Jornais americanos publicam falsa lista de livros inventada por IA
A alucinação do robô associou autores verdadeiros com obras que não existem. Saiba quem foi o responsável por deixar o erro passar.

No começo de maio, circulou em parte da imprensa americana o Heat Index, um suplemento de 56 páginas com dicas para o verão deste ano (que, no Hemisfério Norte, vai de junho a setembro).
O especial apareceu em lugares como o Chicago Sun-Times e o Philadelphia Inquirer, veículos de grandes cidades americanas. E, dentre as reportagens, havia uma lista de indicações de livros.
Autores de peso apareceram na seleção, como Andy Weir (Perdido em Marte), Isabel Allende (A Casa dos Espíritos), Min Jin Lee (Pachinko), Taylor Jenkins Reid (Os Sete Maridos de Evelyn Hugo) e Percival Everett (As Árvores). Até aí, tudo bem: nada como uma ajudinha para decidir qual livro levar para a praia.
Não demorou, porém, para que percebessem a falha: dos 15 livros que o Heat Index recomendou, nove simplesmente não existem. E, dos seis que eram reais, um foi atribuído à autora errada (Maggie O’Farrell, quando deveria ter sido Charlotte McConaghy).
Além das obras inexistentes, a lista também incluía suspeitas citações de especialistas que, segundo o The New York Times, não puderam ser identificados. Há ainda indícios de que outras reportagens do caderno de verão também continham informações falsas.
Mas, afinal: o que aconteceu?
I love this story because it is a reminder that laziness is kryptonite for journalists. A Summer Book list in the Chicago Sun-Times + Philadelphia Inquirer listed real authors but none of the books were real. AI had created them.
“While generative A.I. has improved, there is… pic.twitter.com/sMuM3T1VXS
— Gerald Posner (@geraldposner) May 23, 2025
Apesar de publicado no Chicago e no Philadelphia, o Heat Index foi feito por terceiros: no caso, a King Features, um braço da Hearst, conglomerado de mídia dos EUA. Quem assumiu a culpa foi Marco Buscaglia, escritor a trabalho da King que disse ter usado inteligência artificial para produzir o conteúdo.
Buscaglia admitiu não ter checado a lista montada pela IA, e que usou a ferramenta em outros textos do suplemento. A King rompeu contrato com ele.
Ambos os jornais retiraram o conteúdo do ar e condenaram as reportagens falsas. As publicações, porém, não assumiram qualquer responsabilidade.
“Estamos profundamente perturbados que conteúdo gerado por IA tenha sido impresso junto com nosso trabalho”, disse em comunicado o sindicato de funcionários do setor editorial do Sun-Times. “O fato de serem dezenas de páginas desse ‘conteúdo’ é muito preocupante — principalmente para o nosso relacionamento com o público, mas também para a jurisdição do nosso sindicato.”
Não se sabe qual IA foi usada para fazer a lista falsa (o New York Times aposta na Claude, da empresa Anthropic). Mas não importa. No geral, inteligências artificiais generativas ainda estão sujeitas à alucinação: criar textos verossímeis, mas que são pura balela.
O que só reforça o dever de checar (e rechecar) tudo o que esses robozinhos andam escrevendo. De preferência, antes do jornal ir para a gráfica.