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1993, o ano que entrou para o museu

Os computadores passaram os carros em vendas, viraram alvo da delinqüência e começaram a lançar as ramificações das artérias mundiais de fibras ópticas por onde vão circular os valores da sociedade pós-industrial.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h53 - Publicado em 4 jul 2009, 22h00

Flávio de Carvalho

As coisas mudam tão rapidamente no mundo da tecnologia que o museu da Intel, o maior fabricante mundial de microprocessadores para PCs, tem de ser reorganizado a cada quatro meses. Encravado bem no meio do Vale Silício, em San José, perto de San Francisco, na ensolarada Califórnia, o museu da Intel é uma instituição singular. Por uma porta do prédio saem os dispositivos e por outra passam para o museu equipamentos que ainda poderiam ser considerados moderníssimos em países como o Brasil.

O museu é reluzentemente novo: foi criado no ano passado para abrigar a história da Intel, que se confunde com a da própria dos semicondutores. Criada em 1968, a empresa deu um lucro no primeiro ano de apenas U$ 2.672. Foi uma história de apostas ousadas. O primeiro produto industrial da empresa foi um tipo de chip de memória regravável, 100 vezes mais cara que a usada na época. A confiabilidade, rapidez, pequeno tamanho e produção em escala acabaram triunfando. Este espírito, junto com novos produtos, como o primeiro microprocessador que tornou possível a existência dos computadores pessoais, levaram a empresa a ter hoje 25 000 funcionários em vários países e um faturamento de vários bilhões de dólares. O museu da empresa, logo no hall de entrada do prédio sede, reflete a dinâmica desta empresa que nunca pára de mudar e crescer. Em vez dos avisos de não tocar como a maioria dos museus, os dispositivos em exposição na Intel convidam o visitante a meter mãos à obra.

Pede-se mexer à vontade

O funcionamento dos semicondutores, por exemplo, é ilustrado por cabos com pontas de prova que o visitante pode manusear. Existe uma amostra de semicondutor num painel e conforme se inverte a polaridade das pontas o voltímetro conduz a corrente ou a bloqueia. Pronto, o visitante aprendeu na prática como funciona um diodo retificador, a chave liga e desliga básica da eletrônica, sem a qual não existiriam computadores.
Outro painel mostra um computador monstro, onde a corrida dos sinais elétricos é mostrada por rastro de luz. O que acontece quando o micro é ligado? O painel mostra um carreira de luzes indo para um chip chamado BIOS, que inicializa a máquina – quer dizer testa e ativa todos os seus componentes vitais, colocando-os de pronto para funcionar em equipe. Como é feita um conta? As luzes saem da unidade lógica, vão até a memória, carregam os números e as instruções, as executam e pronto.

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Mundo virtual e multimídia

Como não poderia deixar de faltar, o museu abriga estações de multimídia que podem ser operadas por leigos. Basta sentar frente a uma delas e ir seguindo as instruções na tela para conhecer o funcionamento da Intel, dos sistemas de processamento e da história da informática. Se você não captou bem o tópico sobre supercomputação pode pedeir repetição, sem constrangimento. Sons, imagens e movimento no museu dão uma imagem, ironicamente, do que deve ser uma escola do futuro.
O recinto abriga também as formas tradicionais deste tipo de instituição – as relíquias das primeiras vezes, como o primeiro microprocessador, o 4004, nascido de um estalo de criatividade.

Vaca empalhada

Como a história se confunde com a novidade no Vale do Silício, o visitante pode eventualmente ter a chance de assistir um acontecimento que marca época. Foi o que aconteceu com o grupo de jornalistas brasileiros em visita á sede da empresa no mês passado. Tínhamos saído do museu onde, inclusive, existe uma vaca empalhada que carrega um chip dedicado a registrar a sua produção leiteira, número de crias, datas de vacinas e outros detalhes. Além disso, há uma formiga aumentada 50 vezes para dramatização dos novos chips de memória Flash.

Comerciais da Embraer

Chega então – com considerável atraso – a atração máxima da excursão do grupo de jornalistas brasileiros – o húngaro Andrew Grove, 57 anos, principal executivo da empresa, um engenheiro químico formado na Universidade da Califórnia em 1963, autor de 40 papers e proprietário de várias patentes importantes sobre semicondutores.
“A Intel comprou uns Brasília da Embraer”, explicam os assessores, sabe lá se para justificar o atraso ou oara levantar nossos egos esmagados com a pujança da tecnologia que brota aos menores detalhes da rotina cotidiana em San José, coração do Vale do Silício, onde se concentram os maiores fabricantes mundiais de dispositivo e sistemas de informática. A ensolarada cidade, cercada por vinhedos responsáveis por vinhos da mais alta qualidade, comparáveis às seculares castas européias, gaba-se também de ter introduzido no circuito mundial uma modalidade vanguardista de delinquência, capaz de rivalizar com o tráfico de drogas.

Na mira dos Traficantes

Exatamente neste mês tinham sido perpetrados mais assaltos com armas pesadas contra depósitos de chips que em todo o ano passado “Trata-se de uma epidemia”, explica na TV um agente da FBI. Chips são pequenos e fáceis de contrabandear e valem mais que cocaína, explica o tira. O assalto do começo da semana, um lote inteiro de 486, teria rendido algo próximo de 1 milhão de dólares. Os chips, segundo o FBI, são mandados para Formosa com 80% de desconto e viram computadores baratinhos. “Essa é a modalidade de criminalmente mais dinâmica e com maior potencial de crescimento da atualidade”, enfatiza o agente do FBI, num eloquente testemunho de que em 1993 a indústria da computação foi definitivamente consagrada nas atenções deste exigente ramo da economia informal e de superlivre iniciativa nos Estados Unidos. Apresentado, recém-de-sembarcado de Brasília, Grove anunciou a iminência de outro marco histórico – daqueles que depois entram para os livros e almanaques de referência e que os alunos são obrigados a decorar na escola. Até o fim do ano, assegurou Grove, a venda de computadores, pela primeira vez, vai superar a de automóveis em todo o mundo. O ano de 1993 fecha com 40 milhões de PCs novos contra 35 milhões de carros zero quilômetro.

Três britânicas por segundo

O efeito materializa a metáfora preferida da indústria da informática e comunicações: a movimentação física das pessoas e empresas tende a ser substituídas por deslocamentos virtuais: teleconferência, televendas, o teletudo que caracteriza a sociedade pós-industrial, na qual o serviços é o mais importante da economia. O ano de 1994 foi marcado também pela arrancada na construção da superpista de dados proposta pelo presidente Bill Clinton. As redes de fibra óptica vão se tornar, na próxima década, as artérias vitais da economia norte-americana e dos países desenvolvidos, levando o som, imagem, teleprocessamento e todos os tipos de serviço numa velocidade de 3,4 gigabits – o equivalente a transmitir três enciclopédias britânicas por segundo.

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