Sexo: Vale a pena essa canseira?
O sexo é estressante e perigoso. Ainda assim, as espécies que o praticam são as que alcançaram mais sucesso na natureza.
Claudio Ange
De todas as formas de reprodução, o sexo é a mais complicada. É preciso sair por aí atrás de um parceiro ou parceira, gastando tempo e energia. E ainda há o perigo de acabar na barriga de algum predador pelo caminho. Para piorar, não há garantia de sucesso. A combinação dos cromossomos de dois indivíduos pode resultar em descendentes estéreis ou defeituosos. Mais sensato seria todo mundo se reproduzir por divisão, como fazem as bactérias. Esses seres unicelulares podem simplesmente gerar clones, cópias exatas deles mesmos, em pouquíssimo tempo. Sem riscos.
Mas, se a clonagem é tão boa e o sexo, tão estressante, por que cargas-dágua a maioria dos animais e plantas prefere o segundo, deixando a primeira para as bactérias e outros seres inferiores? Os cientistas ainda não conseguiram explicar a vitória do sexo na evolução. O que se sabe é que ele tem vantagens coletivas que suplantam as desvantagens individuais. A principal delas é a maior variedade. Você é o resultado de uma combinação única de características hereditárias. Essa diversidade aumenta a chance de sobrevivência da espécie no caso de uma mudança radical no meio ambiente. Imagine que surja uma doença nova e devastadora. Uma comunidade inteira de seres assexuados, praticamente iguais, pode ser facilmente dizimada dessa forma. Já as espécies que se reproduzem por sexo resistem melhor. Como os indivíduos são muito diferentes entre si, sempre haverá a chance de que alguns possuam genes que os tornem resistentes àquela doença. Esses felizardos sobreviverão e passarão adiante os genes salvadores, mesmo que a maioria sucumba.
Libido é com ele
As idéias do neurologista austríaco Sigmund Freud (1856-1939) deixam muita gente chocada ainda hoje, sessenta anos depois da sua morte. Fundador da Psicanálise, Freud instalou a sexualidade no centro da alma humana. Segundo ele, toda a existência é guiada pelo desejo sexual, a libido, que se manifesta desde os primeiros anos de idade e não só na puberdade, como se imaginava no final do século XIX. Todos os distúrbios mentais teriam, de acordo com essa teoria, uma origem comum os traumas sexuais ocorridos durante a infância. Aplicando suas descobertas ao estudo da sociedade, Freud concluiu que as civilizações só existem graças à repressão do instinto sexual. Livre de qualquer amarra, a libido induz os indivíduos à violência descontrolada e inviabiliza os vínculos sociais.