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A poluição da nuvem digital

O armazenamento virtual de dados cresce todo ano e evidencia um problema: consumo de eletricidade. A nuvem, como é chamada, gasta mais energia que o Brasil todo. E a maior parte vem da queima de carvão

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h33 - Publicado em 21 jan 2013, 22h00

Edição e Reportagem: Felipe van Deursen Reportagem: Ismael dos Anjos

“Salve o meio ambiente, não imprima sem necessidade”. Quem nunca viu uma assinatura de e-mail desse tipo? Desde que virou um dos mantras sustentáveis mais comuns do mundo, empresas e pessoas passaram a migrar arquivos de papel, fotos e tantos outros registros para CDs, DVDs, HDs etc. Parte do problema estaria resolvida, que beleza – mesmo que essas mídias, é claro, também ocupassem cada vez mais espaço em armários, gavetas e prateleiras.

E aí, então, ela veio. Leve, fácil, prática. Para que gravar seus arquivos em um DVD facilmente riscável cuja vida útil é de alguns anos? É tão melhor simplesmente salvar textos, fotos, vídeos etc. em um serviço externo, podendo acessar a qualquer momento, de qualquer dispositivo com acesso à internet. Era mágico. E isso sem ocupar espaço na memória do seu computador. Eis a nuvem. Enfim estávamos livres de uma vez por todas da poluição causada por toneladas de papéis impressos, de toda aquela tinta, de embalagens desnecessárias e do espaço ocupado por discos rígidos e DVDs. Não poluiríamos mais. Só que não. A nuvem pode ser uma mágica eficiente e incrível, mas ela não brota do nada. Para fazê-la acontecer, é preciso outra tecnologia, também muitas vezes comparada à magia há alguns séculos: a eletricidade. E a eletricidade que alimenta a nuvem vem, na maior parte, da queima de carvão. A nuvem polui. E muito.

Cada vez que você posta uma foto no Facebook ou assiste a um vídeo no YouTube, no celular, no tablet ou no computador, todo um sistema de plataformas eletrônicas, conhecidas como data centers, é acionado. Essa infraestrutura é formada por dezenas de fileiras recheadas por servidores, que são sistemas de computação centralizadores que fornecem informações a laptops, tablets e celulares. Eles fazem, basicamente, a nuvem funcionar. E ela, é claro, não para nunca. Seu consumo de energia idem. Em 2010, um estudo do Greenpeace estimou que essa demanda era de 623 bilhões de kWh. Os mais de 2 bilhões de pessoas na internet consomem mais energia do que grandes países inteiros, como Brasil, Índia e Alemanha. E isso deve aumentar. “Tirando seu caderno, tudo está migrando para a nuvem. Suas músicas, fotos, sua agenda”, diz Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de clima e energia do Greenpeace Brasil. Mas essa é uma fração pequena do consumo de energia. De acordo com uma pesquisa da empresa de consultoria McKinsey & Company, a maior parte dos centros de dados tradicionais emprega apenas de 6 a 12% dessa energia no processamento de dados. Todo o restante serve para manter o sistema de sobreaviso para atender a picos de acessos e evitar interrupções no fluxo de dados. Em suma, para que sites de notícia não deem pau durante as eleições americanas, por exemplo, há um gasto brutal de energia. E a maior questão é que 45% da matriz energética dos Estados Unidos, lar da maior parte dos mais de 30 milhões de data centers do mundo, vem do carvão mineral queimado em usinas termelétricas, que emitem gás carbônico e contribuem para as mudanças climáticas causadas pelo efeito estufa. Mas há uma boa notícia: a internet pode continuar funcionando (e crescendo) com menos poluição. E isso já está acontecendo.

NAÇÃO INTERNÉTICA
Se a internet é suja, a maior parte da culpa é das gigantes do setor que usam fontes de energia não renovável. Microsoft, Amazon, Twitter e HP, entre outras empresas de tecnologia, costumam ter notas negativas no relatório Quão Limpa é sua Nuvem?, feito pelo Greenpeace e um dos principais avaliadores de práticas sustentáveis de empresas de tecnologia. A pressão feita pela ong e outras instituições já está surtindo efeito. Cobrados, Google e Facebook já deram sinais de um uso mais responsável de energia. Depois de ser tido como mau exemplo pela falta de transparência, o Facebook passou a abrir parte de seus dados. De acordo com números da rede social, o consumo de energia de seus data centers em 2011 foi de cerca de 509 milhões de kWh, o equivalente ao de pequenos países inteiros, como Maldivas. Já o Google é maior. Estima-se que ele tenha 40 data centers, enquanto o Facebook usa menos de 15 – os números não são exatos, pois os dados a respeito são cercados de mistério. Em 2010, o Google consumiu 2 billhões de kWh, mais que todas as 700 ilhas das Bahamas.

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É muita coisa. E, para poluírem menos, essas empresas atacam em duas frentes. A primeira é mudar as fontes de energia. A segunda, gastar melhor isso. Ou seja, aumentar o índice de efetividade da energia.

INOVAÇÃO VERDE
Há alguns anos, os centros de dados eram montados privilegiando fatores como preço dos terrenos, incentivos fiscais e a oferta de fontes de energia baratas e confiáveis, independentes de sua origem. Hoje, fatores como clima e disponibilidade de água têm papel preponderante. Em 2011, o Google, valendo-se de antigos túneis construídos por uma fábrica de papel, inaugurou um data center no litoral da Finlândia. As máquinas usam a própria água do mar para controlar a refrigeração de suas máquinas, antes de devolvê-la em uma temperatura que não danifique o ecossistema (veja outra inovação do Google na página 14). Já o Facebook inaugurou, em 2011, um centro de dados que dispensa o ar condicionado convencional, até então uma necessidade de qualquer data center (eles normalmente são mantidos a 14ºC, para evitar superaquecimento).As máquinas filtram o próprio ar disponível no entorno da fábrica para esfriar os equipamentos e, assim, tornam a operação 24% mais eficiente. O Facebook planeja inaugurar, em 2014, um megacentro de dados europeus em Lulea, na Suécia, a cerca de 100 quilômetros do Círculo Polar Ártico. A estrutura vai usar o clima da região para manter a temperatura e a umidade adequadas às operações. “É natural do setor de tecnologia ser mais receptivo a mudanças sustentáveis. Mais do que áreas tradicionais do mercado”, diz Baitelo. “A indústria ficou muito mais eficiente nos últimos anos”, explica Simon Mingay, vice-presidente do Gartner, instituto de pesquisas na área de tecnologia da informação. As melhores maneiras de lidar com esse panorama são mesmo aumentar a eficiência, adotar fontes de energia renováveis, equalizar gastos de água e dispensar geradores e backups movidos a diesel para diminuir as emissões de gás carbônico. A outra opção, nada viável, seria deixar de lado os avanços tecnológicos que a nuvem propicia. Alguém aí está a fim de ficar sem suas centenas de fotos no Facebook? “Se alguma coisa vai revolucionar a geração de energia limpa, são as tecnologias avançadas. E elas derivam de estudos, pesquisas e avanços computacionais que, evidentemente, consomem energia”, explica o futurista especializado em tecnologia Michell Zappa. “Invista em ciência para fazer melhor uso da energia existente no planeta e alavancar o potencial da raça humana. Isso sim vai fazer diferença em longo prazo”.

VIDA LONGA, USUÁRIO!
O uso crescente de e-mail e redes sociais para armazenar arquivos às vezes é visto como vilão no debate sobre o consumo de energia dos data centers. Mas, antes de apagar seus blogs, álbuns de fotos e perfis online, saiba que não é bem assim. “A noção de que é preciso apagar fotos ou perfis desatualizados é pura perda de tempo. Primeiro porque tais informações raramente são realmente deletadas dos bancos de dados – elas permanecem armazenadas com uma bandeira indicando que foram apagadas”, diz o futurista Michell Zappa. “Depois, porque vivemos em um mundo de abundância. A quantidade de dados trafegando pela internet é tão inimaginavelmente grande que o ato de apagar seu ‘lixo digital’ se compara com um átomo de uma gota d’água no oceano”.

O TAMANHO DA SUJEIRA
Maiores consumidores de energia elétrica (em bilhões de kwh)

EUA – 3 923
China – 3 438
Rússia – 1 023
Japão – 925
Nuvem – 623
Brasil – 404

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– 120 Wh por mês é quanto um usuário comum do Google consome. Isso equivale a uma lâmpada de 60 W ligada por 3 horas. Parece pouco, mas em se tratando do maior site do mundo, com mais de 1 bilhão de buscas por dia, o consumo total é de 2 bilhões de kWh por ano, o mesmo que Rondônia.

– O Facebook diz que um usuário do site gasta em um ano energia suficiente para esquentar uma xícara de café. Soa ridículo. Mas a rede social tem mais de 1 bilhão de usuários e consome quase um Acre de energia: 509 milhões de kWh

– E a nuvem vai crescer. O tráfego quadruplicará em cinco anos. 6,6 zettabyte, ou 6,6 trilhões de gigabytes, é o equivalente a toda a população do mundo em 2016 (7,5 bilhões de pessoas) vendo 2,5 horas de vídeo em HD na internet todos os dias do ano.

Para saber mais
How Clean is Your Cloud?, Greenpeace
https://abr.io/nuvem

Data Center Knowledge
https://www.datacenterknowledge.com

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