Amazônia via microondas
As imagens da região serão mais nítidas quando os canadenses colocarem no espaço o satélite Radarsat, dotado de um sistema de microondas.
Mesmo com as atenções do mundo voltadas para a região ama¬zônica, existem áreas que até hoje não foram vistas de cima. Culpa principalmente das nuvens, que formam uma barreira para a maio¬ria dos satélites usados na obten¬ção de imagens dessa região. Mas, a partir de 1995, novos olhos irão se voltar para a Amazônia. O Radarsat, que será lançado pelos cana¬denses, enviará imagens nítidas porque, em vez de detectar radia¬ção visível e infravermelha como a maioria dos satélites, será dotado de um sistema de microondas. O comprimento de onda da luz visível ou infravermelha é muito pequeno, quase sempre menor que as gotículas de água ou gelo que formam a nuvem. “Quando as radi¬ações visíveis e infravermelhas encontram uma nuvem, há um choque com as gotículas, ocorrendo um espalhamento. Uma parte pequena consegue atingir a superfície da Terra e ser novamente refletida para o satélite. Em regiões com tensa cobertura de nuvens é im¬possível, então, formar uma imagem”, explica o engenheiro Ulf Walter Palme, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais — INPE — em São José dos Campos, SP. Já no caso das microondas, com comprimento de onda muito maior, praticamente não há espalhamento da radiação.
Elas podem até esbarrar nas go¬tículas de água ou gelo, mas vence a lei do mais forte e as microondas acabam atingindo seu alvo na Ter¬ra. O Radarsat irá passar sobre a região amazônica a cada seis dias.
Para que o Brasil esteja pronto para interpretar as imagens enviadas por esse satélite, foi realizado em abril o projeto SAREX, sigla em inglês de Experimento de Radar para a América do Sul. Técnicos do Cen¬tro Canadense para Sensoriamento Remoto e do INPE, que será res¬ponsável pela recepção e distribui¬ção das imagens do satélite no Brasil, sobrevoaram a região ama¬zônica em um avião dotado de equipamento de microondas semelhan¬te ao do satélite Radarsat. Foram cerca de 25 horas de vôo para obter imagens em quatro regiões prede¬terminadas: Tucuruí, Carajás, Ta¬pajós e Acre. “Procuramos selecio¬nar áreas que englobassem os ex¬tremos quanto a ambiente, relevo vegetação”, diz Waldir Renato Paradella, geólogo do INPF e co¬ordenador da área de Carajás.