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Pelé vs. Maradona: um raio X da maior rivalidade do futebol

Habilidade do argentino o tornou comparável a Pelé. Mas a eficiência do Rei em campo foi inigualável.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 30 dez 2022, 13h07 - Publicado em 23 out 2018, 14h29

O camisa 10 recebe a bola no meio do campo. Jogadores do time adversário o cercam e tentam pará-lo de qualquer maneira. O primeiro marcador se aproxima e vê a bola passar por debaixo das pernas. Vem o segundo e também leva no meio das canetas. Aparece mais um para dar o bote e, olé!, também passa batido.

Essa pode parecer a descrição do célebre lance que fez a fama do argentino Diego Maradona: na partida contra a Inglaterra, pela Copa do Mundo de 1986, no México, ele driblou quatro jogadores, deixou o goleiro no chão e mandou a bola para o fundo das redes, marcando aquele que é considerado, por muitos, o gol mais bonito de todos os tempos.

Mas não é.

O camisa 10 de que estamos falando é o homem que transformou esse número em sinônimo de arte e genialidade no futebol: Pelé. Enquanto o golaço de Maradona foi visto e revisto em todo o mundo, ao vivo e em cores, pouca gente testemunhou um lance parecido de Pelé durante um amistoso do Santos nos anos 60. O craque argentino explodiu numa época em que a televisão já chegava a todos os rincões do planeta. Já o brasileiro conseguiu se tornar uma lenda viva praticamente só com a ajuda das ondas do rádio. Afinal, quem foi melhor: Pelé ou Maradona?

O apresentador esportivo Milton Neves, da Band, é categórico: essa polêmica só existe porque Maradona contou com a força da mídia. “Pelé não teve 1% da divulgação que Maradona teve”, diz Neves. “O futebol brasileiro produziu outros grandes jogadores, como Friedenreich e Leônidas da Silva, que não tiveram nem o rádio para ajudar a difundir os seus feitos. Por isso, não são reconhecidos como deveriam.” Neves vai mais longe: “Vamos ter um novo Maradona a cada 200 anos. Pelé, nunca mais”.

As imagens históricas de Pelé recuperadas pelo filme Pelé Eterno, de Aníbal Massaini, incluem dois lances não registrados na época e que foram recriados por computação gráfica. Um deles é o célebre gol marcado contra o Juventus, na rua Javari, em 1959, quando Pelé aplicou uma seqüência de chapéus em quatro adversários e fez o gol de cabeça. O outro é a reconstituição de um lance contra o Fluminense, no Maracanã, em 1961, um gol tão belo que rendeu ao astro do Santos uma placa comemorativa no estádio – cunhando a expressão “gol de placa”.

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Pelé Eterno entrou em cartaz em junho de 2004, num momento em que Maradona travava uma luta de vida ou morte contra o mais terrível dos adversários, as drogas. “Estou orando muito para que Maradona se recupere bem e saia dessa. Assim, quando estiver bom, ele verá o filme e tirará suas próprias conclusões”, afirmou Pelé à época. As provocações entre os dois sempre existiram.

Para Pelé, Maradona, ao se envolver com as drogas, perdeu a oportunidade de servir de exemplo para os jovens. O argentino, por sua vez, já declarou suas restrições ao que Pelé fez ou deixou de fazer com sua imagem de “atleta do século”. “Pelé, como jogador, foi o máximo, mas não soube aproveitar isso para enaltecer o futebol. Adoraria que ele tivesse se proposto, como eu, a presidir uma associação que defendesse os direitos dos jogadores, que tivesse ajudado Garrincha e não o deixado morrer na miséria, que tivesse lutado contra as ações dos poderosos que nos prejudicam”, escreveu Maradona em sua autobiografia.

Em 2000, quando a Fifa realizou no seu site uma enquete para eleger o melhor jogador de todos os tempos, Pelé levou uma surra de Maradona. O argentino teve 53% dos votos, contra apenas 16% do brasileiro. Para resolver a saia justa, o suíço Joseph Blatter, ex-presidente da entidade, decidiu conceder dois prêmios: um pelo voto dos treinadores das seleções dos países filiados à Fifa, outro pelo voto popular via internet. Pelé e Maradona ganharam cada um o seu prêmio, agradando a gregos e troianos – ou desagradando a ambos.

O argentino Edgardo Norberto Andrada teve o privilégio de enfrentar os dois jogadores. Goleiro do Vasco de 1969 a 1976, encarou Pelé nos confrontos contra o Santos. Depois, encerrou a carreira no argentino Colón e conheceu o “Pibe” Maradona em início de carreira, no Argentinos Juniors.

“Pelé foi um jogador muito mais completo que Maradona”, afirma Andrada. “Tinha um excelente cabeceio, chutava bem tanto com a direita quanto com a esquerda, sabia livrar-se da marcação como ninguém e tinha uma habilidade extraordinária que o tornava capaz de chutar a gol de qualquer posição com a bola em movimento.”

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Andrada ficou famoso como o goleiro que levou o gol número 1 000 de Pelé, de pênalti, no dia 19 de novembro de 1969. “Na época, não gostei de ter levado o milésimo gol do Pelé. Hoje sei que aquele gol marcou a minha carreira e foi uma honra ter participado de um momento histórico do futebol”, diz Andrada.

Maradona nem chegou perto da marca do rei. Em 695 jogos na carreira, marcou 365 gols. Sua média foi de 0,52 gol por jogo, contra 0,93 de Pelé. Os fãs de Dieguito podem argumentar que ele jogou 11 anos na Europa, nos disputadíssimos campeonatos espanhol e italiano, enquanto Pelé fez com o Santos dezenas de jogos contra times inexpressivos do Brasil e ainda passou três temporadas nos Estados Unidos.

Jogando sem bola

Sejam quais forem os argumentos a favor de um ou de outro, há nítidas diferenças de estilo. Maradona foi um grande malabarista com a bola. Nos treinos na Argentina, se exibia para os colegas fazendo centenas de embaixadinhas com uma bolinha de tênis, uma laranja ou outro objeto. Conseguia controlar a bola em velocidade, tornando quase impossível a qualquer adversário lhe tirar a pelota. Mas a falta de força e precisão nos chutes com o pé direito e a pouca impulsão – prejudicada pela baixa estatura (1,66 metro) – evidenciavam que o argentino não era completo em todos os fundamentos.

Pelé, ao contrário, sabia jogar sem a bola. Era capaz de driblar seus adversários sem sequer tocá-la, como fez com o goleiro uruguaio Mazurkiewski no histórico “drible da vaca”, durante a Copa do Mundo de 1970, no México. A bola passou por um lado, Pelé por outro e Mazurkiewski ficou no meio do caminho sem entender nada. Para sua sorte, Pelé fez o mais difícil e chutou para fora. Um lance que não resultou em gol, mas que é lembrado até hoje como um dos mais sensacionais de todos os tempos.

O craque brasileiro tinha um biotipo mais favorável que o argentino para o esporte. “Fisicamente, Pelé era um jogador muito mais completo que o Maradona”, diz o fisiologista Turíbio Leite de Barros Neto, de São Paulo. Segundo ele, a estrutura física de Pelé lhe permitiria ter sido um excelente jogador em qualquer posição do futebol: lateral, volante, zagueiro, centroavante e até goleiro. Pelé, aliás, jogou quatro vezes improvisado como goleiro, substituindo o arqueiro do Santos que teve de deixar a partida antes do término. No total, ficou 54 minutos debaixo da trave – e não levou nenhum gol. Um desempenho melhor que o do seu filho Edinho, que, por ironia do destino, viraria goleiro do Santos.

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Também fora do campo, cada jogador tinha seu estilo. Ambos nasceram em famílias pobres e conseguiram a ascensão social graças ao futebol. Depois de se tornarem celebridades, trilharam caminhos bem distintos. O brasileiro adotou a postura de um embaixador. Em qualquer país do mundo, citar o nome de Pelé pode ser o primeiro passo para um contato amistoso com o povo local. Ele foi recebido e reverenciado por autoridades como a rainha Elizabeth II, o presidente americano Richard Nixon, o papa João Paulo II e o líder sul-africano Nelson Mandela.

Já Maradona vestiu a pele de um revolucionário. Aliou sua imagem à dos líderes da revolução cubana – o guerrilheiro Che Guevara, que ornamenta o braço do ex-jogador em uma sinuosa tatuagem, e o presidente Fidel Castro, que o recebeu em Cuba para um ineficiente trabalho de desintoxicação das drogas. “Maradona é uma espécie de Che Guevara. Dá uma ideia de maior rebeldia, enquanto Pelé aparece como um símbolo mais institucionalizado. São como duas caras da mesma moeda. Um necessita da existência do outro”, afirma o jornalista e sociólogo argentino Sergio Levinsky, autor do livro Maradona, Rebelde sem Causa.

Contrastando com a postura diplomática de Pelé, Maradona foi para os argentinos um autêntico herói nacional, capaz de devolver a dignidade e a esperança perdidas com a crise de valores deflagrada pelo golpe militar de 1976 e acentuada pela derrota para os ingleses na Guerra das Malvinas, em 1982. Ainda mergulhados em uma crise econômica sem precedentes, os argentinos se prendem à figura de Maradona como se fosse uma divindade, como haviam feito durante o martírio de Carlos Gardel e Evita Perón.

A comparação mais precisa entre os dois, de qualquer forma, talvez tenha vindo de Tostão. Em 2003, o craque da Copa de 1970 e cronista escreveu na Folha de S. Paulo: “Maradona foi mais artista do que Pelé, mas o Rei foi melhor, porque era completo”.

Por 82 anos, dois meses e sete dias, entre 23 de outubro de 1940 e 29 de dezembro de 2022 , viveu o único jogador da história a merecer tal adjetivo.   

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As fichas dos craques

Compare as principais características dos imortais:

Copas do Mundo

4 participações (1958, 1962, 1966 e 1970), 3 títulos (1958, 1962 e 1970), 14 jogos e 12 gols

Diego Armando Maradona

Maradona
(Doha Stadium Plus Qatar/Wikimedia Commons)
  • Nasceu em 30/10/1960, em Lanús (Argentina)
  • Altura: 1,66 metro
  • Peso: 70 kg (1986)
  • Olhar: Visão centrada na bola e no lance próximo de si
  • Liderança: Foi capitão e líder da seleção argentina, do Boca Juniors e do Napoli (Itália)
  • Perna: Canhoto, fazia tudo com a perna esquerda – só com a esquerda. Era um ótimo cobrador de faltas
  • Chuteira: Número 39

Clubes em que atuou

  • Argentinos Jrs. (1976 a 1980)
  • Boca Juniors (1980 a 1982 e 1994 a 1997)
  • Barcelona (1982 a 1984)
  • Napoli (1984 a 1991)
  • Sevilla (1992 a 1993)
  • Newell’s Old Boys (1993 e 1994)

Títulos na carreira

11

Maiores conquistas

  • Campeão mundial sub-20 com a seleção argentina (1979)
  • Campeão mundial com a seleção argentina (1986)
  • Bicampeão italiano com o Napoli (1987 e 1990)
  • Campeão da Copa da Uefa com o Napoli (1988)
  • 365 gols em 695 jogos (média de 0,52 gol por jogo)

Copas do Mundo

4 participações (1982, 1986, 1990 e 1994), 1 título (1986), 21 jogos e 8 gols

 

Edson Arantes do Nascimento

Pelé
(Marcello Casal Jr./ABr/Wikimedia Commons)
  • Nasceu em 23/10/1940, em Três Corações (MG)
  • Altura: 1,74 metro
  • Peso: 70 kg (1970)
  • Olhar: Com sua visão periférica, é capaz de enxergar o que acontece ao seu redor ou mesmo a longa distância sem tirar o olho da bola
  • Liderança: Era um dos líderes do Santos e da seleção brasileira, embora não tenha sido o capitão
  • Perna: Destro, mas chutava bem tanto com a direita quanto com a esquerda
  • Chuteira: Número 39

Clubes em que atuou

Santos (1956 a 1974)

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New York Cosmos (1974 a 1977)

Títulos na carreira

59

Maiores conquistas

  • Tricampeão mundial com a seleção brasileira (1958, 1962 e 1970)
  • Bicampeão mundial com o Santos (1962 e 1963)
  • Bicampeão sul-americano com o Santos (1962 e 1963)
  • Pentacampeão da Taça Brasil com o Santos (1961 a 1965)
  • 10 vezes campeão paulista com o Santos (1958, 60, 61, 62, 64, 65, 67, 68, 69 e 73)
  • 1 282 gols em 1 375 jogos (média de 0,93 gol por jogo)
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