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Salve a tecnologia

Pode parecer tortura, mas estas cenas mostram como médicos atuavam no tempo do Onça.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h39 - Publicado em 31 jul 2003, 22h00

Mariana Sgarioni

Sangria desatada

Um dos primeiros procedimentos médicos ao atender um doente era providenciar uma sangria. Acreditava-se que as doenças eram resultado do acúmulo de fluidos venenosos na corrente sangüínea. Portanto, era necessário sangrar o paciente para diminuir esses fluidos.

O médico então sacava um sarjador, espécie de canivete suíço com vários fios de navalha que apareciam e sumiam quando um botão era acionado. Nesse movimento, os fios cortavam a pele – normalmente uma veia do braço, para que jorrasse muito, mas muito sangue. Para não emporcalhar o ambiente, uma bacia recolhia o líquido. Uma boa ferramenta para a sangria eram as sanguessugas, um verme aquático cheio de ventosas, com uma espécie de boca serrilhada para chupar o sangue, e que secreta uma substância anticoagulante. Em 1825, a França chegou a exportar 10 milhões desses vermes para uso doméstico.

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Os animais de estimação dos médicos normalmente eram fornecidos por barbeiros que os tinham aos montes, expostos em vidros em seus salões. Aliás, esses profissionais são considerados os antecessores dos cirurgiões – eles usavam todo seu instrumental de corte não apenas para barba, cabelo e bigode, mas também para sangrar pessoas doentes na falta de um médico.

 

Lavou, está novo

Apesar de altamente tóxicos, os metais pesados foram muito aplicados no tratamento de doenças tidas como incuráveis. O vapor do mercúrio, por exemplo, era inalado por vítimas de sífilis. Outro metal que era encarado como milagroso por servir para praticamente tudo era o antimônio. Entre os séculos 16 e 17, era comum boticários venderem as chamadas pílulas eternas de antimônio metálico. Elas causavam fortes irritações e funcionavam como purgante. Como eram muito caras, eram recolhidas nas fezes, lavadas e usadas indefinidamente. Inclusive, chegavam a ser passadas de geração para geração. Sem dúvida, saía mais barato do que ficar gastando dinheiro toda hora com laxantes.

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Mentes abertas

No início do século 20, cientistas descobriram que destruindo os lobos frontais do cérebro era possível mudar o comportamento da pessoas, tornando-as menos agressivas. Mesmo com resultados duvidosos, a técnica cirúrgica chamada lobotomia foi amplamente usada em hospitais psiquiátricos até o dia em que o neurologista americano Walter Freeman, em 1936, inventou uma modalidade mais rápida e simples usando um furador de gelo. Sob anestesia local – ou seja, o paciente ficava meio acordado -, o quebra-gelo era apoiado no teto da órbita cerebral, e, com uma leve pancada de um martelo, atravessava pele, osso e meninges, chegando ao lobo. O procedimento era tão impressionante que médicos veteranos chegavam a desmaiar ao presenciar a cirurgia. Até ser proibida, nos anos 50, a lobotomia foi aplicada a torto e a direito, principalmente nos Estados Unidos, em prisioneiros políticos, para esvaziar hospitais lotados e até mesmo em crianças com mau desempenho escolar.

Abra a boca e feche os olhos

Joaquim José da Silva Xavier, o alferes Tiradentes, tinha inúmeras habilidades, entre elas, dizem, a de extrair dentes com perfeição. Aliás, seu boticão – aparelho tão delicado que também é chamado de fórceps dentário – está exposto até hoje em Minas Gerais. Ele só não conseguia aliviar o sofrimento de quem tinha de passar pela situação de ter um dente arrancado a seco e com um alicate gigante. Até o advento da anestesia, quem sentia dor de dente tinha duas opções: ou agüentava calado ou procurava um prático que fosse bom em arrancar dentes com rapidez. Aliás, os barbeiros também tinham esse dom – tanto que entre os ditados populares do século passado existe aquele do “Quem lhe dói o dente vai à casa do barbeiro”.

Injeção de ânimo

Por muito tempo – e você já deve ter ouvido sua avó dizer isso – acreditava-se ser necessário “limpar” o organismo de vez em quando. A faxina começava pelo intestino, lugar por onde os micróbios se instalariam e causariam doenças. Pois bem, a ferramenta era o clister, uma grande seringa que comportava cerca de dois a três litros de água prontos para serem injetados no ânus do doente. Para misturar com a água, tinha gente que fazia coquetéis com sabão, mel fervido e até mesmo sal. O procedimento era usado indiscriminadamente: qualquer enfermidade poderia ser aliviada com um bom jato, desde prisão de ventre até doenças mentais. Inclusive, há relatos médicos dos séculos 17 e 18 afirmando que muitos homens com hipocondria e depressão foram curados com o uso exclusivo de clisteres.

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No vácuo

A aplicação de ventosas, sobretudo nas costas, era uma forma de descongestionar o organismo. Usavam-se copos de vidro de boca larga, que eram aquecidos e pressionados em diversos pontos da pele do doente. O vácuo formado no interior dos copos gerava uma forte sucção no local que normalmente causava hematomas. O método da “ventosa molhada” era ainda mais dolorido, pois era uma prática conjunta da sangria. Neste caso, a pele era cortada com navalhas, provocando um leve sangramento, chamado escarificação. Em seguida, a ventosa era aplicada quente em cima do corte – sangrando. Os médicos juravam que o método era antiinflamatório e combatia dores no corpo.

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