Fabiana Zanni
Com leis severas, controle policial e investimento em tecnologia, o governo chinês tenta erguer um muro invisível entre a população e as portas que a Internet abre para o resto do mundo.
Usar a Internet livremente na China já não é bolinho. E deve ficar mais difícil ainda. Hoje, além da demora do telefone, há sites proibidos e uma marcação cerrada da polícia. Para piorar a situação, o país está criando uma rede interna de computadores, a China Wide Web. Com ela, o acesso vai ficar mais rápido, mas a censura tende a recrudescer.
Quando chegou à nação mais populosa do planeta, em 1994, a Internet foi muito bem recebida. Vinha modernizar o sistema de comunicação. O problema é que também ameaçava o controle da informação, um dos pilares de sustentação de regimes autoritários. O governo, então, se esmerou na construção de uma parede invisível (veja as guaritas vermelhas no infográfico) para impedir que a rede fosse usada plenamente.
A operação lembra o esforço do país, mais de 22 séculos atrás, para levantar uma monumental muralha contra os invasores do norte. Como aquela, no entanto, a muralha virtual não é tão difícil de transpor (veja as guaritas verdes) e, com a paciência de praticantes de tai chi chuan, os internautas já estão aprendendo a fazê-lo.
Os entraves e as brechas
Veja nas guaritas vermelhas os meios de censura à Internet e nas verdes as manobras para evitá-los.
Testa-de-ferro
Com um sistema de segurança chamado proxy dá para enganar o controle. Você só precisa copiar a configuração de um computador que tenha o mesmo sistema e esteja fora da China. Sua ligação vai parecer vir de fora e não sofrerá nenhuma censura.
Satélite
O sistema de censura chinês só funciona porque a Internet ainda usa linhas telefônicas. Se os planos de ligar a rede a satélites forem em frente, será muito mais difícil um país filtrar informações isoladamente.
Controle fora de casa
Metade dos 620 000 chineses que usam a Internet, navega no trabalho. Só que empresas, bares e outros locais públicos onde há computadores ligados à rede também filtram sites e registram quem acessou o quê.
Criptografia
É uma boa saída para o e-mail, que ajuda na circulação de artigos. A revista política Tunnel, feita no país, é codificada na íntegra e enviada para centenas de endereços.
Intimidação
Para tornar-se internauta é preciso mandar dados pessoais para o Departamento de Polícia da cidade e assinar o compromisso de não ler, reproduzir ou transmitir materiais obscenos ou que ameacem a segurança nacional. Os provedores de acesso também mandam seus cadastros para o Ministério de Segurança Pública.
Drible
Quando um site entra para a lista dos proibidos, muda-se de provedor e de endereço. A operação é repetida sempre que o novo endereço é identificado.
Ataque ao bolso
Com renda per capita de 750 dólares, a Internet é um luxo na China. Um computador barato custa cerca de 1 200 dólares e a associação a um provedor, 42 dólares mensais.
Rede fechada
Em três anos deve estar concluída a intranet China Wide Web, para a qual o país está investindo na ampliação da rede telefônica, na compra de máquinas e no treinamento de técnicos. O objetivo é fazer com que sejam acessados quase que só sites produzidos no país.
Ligações internacionais
Sai caro e é arriscado, mas quem tem coragem pode se associar a um provedor no exterior para burlar os controles locais.
Censura
Uma lista com mais de uma centena de sites proibidos é sempre atualizada. Hoje ela inclui o do jornal americano The New York Times, o da Anistia Internacional e o da revista Playboy. Para impedir o acesso, os provedores usam firewalls, sistemas normalmente adotados para proteger redes contra vírus e intrusos.
Exemplo histórico
A Grande Muralha também era furada por invasores.
A construção do mais famoso cartão-postal chinês começou no século III a.C. e se arrastou por vários séculos. O muro, com 7,5 metros de altura e 3,75 de largura, chegou a ter 6 000 quilômetros de extensão, servindo como escudo contra invasões das tribos nômades vindas do norte. Mais imponente que eficiente, apenas retardava os ataques, que acabavam furando portões desprotegidos.