Maria Fernanda Vomero
O pior desastre da história da aviação brasileira aconteceu em junho de 1982 – um Boeing-727 da Vasp bateu num morro perto de Fortaleza, no Ceará. Todos os seus 142 ocupantes morreram. A causa: erro dos pilotos.
“Ninguém inventou ainda um homem ou uma máquina à prova de erro”, comenta Leônidas de Souza, professor da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Somados, os erros dos pilotos, da torre e dos órgãos de controle do tráfego aéreo respondem por 80% dos desastres. Apesar dos cuidados com a segurança, o número de acidentes tende a aumentar, acompanhando a expansão do tráfego aéreo. Só no Brasil, o movimento nos aeroportos deve crescer 70% até 2010. Hoje, um avião decola ou pousa a cada meio minuto em algum aeroporto do planeta.
Mas você não precisa checar o seguro de vida toda vez que embarcar. Os acidentes continuam raros. Em 1998, 1,3 bilhão de passageiros foram transportados em 18 milhões de vôos comerciais. Desse total, só dez viagens terminaram em tragédia. Para atingir a probabilidade de morrer em um desastre, você teria de voar 3 milhões de vezes.
“As empresas investem pesado em treinamento de pilotos e os jatos modernos são praticamente à prova de falhas”, afirma Souza. Para resolver o problema do congestionamento do espaço aéreo, a solução é a melhoria dos sistemas de navegação. Assim, mais aviões poderão voar com segurança num espaço onde, hoje, só cabe um.
Ouvido blindado
Nada mais impróprio que chamar de caixa-preta aquele aparelho que ajuda a descobrir a causa de um acidente. Na verdade, as caixas-pretas são dois gravadores blindados, chamados CVR (Gravador de Voz da Cabine, em inglês) e FDR (Gravador de Dados do Vôo). O primeiro registra todas as conversas dos pilotos entre si e com as torres. O segundo armazena informações como hora, altitude e velocidade. A propósito, eles são alaranjados ou vermelhos, para facilitar a localização em caso de desastre.
Tragédias brasileiras
Fevereiro de 1960
Um Douglas da Real Aerovias bate num avião da Marinha americana no Rio de Janeiro, matando 61 pessoas.
Novembro de 1962
Um Boeing-707 da Varig se choca contra uma montanha perto de Lima, no Peru. Todos os 97 ocupantes do avião morrem.
Julho de 1973
Outro 707 da Varig cai e explode em Orly, na França, fazendo 122 mortos.
Abril de 1980
Cinqüenta e quatro pessoas morrem na queda de um Boeing-727 da Transbrasil em Florianópolis, Santa Catarina.
Junho de 1982
Boeing-727 da Vasp explode com 142 ocupantes ao bater numa serra a 30 quilômetros de Fortaleza, no Ceará. Ninguém sobrevive.
Setembro de 1989
Um Boeing-737 da Varig cai no meio da selva em São José do Xingu, Mato Grosso. Onze mortos, 54 sobreviventes.
Novembro de 1996
Um Fokker-100 da TAM cai sobre casas 20 segundos depois de decolar do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, fazendo 97 vítimas fatais.
Estradas no céu
Da decolagem ao pouso, o trajeto dos aviões é rigorosamente controlado.
Corredores imaginários
Para ir de um lugar a outro, o piloto não escolhe o caminho que quer. É obrigado a andar pelas aerovias, estradas fictícias traçadas no céu a partir do solo. Sua largura varia entre 14 e 75 quilômetros.
Sanduíche de vento
Imagine uma rodovia com vários andares, onde os carros vão de A para B em alguns deles e de B para A em outros. As aerovias são assim, divididas em níveis de vôo. Neles, os aviões estão separados por alturas mínimas de 300 metros.
Cruzamentos perigosos
Como nas estradas do chão, aerovias diferentes às vezes se cruzam. Como não tem semáforo no céu, nessas ocasiões os órgãos de controle aéreo checam se o caminho está livre. Se não estiver, pedem que um dos aviões altere seu nível de vôo para evitar uma colisão.
Faróis de rádio
As aerovias só passam sobre lugares bem definidos em terra, onde existem estações de rádio conhecidas como VOR (sigla em inglês para Localizador Omnidirecional de Altíssima Freqüência). Elas enviam sinais eletromagnéticos para indicar o curso do vôo.
Ah, o oceano…
Em viagens longas como de São Paulo a Paris, o avião tem de atravessar oceanos, onde não há sinais de rádio para guiá-lo. Aí ele usa o Sistema de Referência Inercial – IRS, na sigla em inglês –, que fornece, por computador, dados de navegação a todo instante, ajudando o piloto a se orientar sem ajuda do solo.