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Kim e Trump marcaram o date. Vai dar match?

Encontro dos líderes pode encerrar uma guerra que já dura 67 anos, e livrar o mundo do apocalipse. Que o bom-senso prevaleça.

Por Pedro Burgos e Alexandre Versignassi
Atualizado em 9 mar 2018, 13h42 - Publicado em 9 mar 2018, 13h39

A reunião entre Donald Trump e Kim Jong-Un, anunciada ontem à noite e que deve acontecer nos próximos meses, é literalmente um fato histórico. Não só por, em tese, acabar com a troca de bravatas nucleares entre os líderes, e dar início a uma relação mais diplomática, mas porque pode significar o fim de uma guerra que já dura mais de meio século.

Do ponto de vista Norte Coreano, o país está em guerra com os EUA há quase 70 anos. Ao final da 2a Guerra, em 1945, os EUA ocuparam a parte sul da península coreana; a União Soviética, então aliada dos americanos, a parte norte, que tinha sido invadida pelo Japão. A paz durou pouco, e em 1950 os dois lados entraram em um conflito que durou três anos, a Guerra da Coreia. Guerra que nunca acabou de fato: desde 1953 vigora um mero cessar-fogo, que continuou envolvendo as superpotências. Terminadas as batalhas, os EUA posicionaram dezenas de mísseis armados com ogivas nucleares na Coreia do Sul, apontados para a União Soviética. Os russos fizeram o mesmo ao norte, apontando os seus para os EUA.

Em 1991, URSS e EUA concordaram em tirar os seus arsenais de lá. Mas no meio dos anos 1990, depois da ascensão de Kim Jong-il (pai de Jong-un), a situação voltou a ficar tensa. Seguidos testes de mísseis fizeram com que a Coreia do Norte virasse não apenas uma incógnita, mas um pesadelo mundial. A tensão jamais cessou.

Desde então, a Coreia do Norte espera por uma reunião com a presidência dos EUA. Bill Clinton foi convidado por Kim Jong-il em 2000. Mas não foi. Enviou a sua Secretária de Estado, Madeleine Albright. Em 2017, Albright falou sobre a conversa ao New York Times: “Tive dois dias de conversas bastante intensas, nas quais Kim Jong-il se mostrou mais aberto em restringir seu programa nuclear do que esperávamos. Mas é claro: se fosse algo simples, já teríamos resolvido tudo há muito tempo. O problema fundamental é que os líderes da Coreia do Norte acreditam que as armas nucleares são essenciais para garantir sua sobrevivência”.

Aparentemente, eles estavam certos. Em 2005, a Coreia do Norte produziu sua primeira bomba atômica. De lá para cá foram pelo menos quatro testes nucleares públicos e dezenas de lançamentos de mísseis, de alcance cada vez maior. E em julho de 2017 esse bolo ganhou sua cereja: os norte-coreanos tinham construído um míssil balístico intercontinental (ICBM). Ainda não é certo que eles tenham mesmo tal arma – capaz de sair da Coreia e chegar a Los Angeles em 30 minutos. No início de agosto, porém, a TV da Coreia do Norte alertava: “Não há maior erro do que os EUA acreditarem que o seu território está seguro”.

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Trump respondeu no mesmo tom. Disse que, se a Coreia do Norte insistisse nas suas ameaças, ela iria sofrer com “fogo e fúria” de “um jeito que o mundo nunca viu”. Analistas apressados logo interpretaram o recado como uma ameaça de bombardeio nuclear na Coreia do Norte. Mas a verdade é que o presidente americano gosta de hipérboles, e outros membros do governo, como o secretário de Estado, Rex Tillerson, se esforçaram em minimizar as ameaças de Trump. Kim Jong-un também gosta de meter medo, mas já disse que só vai usar algum míssil se os EUA atacarem primeiro.

O convite de Kim Jong-un para um encontro, aceito por Trump, mostra que os dois lados seguem abertos a uma saída civilizada. Qual será essa saída? Bom, Kim afirmou recentemente aos líderes da Coreia do Sul que pretende abandonar seu programa nuclear “caso a ameaça militar contra a Coreia do Norte seja eliminada e a segurança do país, garantida. Por outro lado, não é a primeira vez que a ditadura norte-coreana diz que vai abandonar suas ogivas. E jamais fez isso.

As armas nucleares são, de certa forma, a garantia de Kim Jong-un. James Clapper, ex-diretor da Inteligência Americana, avalia que armas nucleares poderiam ter protegido Saddam Hussein ou Muammar Gaddafi, da Líbia. Ambos foram removidos por forças estrangeiras mais facilmente, já que os invasores não temiam retaliação nuclear. Se a Coreia do Norte mantiver a palavra e realmente desativar suas ogivas, a saída será simples. Se o desnuclearização não acontecer, que isso não mine o esforço para uma saída diplomática – a Coreia do Norte, afinal, é só mais um entre vários países com armas atômicas, e os líderes dos outros países com ogivas não são todos grandes exemplos de sanidade, a começar por Trump. O mundo, afinal, convive há mais de meio século com a hipótese de aniquilação nuclear. Só estamos vivos hoje porque o bom-senso prevaleceu. Que prevaleça novamente porque, se isso não acontecer uma única vez, a humanidade talvez não tenha uma segunda chance.

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