Assine SUPER por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Milionários estão pagando caro para beber água suja

Chamada de "água crua", a nova moda atrai desde fãs de teorias da conspiração até o pessoal ~good vibes~ do Vale do Silício. Mas pode dar muitíssimo errado.

Por Ana Carolina Leonardi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 3 jan 2018, 20h41 - Publicado em 3 jan 2018, 20h40

Em um dos últimos dias do ano passado, o New York Times publicou uma matéria sobre uma nova “tendência” despontando no Vale do Silício: a água crua. O preço dela recentemente subiu para até US$ 60 (R$ 195) a orbe.

Orbe? É, a água é vendida em uma bonita a embalagem redonda de vidro que abriga 10 litros do produto – que vive esgotando nos mercados de São Francisco.

Mas ainda não explicamos o que é água crua. É uma água mineral com gosto levemente adocicado… Ah, e que é vendida não filtrada, não tratada e não esterilizada.

E aí vem a única pergunta possível: por que diabos as pessoas estão pagando quase R$ 20 o litro por água suja?

É tudo culpa de um movimento chamado “consciência da água”. As pessoas estão perdendo a confiança nas fontes tradicionais de água – seja o governo, seja as empresas que engarrafam água mineral. Até aí tudo bem: se preocupar com a contaminação do sistema de abastecimento de água é legítimo… O problema é que as “denúncias” feitas pelo povo da água crua são teoria da conspiração pura. E a coisa pode sair pela culatra – e feio.

O homem por trás da água crua

A água da orbe é comercializada por uma empresa chamada LiveWater (e seu produto é comercializado com o conveniente nome de “A Fonte da Verdade”).

Uma visita rápida ao site da LiveWater mostra páginas e páginas de informação pseudocientífica. Um exemplo é a afirmação de que o fato da água ser rica em sílica, “prima” do silício usado na indústria, pode ajudar o cérebro de quem bebe a melhor armazenar informações – só falta chamar seu cérebro de HD externo.

O mais importante, porém, fica na última linha: todas as páginas do site têm um asterisco esclarecendo que nenhuma das alegações feitas ali foi avaliada por um órgão de saúde e segurança.

O New York Times entrevistou o fundador da empresa. Nascido como Christopher Sanborn, ele atualmente usa o nome gurusístico de Mukande Singh.

Continua após a publicidade

Aqui vai um resumo das crenças que levaram Singh a criar a LiveWater:

  1. Ele acredita que o governo quer envenenar a população com água
    Entre os “instrumentos de controle” jogados no sistema de abastecimento, estariam anticoncepcionais e o flúor adicionado à água seria capaz de controlar mentes.
  2. Aliás, ele defende que o flúor adicionado à água faz mal ao cérebro
    E estaria certo… Caso a água dos canos contivesse 20 vezes mais flúor do que tem na realidade. Um estudo encontrou efeitos negativos no excesso de fluoreto, com concentração acima de 30 mg/litro. A recomendação da OMS, seguida no Brasil, é de 0,5 a 0,8 mg/ litro, com limite máximo de 1,5 mg/litro).
  3. Ele acha que água “viva” precisa ficar verde em um mês
    Singh defende que os tratamentos feitos para eliminar microrganismos deixam a água “morta”, e que água de verdade deveria estragar em um intervalo curto de termo. A LiveWater, inclusive, fica verde após um mês – ou, como Singh prefere dizer, “após um ciclo lunar”.
  4. Ele acredita que as bactérias da sua água são “probióticos”
    De fato, existem bactérias benéficas. que fazem bem ao seu corpo. E seria ótimo dizer que certa água de certa fonte só tem este tipo de bactéria bacana.
    Mas água não tratada é pura e simples loteria: você não faz ideia do que pode ingerir, mesmo que seja água corrente e pareça cristalina. A E. coli do cocozinho do passarinho da linda fonte mineral pode escolher justamente o gole que você está prestes a engolir para se instalar. Isso sem falar no risco de giárdia, cólera e até hepatite A.Probióticos são mesmo importantes. Mas me faça um favor: filtre sua água e tome um Yakult.

Onde mora o perigo

O site Business Insider entrevistou um especialista em segurança alimentar sobre a moda da água crua. E a reação dele só pode ser descrita como “100% pistola”.

“[Todo mundo acha] tudo ótimo até que uma menininha californiana de 10 anos morra de cólera”, disse Bill Marler.

Para ele, essa tendência é consequência, exatamente, dos muitos anos de investimento em tratamento de água. Os californianos que estão abraçando a “causa” nunca tiveram que conviver com surtos causados por água não-tratada. Jamais conheceram alguém que teve cólera. Nunca se acostumaram a olhar para a água como algo potencialmente perigoso – a não ser, como vimos, pelos motivos errados.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.