A ciência no espaço sem astronautas
Os vôos tripulados são caros. O melhor jeito de fazer pesquisa lá em cima é lançar satélites e naves-robôs.
João Steiner
A conquista do espaço foi um marco do século XX. Ela teve início com os russos, que lançaram o primeiro satélite, o Sputnik, em 1957, e puseram o primeiro homem em órbita, Yuri Gagárin, em abril de 1961. Foi o ponto de partida histórico para uma das mais alucinantes aventuras da humanidade, que até o final de 1968 já havia levado setenta naves e satélites e vinte astronautas ao espaço. A arrancada culminou com a descida do americano Neil Armstrong na Lua, em julho de 1969.
A ciência se beneficiou muito com a perspectiva de trabalhar no espaço. O nosso próprio planeta pôde ser mais bem estudado com dados coletados por satélites. Para a Astronomia foi uma oportunidade de captar novas formas de luz provenientes das estrelas e das galáxias, como os raios X e infravermelhos. Esses raios não podem ser detectados aqui do solo porque não conseguem atravessar a atmosfera. Por fim, as sondas interplanetárias nos deram dados inestimáveis sobre a geologia de muitos mundos distantes.
Mas também é preciso lembrar os equívocos cometidos. Um deles foi a idéia de que enviar homens ao espaço nos ajudaria a fazer pesquisa científica de melhor qualidade. Basta ver a história do ônibus espacial americano que, supostamente, deveria baratear o transporte de astronautas. Essa previsão não se confirmou porque o transporte de passageiros exige naves grandes e precaução redobrada quanto à segurança. E isso sai caro, especialmente para os cientistas, que normalmente têm mais idéias na cabeça do que verba no bolso.
Não é por outro motivo que eles preferem projetar experiências que são operadas a partir da Terra por controle remoto, ou que podem ser executadas por naves-robôs, pré-programadas. Hoje, o custo desse tipo de experiência é uma pequena fração do de uma missão que leve passageiros. E deve cair cada vez mais com os avanços na miniaturização dos equipamentos e com os processos de automatização.
Infelizmente, não é possível miniaturizar a necessidade de garantir a sobrevivência humana no espaço. Assim, não há indício de que a pesquisa conduzida diretamente pela mão dos astronautas poderá ficar mais fácil no futuro. Nada disso quer dizer que não se deva programar e realizar viagens tripuladas que dêem continuidade à aventura humana rumo ao desconhecido. Apenas não podem ser planejadas sob a justificativa de que ampliam a pesquisa científica no espaço.
João Steiner é professor de Astrofísica do Instituto Astronômico e Geofísico da USP e vice-presidente do Projeto Gemini