Marcelo Bortoloti, Sérgio Gwercman e Rafael Kenski
Não, a ciência não se rendeu aos horóscopos. Tampouco chegou o tempo em que médicos recorrerão às colunas de jornal para emitir diagnósticos. Mas algumas pesquisas independentes estão mostrando que existe, sim, uma ligação entre o mês do ano em que nascemos e nosso futuro. Ou, pelo menos, nossa saúde. Até o horário pode nos fazer mais sucetíveis a algumas moléstias (veja quadro ao lado). Parece coisa de astrologia, mas é uma questão de sazonalidade: as estações do ano possuem características ambientais que interferem no nosso organismo. E, para um bebê que está nos primeiros meses de formação, essa influência é especialmente delicada.
Diversos estudos, feitos em centros de pesquisa nos Estados Unidos, Inglaterra, Japão e Alemanha, chegaram a conclusões nessa linha (leia abaixo). Um exemplo: cientistas suspeitam que, no frio do inverno, a falta de raios solares e nutrientes de vegetais típicos de verão à disposição da gestante possa afetar o organismo do bebê. Da mesma forma, a exposição do recém-nascido a alguns vírus sazonais pode enfraquecer seu sistema imunológico para o resto da vida. As associações vão ainda mais longe: acredita-se que a exposição do feto à gripe pode levar ao desenvolvimento de problemas cerebrais como dislexia ou mal de Parkinson – sabe-se que essas doenças são mais recorrentes em pessoas que nasceram no fim da primavera ou início do verão. As ligações ainda não foram completamente esclarecidas, mas a partir das estatísticas cientistas acreditam poder encontrar a origem de algumas doenças com causa ainda desconhecida. “A importância dessas pesquisas é que, em geral, elas apontam a existência de diversos riscos passíveis de afetar o bebê durante a gravidez”, diz Emmanuel Mignot, professor de psiquiatria da Universidade Stanford, nos Estados Unidos. Ou seja, as doenças podem chegar antes mesmo de nascermos.
Horóscopo de hipocondríaco
As previsões para ofuturo da sua saúde
Janeiro
Moléstia típica: Autismo
Causas: Não se sabe. A pesquisa do Centro de Saúde Mental Yehuda Abarbanel, em Israel, levou em conta apenas dados estatísticos. Mas comprovou que dois meses do ano concentram as maiores taxas de nascimento de autistas. No hemisfério sul, eles seriam janeiro e agosto.
Outras doenças do mês: Diabetes, leptospirose e doença de Crohn
Fevereiro
Moléstia típica: Déficit de atenção, que provoca dificuldades nos estudos e relacionamentos
Possíveis causas: Falta de nutrientes escassos no inverno e gestações marcadas por dietas mal reguladas. Atingiriam especialmente os bebês que atravessaram os primeiros meses pós-concepção no frio de junho e julho
Outras doenças do mês: Asma
Março
Moléstia típica: Depressão
Possíveis causas: Carência de calor e raios solares. Estudo da Universidade de Hertfordshire, na Inglaterra, ouviu 40 mil pessoas e concluiu que quem passa os seis primeiros meses de vida no inverno tende a ser mais pessimista. Quase 60% dos nascidos no período que antecede o frio se consideram azarados e são mais propensos à depressão
Outras doenças do mês: Eczema e asma
Abril
Moléstia típica: Doenças de pele
Possíveis causas: Clima seco nos primeiros meses de vida e ressecamento precoce da pele. Os efeitos da baixa umidade do ar nos bebês foi demonstrado por cientistas da Universidade de Kyoto, no Japão, que entrevistaram 33 mil jovens
Outras doenças do mês: Asma, bronquiolite e pneumonia
Maio
Moléstia típica: Bronquiolite e pneumonia
Possiveis causas: O vírus sincicial respiratório, mais incidente no final do outono e princípio do inverno. Ele afeta principalmente os recém-nascidos, que mais tarde podem desenvolver uma série de doenças no pulmão. No Brasil, a incidência do vírus atinge seu pico no mês de maio
Outras doenças do mês: Infecções no pulmão e problemas cardiovasculares
Junho
Moléstia típica: Esquizofrenia
Possíveis causas: A exposição do feto a um vírus sazonal no segundo trimestre da gravidez, quando o cérebro está em formação. O estudo foi feito por cientistas da Dinamarca, que pesquisaram as relações entre estações do ano e desordens comportamentais
Outras doenças do mês: Bronquiolite e pneumonia
Julho
Moléstia típica: Hipersensibilidade alérgica
Possíveis causas: Contato com grãos de poeira ou alguns tipos de pólen nos primeiros três meses de vida. Cientistas da Universidade de Helsinque, na Finlândia, afirmam que crianças com primeira infância na primavera correm risco de desenvolver alergias a certos grãos de pólen nos 20 anos seguintes
Outras doenças do mês: Mal de Alzheimer, epilepsia e esquizofrenia
Agosto
Moléstia típica: Narcolepsia, doença que causa ataques de sono incontroláveis
Possíveis causas: Não se sabe, mas uma pesquisa com mais de 800 portadores de narcolepsia na França, Canadá e Estados Unidos comprovou que o número de sonolentos nascidos às vésperas da primavera é significativamente maior
Outras doenças do mês: Esclerose múltipla, epilepsia, autismo
Setembro
Moléstia típica: Baixa longevidade
Possíveis causas: Não se sabe, mas uma pesquisa do Instituto Max Planck, da Alemanha, comparou mais de 1 milhão de óbitos e constatou que os nascidos na primavera vivem menos e tendem a adoecer mais após os 50 anos
Outras doenças do mês: Leucemia, dislexia, esclerose múltipla
Outubro
Moléstia típica: Esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença que causa atrofiamento dos músculos e pode ser fatal
Possíveis causas: Falta da vitamina D, sintetizada no corpo pela ação do sol. Nos meses de inverno, a menor incidência de raios solares faz diminuir no organismo da gestante esse tipo de vitamina
Outras doenças do mês: Dislexia, mal de Parkinson
Novembro
Moléstia típica: Anorexia
Possíveis causas: Exposição da gestante a um vírus de inverno, especialmente o da gripe. De acordo com um estudo feito pelo Hospital Royal Cornhill, da Escócia, o risco de anorexia em mulheres nascidas nessa época do ano é de 10% a 15% maior
Outras doenças do mês: Diabetes, esclerose múltipla
Dezembro
Moléstia típica: Diabetes
Possíveis causas: Infeções intra-uterinas aumentam a predisposição à doença. A relação foi estabelecida pela alta incidência de diabetes nos casos de síndrome da rubéola congênita. Outra influência é um vírus intestinal que ataca grávidas nessa época. As conclusões são de uma pesquisa da Universidade de Oxford, na Inglaterra
Outras doenças do mês: Dislexia, déficit de aprendizagem
Relógio biológico
Doenças quese valem do horáriopara atacar
Manhã – Das 6h às 12h
Moléstia típica: Infarto
Possíveis causas: Aumento natural da pressão arterial, que diminui durante a noite. Outro indutor é o funcionamento pleno do sistema de coagulação sanguínea, que pode bloquear vias coronárias estreitas
Outras doenças: Depressão e dengue
Tarde – Das 12h às 18h
Moléstia típica: Gripe e dificuldades respiratórias
Possíveis causas: A diminuição do hormônio cortisol no sangue deixa mais frágil o sistema imunológico. O corpo também fica mais vulnerável à poluição e ao monóxido de carbono
Outras doenças: Dengue e malária
Noite – Das 18h às 24h
Moléstia típica: Febre
Possíveis causas: O horário tem o pico da variação natural da temperatura humana. No começo da noite, o calor do corpo atinge 37 0 C. Para os que já estão com o organismo aquecido, a febre arde com maior intensidade
Outras doenças: Dor nas costas e irritações na pele
Madrugada – da 0h às 6h
Moléstia típica: Crise de asma
Possíveis causas: A diminuição da concentração de adrenalina e cortisol no sangue e o estreitamento dos brônquios. A mudança, imperceptível para a maioria das pessoas, é suficiente para deflagrar a crise em asmáticos
Outras doenças: Ataques na vesícula biliar, diabetes e úlcera