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Vacina intranasal brasileira contra Covid-19 é 100% eficaz em ratos

O imunizante em spray teve sucesso total em proteger camundongos contra morte e perda de peso, e foi melhor do que as injeções em alguns critérios.

Por Leo Caparroz
22 dez 2023, 19h13

A busca por vacinas contra a covid-19 continua. Ainda que a primeira leva de imunizantes tenha sido distribuída no início de 2021, pesquisadores de várias farmacêuticas e universidades continuaram investindo na busca por vacinas mais eficazes e por meios diferentes de ministrá-las. E agora é a vez do Brasil brilhar nessa seara. 

Uma vacina intranasal desenvolvida por pesquisadores brasileiros apresentou 100% de eficácia contra mortes quando testada em camundongos. O estudo envolveu cientistas da Universidade de São Paulo (USP), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A pesquisa foi publicada no periódico especializado Vaccines e contou com apoio da Fapesp.

A injeção que você toma no braço é chamada de vacina intramuscular. Uma vacina intranasal, por sua vez, é aplicada no nariz ou na boca, para induzir a imunidade diretamente na mucosa nessas áreas. E calma: ninguém vai meter uma agulhada dentro da sua napa. Essa versão do imunizante é aplicada na forma de spray.

“Como o SARS-CoV-2 é um vírus respiratório, foi natural propor uma vacina que pudesse neutralizá-lo já na área mais propensa às suas tentativas de entrada no corpo humano, ou seja, nas vias aéreas superiores”, conta Momtchilo Russo, professor do Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB-USP), e um dos coordenadores do estudo.

O professor também ressalta que uma abordagem nasal é menos intimidadora para crianças e quem tem medo de agulha, por exemplo. Nas mucosas, há uma grande produção de anticorpos cruciais para a nossa imunidade, como a Imunoglobulina A (IgA). A vacina age diretamente nessa região, estimulando a produção desses anticorpos.

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Assim como as vacinas da Oxford/AstraZeneca e Janssen, a vacina intranasal usa a proteína Spike (S), presente na superfície do SARS-CoV-2, para ensinar o sistema imune a combater a infecção. Já sabendo de antemão como enfrentar esse corpo estranho específico, a mucosa consegue reagir melhor quando o vírus de verdade aparece por lá. 

“Trata-se de uma técnica fácil de realizar, se comparada, por exemplo, com as vacinas que usam os RNAs mensageiros, ou com as vacinas de adenovírus, que são mais complicadas de se produzir e armazenar, pois requerem temperaturas baixíssimas para a sua manutenção”, diz Russo. A vacina intranasal, comparada às intramusculares, também chega aos pulmões mais rapidamente.

Camundongos doentes

Para os testes em laboratório, os pesquisadores utilizaram camundongos transgênicos, que tinham receptores do vírus nas células do trato respiratório. Quando infectados, os ratinhos desenvolviam uma pneumonia grave, perdiam peso e acabavam morrendo em uma semana.

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Os cientistas dividiram as cobaias em quatro grupos: um recebeu a vacina em spray, outro recebeu a mesma vacina, mas com uma agulha subcutânea, um terceiro recebeu a vacina da Oxford/AstraZeneca de forma intramuscular, e um último, o grupo de controle, recebeu apenas uma solução salina a título de placebo.

Nos testes, 100% dos animais vacinados, seja lá por qual método, foram protegidos contra formas graves da infecção – o que significa que nenhum deles morreu e todos permaneceram com o peso estável. Por outro lado, os ratos não imunizados morreram em 5 ou 7 dias.

Embora as duas formas de aplicação tenham sido bem-sucedidas, a vacina intranasal foi mais eficiente em induzir a produção de anticorpos IgA, se comparada com a aplicação subcutânea. Ela também foi eficaz em proteger contra as variantes gamma, delta e ômicron do SARS-CoV-2.

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Nesse quesito, a nova vacina também se saiu melhor do que a Oxford/AstraZeneca. “Descobrimos que a vacinação intranasal foi superior à vacinação intramuscular com a vacina Oxford/AstraZeneca na eliminação do vírus do pulmão e à produção de anticorpos neutralizantes”, escrevem os pesquisadores em seu estudo.

O imunizante passou por testes de toxicidade e se mostrou seguro. Agora, ele deve avançar para outras etapas de teste, como os ensaios clínicos com seres humanos.

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