dos 4 membros tem uma resposta muito mais antiga que o porquê dos 5 dígitos”, conta Jenny Clack, da Universidade de Cambridge (Reino Unido). “Na verdade, são dois pares de membros, que equivalem a dois pares de nadadeiras dos peixes”, explica ela. São as nadadeiras conhecidas hoje como peitorais (braços) e pélvicas (pernas), diz Clack. “O padrão, e ele foi estabelecido já no Período Siluriano [fase geológica que fica entre 444 milhões e 416 milhões de anos atrás].”

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Os dois pares de membros ou nadadeiras são, portanto, uma espécie de “tijolo” para construir corpos de vertebrados. Como os peixes que incluíam nossos ancestrais já tinham estabelecido essa unidade muito antes que os tetrápodes surgissem, daria trabalho demais (e provavelmente não funcionaria) alterá-la. Além disso, diz Clack, parece haver uma relação entre os genes ligados ao estabelecimento das 4 patas e os que contêm instruções para construir a boca. Ou seja: taí uma reforma que bagunçaria o organismo inteiro se fosse feita.

Patas que não eram patas

Os 5 dedos viraram padrão só uns 350 milhões de anos atrás, no começo do chamado Período Carbonífero. Nos fósseis, eles parecem estar associados com patas voltadas para a frente, adaptadas a andar em terra firme. “Eu apostaria que os membros com 5 dígitos surgiram justamente para ajudar na locomoção terrestre, combinando flexibilidade com estabilidade. Também podem estar ligados à perda das membranas entre os dedos e à necessidade de controlar cada um deles individualmente, mas isso ainda é uma especulação”, diz Clack.

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Ora, mas e os tetrápodes mais antigos, que eram cheios de dedos? Se tinham patas, conseguiam andar também, certo? Errado. O que os estudos mais recentes mostram é que essas patas surgiram entre bichos que eram aquáticos. Se fossem usadas em terra, o animal simplesmente desabaria sobre o próprio peso. Elas, portanto, serviam só para nadar.

O Ichthyostega, retratado abaixo, é outro dos vertebrados com patas esquisitonas, contando com 6 dedos nos membros descobertos até hoje.

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