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Abaixo a tecnologia burra!

Os avanços tecnológicos sempre tiveram o objetivo de melhorar a vida do homem na Terra.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h33 - Publicado em 31 jan 2002, 22h00

Edson Aran Redator-Chefe da Revista Vip

Uma estepe da Ásia, 120 000 anos a.C. Você e seus primos Homo sapiens encaram os vizinhos neandertais. Disputa de terras, naturalmente. Vai correr sangue. Mas vocês estão preparados. Gronk, o cara mais criativo da tribo, aparece com uma idéia revolucionária: “E se a gente amarrasse pedras afiadas na ponta de uma vara? E se a gente, em vez de morder e rosnar, usasse as ‘lanças’ (o nome é dado por Gronk) para furar os inimigos?” Você segura a lança e se prepara para a batalha. Então, aparece um aviso luminoso na arma: “Error 404. Retry, Ignore, Fail?” A lança deu pau. Sua tribo é massacrada pelos neandertais. O Homo sapiens deixa de ser a espécie dominante no planeta.

Ridículo, você diz? Então, por que você acha normal que o seu supercomputador com 800 gigamegas de memória, tela siliconada de cristal líquido e tração nos quatro drives faça exatamente a mesma coisa? Por que você aceita tão calmamente que os artefatos tecnológicos atuais (muito mais caros que uma lança) entrem em pane? Onde foi que nós erramos?

Os avanços tecnológicos sempre tiveram o objetivo de melhorar a vida do homem na Terra. Ligar o interruptor é mais fácil que encher lampiões de querosene e acender um por um. Abrir a torneira é melhor que carregar baldes nas costas. A “tecnologia que complica a vida” é uma invenção recente, do final do século 20. Eu, pessoalmente, acho que o marco zero da tecnologia burra é o forno de microondas. Aparelho fantástico desenvolvido pela Nasa. Compre hoje o seu, freguesa. Não é necessário prática nem habilidade. O forno produz calor ao direcionar feixes de microondas que fazem vibrar as moléculas dos alimentos e serve para… esquentar água. Nada mais. Tudo o que sai de dentro dessa invenção do capeta parece uma sopa primordial, de aspecto repugnante, com gosto de mingau de papel.

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E o que você me diz do controle remoto de TV com 365 funções diferentes? Para aprender a usá-lo, é preciso um curso de pós-graduação em Nerdês Avançado. É mais incompreensível que letra de música do Caetano (“o pintor pogogan” etc.). E tudo o que você precisa, tudo o que você usa, são três botões: o liga-desliga e os dois que mudam o canal.

A tecnologia burra não quer melhorar a sua vida, meu caro. Nunca quis. O valor dos produtos é definido pela tecnologia supostamente avançada que eles possuem e nunca pelo sentido prático dos mesmos. Deu para entender? Imagine o seguinte: você acaba de inventar a roda. É um troço revolucionário, que vai mudar definitivamente a forma como os seres humanos se locomovem. Eu sou seu concorrente. Olho aquilo, me reúno com meus técnicos e especialistas em marketing e, dois meses depois, nós lançamos a sensacional Roda 2.0! A Roda 2.0 faz tudo o que a roda tradicional faz, só que melhor. É quadrada, para seguir a tendência mundial do design industrial. Sendo quadrada, ela vai rodar, quer dizer, quadradar por muito mais tempo útil (“o desgaste natural torna o produto mais competitivo”, me garantiu a moça loira do marketing).

E para você tirar melhor proveito da sensacional Roda 2.0 ela vem com o incrível Manual do Usuário da Roda 2.0! São 816 páginas em aramaico primitivo com legendas originais em sânscrito! Aprenda a programá-la. Aprenda a evitar vírus! Você acha graça? Então, por que leva a sério esta vingança-dos-nerds-em-forma-de-gente chamada Bill Gates? O Windows é um cavalo de Tróia: tem 8 374 programas diferentes. Um deles calcula o fluxo de água na privada e faz estudos comparativos com sua conta bancária. Não serve pra nada, é claro. Mas acrescenta um valor agregado ao sistema operacional, que o torna 250% vezes mais caro. Para aprender a usá-lo é só ler o manual de 1 302 páginas. Ah, e vem todo escrito em mandarim.

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E a tecnologia WAP? É fantástica. Você quer uma pizza? Nada mais fácil. Acesse a internet numa minitela sem definição. Procure o minissite da pizzaria, entre no minimenu, escolha a pizza e digite o número do cartão de crédito no miniteclado. A operação leva, mais ou menos, uns 30 minutos. Se você ligar e pedir uma “meia quatro queijos, meia calabresa”, leva cinco minutos. Faz sentido pra você?

Não estou sugerindo, claro, que mudemos todos para uma cabana no meio do mato, adotemos o nome de Unabomber e passemos a mandar cartas-bombas para os fabricantes de tecnologia burra. Isso não adianta. O Bill Gates não cuida pessoalmente da correspondência. E mesmo se cuidasse, certamente não teria Q.I. suficiente para entender como é que se faz para abrir um simples envelope.

Os artigos publicados nesta seção não traduzem necessariamente a opinião da Super.

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Frase

“Por que você aceita que a tecnologia mais avançada entre em pane?”

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