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Como a inflação foi baixa, se a gasolina, a luz e o gás só sobem?

Três dos itens que mais pesam no bolso subiram bastante. Ao mesmo tempo, a inflação do ano passado foi a menor desde 1998. Entenda.

Por João Pedro Caleiro, de Exame.com
Atualizado em 12 jan 2018, 16h53 - Publicado em 11 jan 2018, 16h41

A inflação fechou 2017 em 2,95%, um número baixo por qualquer lado que se olhe: foi o menor IPCA desde 1998, além de ser menos da metade dos 6,29% registrados em 2016.

Também foi a primeira vez que a inflação ficou abaixo do piso da meta do governo desde que o regime de metas foi criado em 1999. Mas a impressão de muita gente não é esta diante de três itens importantes: gasolina, gás de cozinha e energia elétrica. Todos, de fato, subiram muito mais do que no ano anterior.

Mas eles não foram suficientes para contrabalançar os efeitos de outro fenômeno: uma queda anual de 1,87% no preço de alimentos e bebidas. Parece pouco, mas é a primeira vez que isso acontece desde que o Plano Real começou em 1994, e este é de longe o grupo que mais importa no orçamento das famílias.

“Temos itens que pressionaram para cima, e é normal do consumidor focar nos elementos mais visíveis. Mas especialmente alimentação em 2017 foi forte elemento de deflaç��o, e o o peso de 25% que esse grupo tem no IPCA é bem maior do que o peso de 10% desses três itens”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

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Gasolina

A Petrobras começou em 03 de julho uma nova política de reajustes. Ao invés de esperar um mês, a empresa avalia todas as condições do mercado, incluindo cotações internacionais, o câmbio e a concorrência, para mudar preços, o que pode acontecer diariamente.

Daquela data até 28 de dezembro, foram 115 reajustes nos preços da gasolina. Em julho, o governo também aumentou aumentou a alíquota do PIS/COFINS dos combustíveis.

Em 2016, a gasolina caiu 2,54% e puxou o IPCA para baixo em 0,10 ponto percentual. Em 2017, a gasolina subiu 10,32% e puxou o IPCA para cima em 0,41 ponto percentual, e as perspectivas para 2018 não são de acomodação. 

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“A gasolina depende muito do câmbio e de como nosso cenário politico vai influenciar essa cotação: ele deve colocar volatilidade, mas não a ponto de chegar em um novo patamar. Além disso, temos um problema de déficit público pra resolver. Outra questão é o aquecimento da demanda previsto em outras economias, o que pressiona para cima a cotação internacional”, diz André Braz, especialista em inflação do Ibre/FGV.

Gás de cozinha

Um fenômeno parecido aconteceu com o gás de botijão, e pelo mesmo motivo: uma nova política de reajustes da Petrobras. No início de junho, a empresa empresa informou que os preços seriam formados pela média mensal das cotações do butano e do propano no mercado europeu, convertida em reais pela média diária das cotações de venda do dólar, acrescida de uma margem de 5%.

O preço do botijão foi de uma alta modesta de 2,10% em 2016 com impacto de 0,03 ponto percentual para um aumento de 16% em 2017 com impacto de 0,19 ponto percentual. De acordo com os dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), o gás de botijão teve sua maior alta de 2002, quando subiu 34%.

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A Petrobras anunciou no início de dezembro que vai rever a metodologia para não trazer ao país a alta volatilidade do mercado europeu, mas não anunciou a nova fórmula. Não há perspectiva de altas menores para conter a inflação, apenas de reajustes menos frequentes. O preço do botijão ficou praticamente congelado durante os governos Lula e Dilma: houve apenas um aumento, em 2015.

Energia elétrica

Na conta de luz, 2015 foi o ano de reposição tarifária de congelamentos anteriores, 2016 foi o ano de reversão da crise hídrica e 2017 foi um ano de novas altas. A energia elétrica passou de uma queda de 10,66% e impacto negativo de 0,43 ponto percentual no IPCA em 2016 para uma alta de 10,35% em 2017 com impacto positivo de 0,35 ponto percentual.

Houve cobrança de uma taxa extra em todos os meses do ano com exceção de janeiro, fevereiro e junho. As chamadas bandeiras tarifárias são acionadas quando é preciso ligar as usinas termelétricas, que são mais caras, por causa da falta de chuvas.

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Andre Braz acredita que a perspectiva de chuvas deste ano seja positiva, ou Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) não teria trocado a bandeira para verde (sem cobrança extra) neste janeiro.

2018

A previsão de mercado é que a inflação acelere em 2018 dos atuais 2,95% para o patamar de 4%, mais próximo do centro da meta, que é de 4,5%. “Existem muitas variáveis: uma possível reforma da previdência, déficit fiscal, além de ser ano eleitoral, com muitos feriados e Copa do Mundo. Mas a inflação deve continuar baixa porque a recuperação é lenta e não está prevista uma reversão acelerada do desemprego”, diz André.

A previsão do mercado é que a inflação de alimentos não siga tão benigna pois dificilmente a safra tão positiva vai se repetir e os preços de combustíveis devem bater nos custos. A menor pressão sobre os preços permitiu que a taxa básica de juros sofresse 10 cortes seguidos pelo Banco Central atingindo sua mínima histórica, de 7%, em dezembro.

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“Creio que o crescimento de 3% que esperamos, especialmente no segundo semestre, também pode pressionar mais a inflação. No limite, a resposta do BC será subir juros. Eu estou no grupo que não consegue ver a Selic o ano todo em 6,75%, como deve chegar a taxa na próxima reunião”, diz Sérgio.

Quando o Banco Central aumenta os juros, encarece o crédito e estimula a poupança, o que faz com que a demanda seja contida e faça menos pressão sobre a atividade e os preços. Cortar os juros causa o efeito contrário.

Conteúdo originalmente publicado em Exame.com

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